O “doleiro dos doleiros”, tinha conta irregular e contava com omissão de autoridades no Paraguai

O doleiro brasileiro Dario Messer, mais conhecido como o “doleiro dos doleiros”, está preso e sendo acusado de liderar uma esquema de lavagem de cerca de R$ 6 bilhões no Brasil. Porém, é no Paraguai que ele mantém bens avaliados em aproximadamente R$ 1,5 bilhão e onde realizou inúmeras operações financeiras, as quais estão hoje sob investigação do MP (Ministério Público) do país vizinho.

Messer teve sua prisão decretada no Paraguai em maio de 2018, mas isso aconteceu dias depois de a Justiça brasileira também determinar sua prisão preventiva no Brasil, onde é investigado na “Operação Câmbio, Desligo”, uma das fases da Lava Jato no Rio de Janeiro. Já no Paraguai, além da investigação no MP local, ele foi alvo de uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que reuniu deputados e senadores em busca de informações sobre suspeitas envolvendo o doleiro brasileiro.

O relatório final desta CPMI foi divulgado em abril e uma das principais conclusões da investigação é que Messer contou com a colaboração de diferentes autoridades e funcionários públicos do Paraguai para movimentar recursos usando bancos do país vizinho. A defesa de Messer no Brasil alega que ele é inocente, enquanto no Paraguai a advogada que defende Messer não respondeu aos contatos da reportagem.

Conta irregular

De acordo com a investigação da CPMI, em 2011, Messer conseguiu abrir uma conta no BNF (Banco Nacional de Fomento) do Paraguai, instituição financeira estatal, mesmo sem cumprir os requisitos para isso. Na época, o doleiro não era cidadão paraguaio, não apresentou sua identidade e mesmo assim virou cliente do banco administrado pelo governo.

Naquele ano, Messer já respondia a pelo menos dois processos por lavagem de dinheiro e evasão de divisas no Brasil. Apesar disso, contrariando a normas bancárias paraguaias, o BNF não emitiu um alerta de operações suspeitas ligadas ao brasileiro. No BNF, contas do doleiro enviaram e receberam cerca de US$ 40 milhões (R$ 160 milhões).

As transações envolveram uma empresa aberta nas Ilhas Virgens Britânicas, local que é considerado um paraíso fiscal. Transferências foram feitas o Brasil, Suíça, Luxemburgo, EUA e Alemanha. “Apesar de Messer ser um cliente e alto risco, pôde operar usado o BNF para diversificar seu dinheiro de origem duvidosa, transferir a diferentes empresas e reintegrá-lo”, informou a CPMI.

Ouvido por parlamentares paraguaios, o ex-presidente BNF, Carlos Pereira, citou questões técnicas e operacionais para justificar as falhas na segurança. O telefone celular de Pereira é um dos citados na lista de contatos do telefone de Messer obtido em investigações realizadas no Brasil.

Influências

 Ainda de acordo com a CPMI, quando relatórios sobre atividades de Messer foram emitidos, não foram levados ao Ministério Público do Paraguai. Há hoje uma investigação em curso sobre a Secretaria de Prevenção a Lavagem de Dinheiro do Paraguai por possível cumplicidade de autoridades do órgão com o doleiro.

A investigação sobre a secretaria está focada principalmente na suspeita de adulteração de um relatório produzido pelo órgão. O documento, inicialmente, citaria relações de Messer com o ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes, que é apontado como sócio do doleiro. Cartes já disse ser “irmão espiritual” do doleiro, tamanha a amizade dos dois.

“Foram ocultadas informações sensíveis a respeito de empresas de Messer”, diz o relatório da CPMI. “Se confirmada a adulteração, estaria confirmada a cumplicidade para que Messer operasse sem nenhum controle.”

Conexão Brasil

O doleiro também operava fora do sistema bancário no Paraguai. Ilan Grinspun, que está em prisão domiciliar no Paraguai, é quem fazia transações em dinheiro vivo para Messer. Era também o responsável por trazer recursos do doleiro ao Brasil.

Messer mantinha dinheiro guardado em caixas de sapato no Paraguai. Grispun e outros atravessavam a fronteira com esse dinheiro em malas quando o doleiro determinava. Entravam no Brasil de carro ou avião particular, despistando a polícia.

No Brasil, eles convertiam os recursos para reais. Depositavam os valores em caixas eletrônicos para que não precisassem se identificar ou identificar a origem dos recursos.

De acordo com investigações do MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro), dinheiro depositado em contas abertas em nomes de terceiros, mas administradas por doleiros, eram usadas no esquema de pagamento de propinas por obras públicas investigadas pela Lava Jato do Rio.

Messer está sendo acusado pelo MPF-RJ justamente por organizar todo o mercado ilegal de movimentação de recursos oriundos da corrupção investigada no estado, com as revelações sobre o ex-governador Sérgio Cabral.