Clima tenso! Disputa por terra em Amambai resulta em policiais militares baleados e índio morto

A disputa por uma área em local conhecido como “Sertãozinho”, nas margens da MS-156, no município de Amambai (MS), resultou em conflito entre indígenas da etnia Guarani-Kaiowá e policiais militares do Batalhão de Choque na tarde de ontem (24).

Além da morte de um indígena de aproximadamente 25 anos e três policiais militares baleados, dois adolescentes indígenas, sendo um menino de 13 anos e uma jovem de 14 anos, foram atingidos por disparos de arma de fogo na região do abdômen e tiveram exposição de vísceras. Ao todo são 11 vítimas, entre eles indígenas e policiais militares.

Os dois jovens foram levados conscientes para atendimento no Hospital Regional de Ponta Porã, de acordo com o médico ortopedista Edinaldo Luiz de Melo Bandeira, que também é prefeito de Amambai. O indígena que morreu não portava documentos e foi atingido por três disparos, sendo dois na lateral do tórax e um no quadril.

Além dos adolescentes, uma mulher indígena, foi atendida com ferimento no joelho, causado por arma de fogo. Outra mulher adulta, indígena, foi atendida com um ferimento de corte contuso na cabeça e perfuração de projétil de arma de fogo, que transfixou, na região da coxa. Ela encontra-se internada no Hospital Regional de Ponta Porã.

Um jovem adulto, também indígena, foi atendido com fratura em uma das mãos, também causado por tiro. Ele também foi atendido e liberado. Outro homem adulto, indígena, foi medicado devido a um ferimento de arma de fogo na altura do bíceps e já foi atendido e liberado.

Outro adulto indígena sofreu fratura exposta de fêmur, ferimento causado por arma de fogo. Consciente e orientado, foi levado ao Hospital Regional de Ponta Porã. Já os três policiais militares foram feridos por disparos de arma de fogo. Todos foram atendidos no Hospital Regional da Cidade e nenhum deles corre risco de morte.

Segundo o hospital, um dos policiais foi atingido no quadril e coxa. Outro policial sofreu ferimento no pé e o terceiro na perna. Após serem atendidos, os três foram trazidos de helicóptero para Campo Grande. A informação é a de que, após serem expulsos, indígenas ainda estão na região e aproximadamente 100 policiais estão no local, entre eles a Polícia Federal.

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), após a ocupação, indígenas dos povos Guarani-Kaiowá foram atacados e expulsos, sem ordem judicial, por fazendeiros e policiais militares do território, chamado de Guapoy pelos índios. A polícia informa que entrou no local efetuando disparos de balas de borracha.

Já o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, disse que entre os indígenas também há estrangeiros, possivelmente paraguaios. Isso porque eles vêm ao país vizinhos tentar cooptar indígenas como mão de obra barata para a colheita de maconha.

A suspeita é de que sejam estes os homens armados que acabaram entrando em confronto com os policiais do Batalhão de Choque nesta sexta. O grupo de aproximadamente 30 pessoas, entre indígenas e estes estrangeiros, teriam ocupado a fazenda na quinta-feira (23). Inicialmente, policiais foram ao local e eles saíram, mas depois retornaram.

Gerente da fazenda chegou a registrar boletim de ocorrência, relatando que quando o grupo voltou, estava armado e atirando. Na coletiva, Videira pontuou que tiros foram feitos inclusive contra o helicóptero da Casa Militar, que sobrevoa a região. A aeronave também levou reforço de policiais do Choque ao local.

A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com aproximadamente 10 mil indígenas. O Conselho informa que teme que a situação evolua rapidamente para um novo episódio de massacre contra os Guarani-Kaiowá, como o ocorrido em 2016, em Caarapó.

Para os Guarani-Kaiowá, Guapoy é parte de um território tradicional que lhes foi roubado – quando houve a subtração de parte da reserva de Amambai. Os indígenas chamam a atenção, exigem proteção às suas vidas e seus direitos. O Cimi informa que pede o envolvimento de órgãos federais, além do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), a fim de controlar a situação e investigar os episódios. Com informações do site Midiamax