Investigação encontra novos indícios e caso de extermínio de delegado será reaberto após 6 anos

Os desdobramentos provocados pela “Operação Omertà”, que no dia 27 de setembro de 2019 levou à prisão os empresários Jamil Name, 83 anos, e o filho dele, Jamil Name Filho, 42 anos, por suspeita de comandar uma milícia em Campo Grande, levaram a força-tarefa, composta pela Polícia Civil e Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) para investigar os crimes de pistolagem praticados na Capital, a encaminhar para a 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande o pedido de desarquivamento do processo que investiga a execução do delegado Paulo Magalhães, ocorrido em 2013.

Na prática, com a decisão do juiz Carlos Alberto Garcete que acatou nesta quarta-feira (15) do pedido para reabrir as investigações sobre a execução do delegado de Polícia Civil Paulo Magalhães pode abrir precedente para outros casos. Magalhães tinha 57 anos e foi fuzilado ao volante de um jipe, quando buscava a filha na escola, no Jardim dos Estados, em Campo Grande, no fim da tarde de 25 de junho daquele ano.

O desarquivamento do caso é mais um reflexo da operação Omertà, desencadeada em setembro do ano passado, contra grupo de extermínio atuante em Campo Grande. A força-tarefa responsável pelas apurações estudava lista de pelo menos 15 casos de crimes com características de pistolagem sem mandante identificado, para decidir se havia elementos suficientes para solicitar o retorno aos trabalhos.

Devem vir a reboque uma lista de investigações a serem retomadas pela força-tarefa, que inclui a execução do jornalista e policial aposentado Eduardo Carvalho, 51 anos, mais conhecido como “Carvalhinho”, ocorrida no dia 21 de novembro de 2012, em frente da própria casa, no Bairro Giocondo Orsi. Um outro caso é o assassinato de Andrey Galileu Cunha, executado em 23 de fevereiro de 2012, aos 31 anos, por uma dupla em motocicleta, bem como a execução do policial civil aposentado Sérgio Marcos Gomes, 43 anos, ocorrida em 25 de janeiro de 2009.

Ainda na lista está o duplo assassinato ocorrido em 21 de junho de 2005, no quarto de um motel em Campo Grande, episódio transformado, depois de mais de 14 anos, em um gigante ponto de interrogação da história policial de Mato Grosso do Sul: o “Caso Motel”. Na noite fria e cinzenta do dia 21 de junho de 2005 foram mortos por asfixia os jovens Murilo Alcalde e Eliane Ortiz. As outras execuções que também devem ser reabertas são a do chefe da segurança da Assembleia Legislativa, Ilson Martins Figueiredo, do ex-segurança do empresário Jorge Rafaat, Orlando da Silva Fernandes, o “Bomba”, e de Marcelo Colombo, o “Playboy da Mansão”.

Paulo Magalhães

No caso específico de Paulo Magalhães, um autor, José Moreira Freires, o “Zézinho”, foi o condenado pelo homicídio na época, começou a responder em liberdade e hoje é considerado foragido. Ele, condenado pela morte de Paulo Magalhães, foi depois identificado como pistoleiro responsável por várias execuções, mas sumiu após a última morte atribuída ao grupo criminoso, de Matheus Coutinho Xavier, em abril de 2019.

Desde então, José está foragido e hoje integra a lista dos mais procurados pelo MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) e ainda pode ser colocado na lista vermelha da Interpol. É apontado pela investigação da Operação Omertà que há indícios de que a morte de Paulo Magalhães também possa envolver o empresário Jamil Name e Jamil Name Filho, presos na operação e que hoje estão no Presídio Federal de Mossoró (RN).

O delegado Paulo Magalhães foi executado na frente da escola da filha em junho de 2013. Os pistoleiros monitoraram o delegado desde a casa dele até a escola da filha, na Rua Alagoas, e lá decidiram fazer a execução. O monitoramento teria iniciado às 7 horas e o crime aconteceu às 17 horas.

O delegado aposentado estava em seu veículo, uma Land Rover, quando foi executado a tiros de pistola dados pelo guarda municipal Zézinho, que estava na garupa de uma moto, pilotada por Rafael Leonardo Santos. Já Antônio Antônio Benitez Cristaldo fazia escolta dos dois em um carro.

Depois que os mandados de busca e apreensão e prisão foram expedidos para o trio, Rafael foi encontrado morto e partes do seu corpo foram jogados próximo ao lixão da Capital. Ele foi carbonizado e decapitado. Segundo a promotoria, Rafael seria o ‘elo mais fraco’ dos três e poderia contar quem seriam os mandantes do crime. Por isso, foi eliminado. O corpo dele só pode ser identificado através de exames de DNA.

Foi levantada uma hipótese, extraoficial, de que o crime teria custado R$ 600 mil. O mandante do crime teria sido identificado até então. O delegado aposentado fazia denúncias em um site de notícias. José Moreira Freires disse no dia de seu julgamento, 15 de agosto de 2018, que fugiu depois do crime com medo de ser ‘eliminado’ pela polícia como queima de arquivo. Freires disse aos jurados que não sabia que a vítima era delegado aposentado e que achava que se tratava de um advogado.

Para explicar porque fugiu logo depois da execução, o guarda municipal levantou suspeita sobre a atuação da polícia no caso. Segundo ele, mesmo sem ter participação na execução, teria sido ‘avisado’ que policiais estariam armando um cenário de resistência para matá-lo quando fosse abordado. O suposto plano para eliminar o pistoleiro seria uma ‘queima de arquivo’.