Delegado “xerifão” de Corumbá que matou boliviano é mantido como réu e vai a júri mês que vem

Delegado foi preso durante operação do Garras (Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense)
Preso desde março de 2019, o delegado da Polícia Civil Fernando Araújo da Cruz, 34 anos, acusado de matar o pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber, 48 anos, dentro de uma ambulância em Corumbá (MS) no dia 23 de fevereiro de 2019, foi mantido como réu por assassinato e vai a júri popular no próximo dia 30 de abril, conforme decisão da 1ª Câmara Criminal do TMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

A determinação da desembargadora Elizabete Anache foi de fixar prazo máximo para julgamento do Tribunal do Júri em 30 de abril de 2021 por “suposta prática de homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima”. O então delegado em Corumbá e sua esposa discutiram com o boliviano e Fernando o esfaqueou. Ao ser socorrido em ambulância para ser levado a serviço médico na cidade brasileira, o policial interpelou a ambulância na estrada e atirou contra Alfredo, lhe atingindo cabeça, tórax, ombro e braço.

Fernando da Cruz ainda, para se livrar da pena, ameaçou testemunhas para que não o denunciassem e também, com ajuda de investigador da Polícia Civil de Corumbá, descaracterizou a caminhonete usada para interceptar a ambulância. A discussão na qual tudo começou teria relação com o fato de Weber ter cobrado a esposa do delegado, que é boliviana, por dívidas do ex-marido dela, Odacir Santos Correia, traficante preso pela Polícia Federal em 2003, durante a Operação Nevada.

Entenda o caso

O delegado da Polícia Civil Fernando Araújo da Cruz, 34 anos, é acusado de matar o pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber dentro de uma ambulância em Corumbá (MS) no dia 23 de fevereiro de 2019. Ele é acusado por homicídio doloso qualificado por motivo torpe e por emboscada depois de uma briga nas eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia.

O sogro de Fernando da Cruz, Asis Aguilera Petzold, que é o atual prefeito da cidade de El Carmen, na Bolívia, concorria ao cargo e a vítima, Alfredo Weber, foi até o local de votação, onde encontrou Sílvia Aguilera, que foi casada com um ex-sócio dele, mas já tinha um relacionamento com o delegado de Polícia Civil há algum tempo.

Segundo testemunhas, ao notar a presença de Sílvia Aguilera, o pecuarista boliviano, que também teria envolvimento com o tráfico de cocaína da Bolívia para o Brasil, teria cobrando dívidas do ex-marido e ameaçado os filhos dela com o delegado. Os dois discutiram e a confusão foi separada por Asis Petzold, que, ao lado de Fernando da Cruz, sentou-se em uma mesa para conversar com Alfredo Weber.

Aproveitando o momento de distração, o delegado esfaqueou as costas do boliviano, que foi socorrido e levado para um hospital local, mas devido à gravidade, teve de ser transferido para Corumbá. Já no município a ambulância foi fechada por uma caminhonete preta, cabine simples, mesmo veículo que Fernando da Cruz dirigia na época.

Ele desceu do veículo, foi até a ambulância, abriu a porta e atirou quatro vezes, sendo que três tiros atingiram a cabeça da vítima, um deles o tórax. Sem ter o que fazer, o motorista voltou com o corpo para o país vizinho. Para o juiz André Luiz Monteiro, há provas materiais juntadas pela acusação e, embora o delegado negue ter cometido o crime, há “indícios suficientes” de ter sido o autor dos disparos que mataram o pecuarista boliviano.

Fernando da Cruz está em cela da 3ª DP (Delegacia de Polícia), em Campo Grande (MS), sendo que já tentou a liberdade algumas vezes, sem sucesso. Na sentença de pronúncia, o magistrado também indeferiu pedido da defesa do delegado para que ele respondesse ao processo em liberdade. O investigador de Polícia Civil Emmanuel Nicolas Contis Leite será julgado como cúmplice do crime e por ter ajudado Fernando da Cruz a atrapalhar as investigações.