O ambientalista Carlos Nobre, o doutor em Biologia Vegetal Sandro Menezes e o professor associado do Instituto de Biociências da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), Pierre Girard, alertam que a decisão do governo federal de lançar concessão da hidrovia do Rio Paraguai e, consequentemente, liberar a dragagem do rio pode acabar com o Pantanal de Mato Grosso do Sul.
Além deles, outros estudiosos e defensores do meio ambiente que sempre foram contrários a procedimentos invasivos no leito do rio, como a dragagem, necessária para a navegação comercial, também criticam a iniciativa e destacam os efeitos da mudança climáticas.
Estudo de viabilidade da concessão da hidrovia coloca as manutenções (dragagens e derrocagens) como fundamentais para a navegação comercial. Mas muito se questiona sobre os impactos ambientais das obras, principalmente na época em que o clima extremo gera cenários inéditos no Pantanal.
“Dragar o rio significa aumentar a velocidade do fluxo da água para facilitar a navegação e consequentemente a vazão de água aumenta e diminui o tempo da área inundada. A água vai embora mais rápido. Agora num cenário de eventos climáticos extremos, como temos visto, teremos um Pantanal mais seco e com consequências diretas em toda a biosfera”, afirmou o doutor em Biologia Vegetal Sandro Menezes.
Nunca ocorreu dragagem no Rio Paraguai em Mato Grosso do Sul e não existem licenças ou autorizações ambientais emitidas para dragagem e derrocamento no trecho. Logo ao lado, no Rio Paraguai no Mato Grosso, as dragagens têm acontecido apesar do pouco apelo comercial da hidrovia.
Quem trabalha com meio ambiente no Tramo Norte do rio faz os mesmos questionamentos sobre a dragagem. “Precisamos evitar que a água saia rapidamente do Pantanal”, disse o professor Pierre Girard.
Em agosto de 2024, cerca de 40 cientistas especializados no Bioma Pantanal elaboraram uma carta aberta à União, onde consideraram “extremamente temerário” que sejam realizadas operações de dragagem no leito do rio em meio à escassez hídrica excepcional.
“As alterações devido às dragagens no canal do rio podem desconectar o rio de sua planície de inundação, encurtar, por conseguinte, o período de inundação e reduzir as áreas úmidas, resultando em grave degradação da diversidade biológica e cultural do Pantanal, que são destaques globais. Os sedimentos do rio são em sua maioria arenosos e exigem dragagem permanente”, dizia a carta.
Por fim, citam estudos internacionais que apontam para dragagem contínua resultando na redução significativa da conectividade entre o rio e suas planícies, alterando padrões naturais de sedimentação e exigindo intervenções contínuas. Esses impactos levaram à degradação de habitats críticos e afetaram negativamente a biodiversidade.