A quebra de sigilo telefônico do casal Stephanie de Jesus da Silva, 24 anos, e Christian Campoçano Leitheim, 25 anos, mãe e padrasto da menina Sophia de Jesus Ocampo, de 2 anos, demonstrou que os dois sabiam das implicações da morte da criança e tentavam criar uma história. “Inventa qualquer coisa, diga que ela caiu no parquinho”, escreveu ele, padrasto da criança.
Na coletiva, a Polícia Civil também esclareceu que a menina morreu entre 8h e 9h do dia 26 de janeiro, mas somente foi levada ao posto de saúde da Vila Nasser às 17h daquele dia. Neste período, o casal tentou criar uma história que explicasse a morte.
Stephanie da Silva e Christian Campoçano foram indiciados por homicídio qualificado por motivo fútil, pela condição do sexo feminino e pela vítima ser menor de 14 anos. No caso da jovem, mãe da criança, ainda foi imputada a omissão de socorro.
O inquérito foi relatado e entregue ao Judiciário por conta do prazo legal, mas ainda está pendente de alguns laudos, segundo detalhou a delegada Anne Karine Trevisan, titular da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), em entrevista coletiva nesta manhã.
Segundo laudo necroscópico, a criança morreu entre 9h e 10h do dia 26 de janeiro e que sofreu “traumatismo raquimedular em coluna cervical e violência sexual não recente”. A polícia não informou se o estupro ocorreu há dias ou semanas antes da morte.
Anne Karine explicou que ainda faltam alguns dados para complementar o inquérito, como o laudo da perícia feita na casa, na Vila Nasser, do computador, dois celulares e um pen-drive apreendidos e do material colhido no órgão genital da menina, sob responsabilidade do Ialf (Instituto de Análises Laboratoriais Forenses).
A delegada adiantou algumas conversas encontradas nos celulares do casal feitas a partir da morte da menina. Stephanie e Christian tentavam criar história para justificar as lesões e decorrente morte da criança.
Em um dos trechos, além da fala de Christian sobre a queda no parquinho, ele ainda faz ameaças. “Ou fala a verdade e eu vou me matar; ou fala a verdade eles vão me prender”, consta. “Eles sabiam que ela estava morta e a levaram para a UPA”.
Segundo Anne Karine, já foram ouvidas de oito a nove pessoas, entre elas, o motorista do aplicativo que levou a mulher e a criança para a UPA. “Ele não escutou nada, nem chorou da menina e estranhou, mas, mesmo assim, foi para a UPA, achou que ela estava doentinha”.
Stephanie e Christian também foram ouvidos. “Não demonstraram arrependimento, eles foram frios”. Christian se manteve em silêncio na fase de inquérito. A violência contra a menina também causou comoção entre os policiais. “Foi uma situação que mexeu muito, somos seres humanos”, disse Anne Karine. “É um caso gravíssimo, de questionar até que ponto, até onde vai o ser humano”, avaliou Roberto Gurgel, delegado-geral da Polícia Civil, que também estava na coletiva.
A investigação ainda está em andamento. Um procedimento foi aberto para apurar se o filho de Christian, de 4 anos, também foi vítima de violência. O menino passou por depoimento especial, mas a delegada não deu detalhes. “Nós vamos manter sigilo para preservação da criança, que foi muito exposta”.