Tretas do Trutis! PGR diz que deputado é farsante e cometeu três crimes ao forjar atentado

A situação do deputado federal Loester Trutis (PSL/MS), mais conhecido como “Tio Trutis”, na Justiça azedou de vez. De acordo com o site Campo Grande News, a PGR (Procuradoria-Geral da República) apontou que o “nobre” parlamentar teria cometido três crimes depois que mobilizou a Polícia Federal para investigar um falso atentado contra ele ocorrido no dia 16 de fevereiro de 2020: falsa comunicação de crime, porte ilegal e disparo de arma de fogo.

Segundo postagem do próprio Tio Trutis na sua página no Facebook, ele só teria saído vivo do suposto atentado porque, como em um filme de ação, se abaixou dentro do carro onde estava e revidou. Na época, ele contou que, por volta das 9h do dia 16 de fevereiro de 2020, teria sofrido um ataque a tiros a caminho de Sidrolândia (MS).

Além disso, para ir até à Superintendência da PF em Campo Grande para pedir que o crime fosse investigado, ele recorreu à escolta do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar. “Segundo consta dos autos, diversos laudos periciais, relatórios e informações policiais, além de oitivas, revelaram a real dinâmica dos fatos e refutaram a versão inicialmente apresentada pelos denunciados à Polícia Federal”, sustenta a denúncia, assinada pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques.

Como Tio Trutis é parlamentar federal, todos os passos da investigação foram analisados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) até agora. Por duas vezes, a defesa do parlamentar tentou “trancar” o inquérito, sob o argumento de que as investigações estavam sendo conduzidas de forma irregular e que ele era vítima de “descarado abuso de autoridade”, mas os dois pedidos feitos ao Supremo foram negados.

Apesar de concluir, assim como a Polícia Federal, que o suposto atentado não passou de uma mentira, o crime tem relação com as atividades parlamentares, o que ainda garante a Tio Trutis o foro privilegiado. Por isso, a denúncia foi encaminhada ao STF, que vai decidir se a acolhe ou não. A ministra Rosa Weber está responsável pela análise.

Além do deputado federal, as acusações também recaem sobre o assessor dele, Ciro Fidélis, que sustentou a narrativa do chefe ao longo do inquérito policial. O Toyota Corolla em que Tio Trutis estava de carona com o assessor era alugado.

A PF havia entendido que o parlamentar cometeu um quarto crime ao fingir a tentativa de homicídio, o de dano ao patrimônio privado, uma vez que o veículo foi danificado por disparos. A PGR, por sua vez, pediu a intimação da empresa de locação de automóveis para que, querendo, entre com ação penal privada contra o deputado.

“O carro em que estavam foi alvejado por, no mínimo, 5 disparos”, dizia a nota divulgada em rede social de Tio Trutis naquele dia 16 de fevereiro de 2020. A imagem anexada à postagem mostrava Corolla preto com vidros estilhaçados e marcas de bala. “O deputado conseguiu revidar o ataque. Apesar da emboscada, todos estão bem e sem ferimentos”, continuava comunicado.

Rastreador do carro, câmeras espalhadas pela BR-060, perícia e exaustiva investigação levaram a Polícia Federal a descobrir, contudo, que a suposta emboscada era uma farsa ou, como classificaram os investigadores, uma “tragicomédia com dois atores”: o deputado e seu motorista, Ciro Fidélis.

A perícia identificou disparos de pistola Glock 9 mm de fora para dentro do Corolla e disparos de pistola Taurus de dentro para fora do carro. Para a PF, os tiros nas duas direções serviram para justificar a versão do deputado, de que ele revidou ao ataque e por isso, sobreviveu. Mas, de acordo com análise técnica, seria impossível Trutis sair ileso do atentado.

O deputado federal e Ciro Fidélis foram alvos, em 12 de novembro do ano passado, da Operação Tracker, que não por acaso significa rastreador em inglês. A PF estava atrás de mais provas para concluir as investigações. O parlamentar acabou preso com armas mantidas em casa sem registro em seu nome. Foi liberado no mesmo dia.

Mas antes de novembro, a equipe da PF já havia descoberto vários detalhes do ocorrido. A PF refez os passos de Loester, afinal ele deveria estar sendo monitorado por quem tinha a intenção de matá-lo ou feri-lo. O Corolla, alugado com recursos do gabinete do parlamentar, só chegou a Campo Grande um dia antes do atentado.

Além de filmagens analisadas, policiais estudaram os dados do GPS do veículo e constaram que o carro não circulou somente pela BR-060, na saída para Sidrolândia, onde teria acontecido a abordagem, mas entrou em estradas vicinais. Em uma das estradas, o carro ficou para “por exatos 40 segundos” também registraram os investigadores, “tempo suficiente para descer do veículo, efetuar vários disparos de arma de fogo e retornar para dentro do veículo”. Foi neste trecho de terra que a PF encontrou jogados estojos de munição 9 milímetros.

A apuração é rica em detalhes, mas Tio Trutis sempre alegou ser vítima de complô “da esquerda” para “assassinar sua reputação”. “Nada me espantaria se o delegado militante de esquerda da PF desse uma entrevista sobre a tese mirabolante de que eu atirei no meu próprio carro. O sistema é foda (sic), parceiro”, postou em rede social no dia 18 de junho, após a imprensa começar a noticiar quais eram as conclusões da PF.

Mário Panziera Junior, advogado de Tio Trutis, disse que como a PF não achou os mandantes do atentado, chegou a conclusões equivocadas. A reportagem tentou contato com o defensor nesta segunda-feira, dia 4, mas ele não foi localizado no escritório e o celular deu sinal de ocupado ou desligado nas várias tentativas de chamada. Com informações do site Campo Grande News