Mais uma dele! Revista CrusoÉ denuncia que Salles fez vários depósitos fracionados de dinheiro vivo

A Revista CrusoÉ, a mesma que já tinha revelado a petição judicial do MPE (Ministério Público Estadual) de São Paulo listando as volumosas transações financeiras feitas pelo ministro do Meio Ambiente, publicou, nesta quarta-feira (10), no seu site que o Ministério Público detectou, após quebra de sigilo bancário, que Ricardo Salles realizou depósitos em dinheiro em transações suspeitas para driblar órgãos de controle.

A mesma estratégia foi usada pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) nas supostas “rachadinhas”, que seriam comandadas pelo ex-PM Fabrício de Queiroz. Conforme a reportagem de Fábio Serapião e Fábio Leite, na Revista CrusoÉ, extratos bancários mostram que o ministro de Jair Bolsonaro realizou ao menos seis depósitos no valor de R$ 9,9 mil em dinheiro, sendo que três deles foram feitos no dia 15 de julho de 2016, véspera da posse como secretário do Meio Ambiente no governo Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo.

A estratégia chama a atenção dos promotores, pois os bancos só são obrigados a comunicar órgãos de controle, como o antigo Coaf, por depósitos em dinheiro a partir de R$ 10 mil. Ainda conforme a reportagem, entre 2013 e 2017, Ricardo Salles movimentou cerca de R$ 7 milhões, sendo R$ 332 mil em depósitos em dinheiro vivo. Entre 2012 e 2018, o patrimônio do ministro saltou de R$ 1,4 milhão para R$ 8,8 milhões.

Aos jornalistas, o ministro do Meio Ambiente disse que optou por fazer os depósitos fracionados para evitar o preenchimento de formulários do banco, que são obrigatórios em valores acima de R$ 10 mil para informação aos órgãos de controle.

Entenda o caso

 Uma reportagem da edição 109 da Revista CrusoÉ revela que, em pouco mais de 500 dias à frente do Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles coleciona uma série de polêmicas que já resultaram em manifestações de repúdio pelo mundo, expulsão do partido e pedidos de impeachment. Agora, conforme a publicação, o episódio mais recente é o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril em que ele sugere que o Governo aproveite o foco do Brasil na pandemia do novo coronavírus (Covid-19) para ir “passando a boiada”, flexibilizando regras ambientais.

No entanto, o que realmente preocupa Ricardo Salles é o seu passado em São Paulo, onde atuou como advogado e agente público, o que originou dois inquéritos que o investigam por suspeita de tráfico de influência e advocacia administrativa e outro por enriquecimento ilícito. Em petição judicial, o MPE (Ministério Público Estadual) de São Paulo lista volumosa transações financeiras feitas por ele, que podem elucidar as duas investigações abertas e abrir uma nova frente na esfera criminal para apurar indícios de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.

Dados da quebra de sigilos bancário e fiscal autorizada pela Justiça mostram que o ministro repassou R$ 2,75 milhões da conta de seu escritório de advocacia para a sua conta pessoal em 54 transferências feitas entre 2014 e 2017. Nesse período ele exerceu dois cargos públicos na gestão do governador Geraldo Alckmin e atuou como advogado na iniciativa privada, sendo que a transação que mais chama a atenção é a de R$ 250 mil feita entre os dias 31 de outubro a 12 de novembro de 2014, quando ele ainda era secretário particular do governador e estava afastado da advocacia.

Em 20 meses em que atuou como advogado de uma construtora e as duas passagens pelo Governo do Estado de São Paulo, ele trocou um apartamento de 137 m² por um duplex nos jardins, região de bairros nobres de São Paulo (SP), e comprou um iate de R$ 580 mil, que fica ancorado em Ilha Bela, no litoral paulista. As aquisições levaram o patrimônio do ministro para R$ 8,8 milhões em 2017, quando deixou o Governo pela segunda vez, um aumento real de 335% em relação aos bens que tinha antes de ingressar na vida pública.

Foi essa evolução patrimonial que desencadeou a abertura de um inquérito em agosto do ano passado para apurar enriquecimento ilícito. Em novembro o Tribunal de Justiça autorizou a quebra dos sigilos bancários e fiscal do ministro a pedido do MPE e descobriu que, além dos repasses do próprio escritório de advocacia, o ministro recebeu em sua conta pessoal R$ 728,5 mil em 14 transferências feitas da conta da mãe, que é advogada e sócia da mesma banca entre 2015 e 2017.

Para o MPE, ele ocultou vultosa movimentação financeira, dando indícios de sonegação fiscal, enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. A dúvida é que se as suspeitas sobre a vida pregressa de Ricardo Salles podem colocar sua cadeira de ministro do Meio Ambiente em risco, pois, em tempos de aliança do Governo Federal com o enlameado “Centrão”, talvez os documentos em poder do MPE de São Paulo sejam visto como apenas uma arvorezinha no meio da floresta e ele fique onde está, firme.