Terra de ninguém: cidades fronteiriças têm baixos índices de segurança, saúde e educação

Os moradores dos municípios de Bela Vista, Coronel Sapucaia, Corumbá, Mundo Novo, Paranhos, Ponta Porã e Porto Murtinho, que fazem fronteira com o Paraguai, sabem que as condições de segurança, saúde e educação são ruins há muito tempo. Porém, agora o que todos eles já sabiam foi revelado para todo o Brasil e ratificado por meio de levantamento inédito realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF) a partir de indicadores oficiais.

Trata-se do Diagnóstico do Desenvolvimento das Cidades Gêmeas do Brasil, que traz uma radiografia das áreas limítrofes com os países vizinhos. Pela pesquisa, o índice de homicídios de Paranhos é de 109,7, quase quatro vezes a média nacional, que é de 27,85 mortes para cada cem mil habitantes. O número de mortes por armas de fogo no município é de 58,51, quase três vezes a incidência de 20,31 registrada no País. Em Porto Murtinho, a taxa de reprovação do Ensino Médio chega a 31%, mais do que o dobro do índice médio brasileiro de 11,90%.

O estudo mostra que os municípios sul-mato-grossenses apresentam os índices mais graves em vários indicadores. Os números de homicídios e mortes por armas de fogo são os mais altos dentro do universo pesquisado. Outro indicador preocupante é o número de suicídios, também o maior encontrado na região fronteiriça, chegando a 29,25 para cada cem mil habitantes em Paranhos e 20,64, em Bela Vista. A média nacional é de 5,13.

O índice de internações hospitalares também chama atenção na fronteira, chegando a 99,2 a cada mil habitantes em Mundo Novo, quase o dobro da média brasileira de 51,3. Os dados, bem conhecidos para quem mora na região de fronteira, chocou o presidente do IDESF, Luciano Stremel Barros. “Há uma correlação desses números, sendo que os dados de violência indicam que toda uma condição social que teria que vir antes – de educação, de saúde e de crescimento econômico – é falha, gerando esses indicadores preocupantes”, afirmou.

O estudo mostrou que nos municípios do Estado a administração municipal tem um grau de dependência acima de 70% de verbas federais e estaduais, o que indica baixos índices de arrecadação. Em Coronel Sapucaia, 90,27% dos recursos municipais são originados dessas transferências. No conjunto, os dados apontam que a falta de perspectiva econômica dessas regiões é fator que leva muitos jovens a ingressarem em atividades ilícitas. É de Coronel Sapucaia, também, o maior índice de acidentes no trânsito, de 46,93, para uma média 16,93 entre as cidades gêmeas brasileiras.

Em uma região, onde o crime organizado é quem dá as cartas, os índices estão dentro do esperado. O abandono do Poder Público deixa margem para o crescimento do tráfico de drogas e de armas. Enquanto, os cidadãos de bens têm de conviver com a situação e esperar que a situação melhore.

 

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