Operação escava 6 anos de esquema milionário e só hoje foram apreendidos R$ 1,6 milhão em espécie

A Operação Mineração de Ouro, desencadeada nesta terça-feira (08) pela Polícia Federal em Mato Grosso do Sul, envolve esquema milionário de três conselheiros do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Waldir Neves, Osmar Domingues Jeronymo e Ronaldo Chadid. Os policias federais investigam contratação de funcionários “fantasmas” na Corte Fiscal e desvio de verbas públicas.

Conforme o MPF (Ministério Público Federal), a suspeita é de que o esquema tenha movimentado valores milionários nos últimos seis anos. “As investigações já realizadas apontaram indícios de participação de membros do TCE/MS em um esquema ilícito de desvio de verbas públicas. Dentre outras suspeitas, o MPF e Polícia Federal apuram se foram proferidas decisões no âmbito da Corte de Contas para favorecer integrantes da organização criminosa”, traz nota.

Outro ponto investigado é sobre contratações. “Já há evidências, também, da existência de um esquema de contratação de funcionários fantasmas no TCE/MS, para beneficiar pessoas ligadas aos conselheiros investigados. Há suspeita de que o esquema tenha movimentado valores milionários entre 2015 e 2021”, informa nota do MPF, que não informou o total.

Destaque nas apreensões de hoje, pilhas de dinheiro foram encontradas na casa de Chadid. Eram R$ 889 mil, além de US$ 7,2 mil e €$ 4,5 mil e £$ 200 em espécie totalizando R$ 1,6 milhão. Além de Conselheiro empossado em 2012, ele já foi corregedor-geral do Ministério Público de Contas por três mandatos. A apuração dos crimes de peculato, corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro começou após ligações interceptadas na operação Lama Asfáltica.

De acordo com a Receita Federal, há suspeita de irregularidade na apreciação e julgamento de processos relativos à empresa detentora da concessão dos serviços de coleta de lixo e de tratamento de resíduos sólidos em Campo Grande. Segundo a CGU (Controladoria-Geral da União), as buscas são para esclarecer a possibilidade de venda de decisões, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e contratação de funcionários “fantasmas”.

O nome da operação é Mineração de Ouro por haver indícios de que a aquisição de direitos relacionados à mineração tenha sido utilizada para lavagem de dinheiro. Um dos alvos durante a manhã foi o escritório do irmão de Waldir Neves, onde também há placas da Mineradora Betione. Vanildo Neves, que foi vice-prefeito de Aquidauana, também é um dos sócios administradores da mineradora. Waldir está no TCE desde 2009 e já foi presidente do órgão por dois mandatos.

Osmar Jeronymo ficou conhecido no meio público como braço direito do ex-governador André Puccinelli, como secretário de Estado da Casa Civil. Em 2015 ganhou o posto de conselheiro do TCE e já foi, inclusive, ouvidor do Tribunal. Ao todo, são cumpridos 20 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Sidrolândia e Brasília. Com 102 policiais, a ação é em parceria com a CGU (Controladoria-Geral da União) e Receita Federal.

Horas depois de sair às ruas, a ação, que cumpriu 20 mandados de buscas com autorização do ministro Francisco Falcão, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), entrou em sigilo. Mas antes da operação, o mesmo ministro também determinou a quebra dos sigilos fiscais e bancários dos 20 alvos. O TCE ainda não se manifestou sobre a operação, mas deve divulgar nota no decorrer do dia. A reportagem não conseguiu contato com os citados.