Cadê as autoridades? Na terra sem lei execuções aumentam e foram 17 em menos de 30 dias.

Levantamento do site Campo Grande News publicado nesta terça-feira (26) revela que, em menos de 30 dias, pelo menos 17 pessoas foram executadas na fronteira entre Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. De acordo com o site, a estatística oficial só existe no lado sul-mato-grossense, onde foram registradas 3 das 17 execuções, enquanto as outras 14 foram do lado paraguaio.

Segundo as autoridades de segurança pública dos dois lados da fronteira, a escalada sem precedentes da violência é atribuída à guerra travada por facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas e de armas, mas moradores da região que muitas pessoas são assassinadas por outros motivos e as mortes “colocadas na conta” do crime organizado e dos autodenominados “justiceiros”.

Depois da chacina de quatro pessoas (duas delas brasileiras), no dia 9 de outubro, o policiamento foi intensificado dos dois lados, mas nem mesmo a maciça presença da polícia intimida os pistoleiros. Os sicários – como os pistoleiros são chamados nos países de língua espanhola – continuam agindo à luz do dia e ontem (25), mataram mais um, o advogado Joel Angel Villalba Aguero, 45 anos.

Após a chacina que teve entre as vítimas a filha do governador do Departamento de Amambay, Ronald Acevedo, a Polícia Nacional e a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai) passaram a agir com mais intensidade em Pedro Juan Caballero. Em duas semanas, as forças paraguaias desmontaram três esconderijos de pistoleiros e prenderam 11 suspeitos de execuções, mas até agora não existe denúncia formal e provas contundentes que possam incriminá-los pelos assassinatos mais recentes.

Quem mora há décadas na região afirma que os assassinatos ligados à disputa pelo controle do crime organizado na fronteira entre o Paraguai e Mato Grosso do Sul sempre existiram. A diferença agora são os requintes de crueldade, como esquartejamentos, decapitações e até mesmo violação dos corpos com pedaços de pau. A mais recente onda de execuções começou no dia 25 de setembro. Na noite daquele sábado, o brasileiro Rogerio Laurete Buosi, 26 anos, foi executado a tiros de pistola calibre 9 mm no Bairro Defensores Del Chaco, em Pedro Juan Caballero.

Ao lado do corpo, foi encontrado papel com a frase “não roubar na fronteira”. Familiares do rapaz negaram o envolvimento dele com o crime e acusaram a polícia paraguaia de esconder informações sobre o caso. Dois dias depois, na mesma cidade, o paraguaio Jorge Ortega García, 27 anos, foi morto a tiros no meio da rua, no Jardim Aurora. Horas depois, o ex-vereador e empresário Joanir Subtil Viana, 53 anos, foi executado dentro de sua caminhonete no centro de Ponta Porã. Com antecedentes por tráfico de drogas, ele seria amigo de Jorge Ortega.

No mesmo dia, foi encontrado ao lado do quartel do Exército do Paraguai, em Pedro Juan, o corpo do brasileiro Carlos Limar de Souza Lima, 38 anos. Torturado, ele teve a barriga aberta por profundo golpe de faca, parte das tripas foi arrancada e introduzida na boca do cadáver e a cabeça separada do corpo. Sobre o corpo enrolado num edredom foi deixado cartaz com a frase: “nós do crime estamos deixando claro que não iremos mais admitir covardias cometidas por esses justiceiros, seja quem for”.

O paulista tinha antecedentes criminais em seu Estado de origem e, inclusive, tinha sido réu em mesmo processo com o fundador do PCC (Primeiro Comando da Capital), Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”. Na noite de 30 de setembro, os pistoleiros voltaram a agir e mataram com 41 tiros, o candidato a vereador Néstor Ramón Echeverria, conhecido como “advogado dos pobres”.

Após reunião política da campanha eleitoral dez dias antes das eleições municipais no Paraguai, Néstor bebia e dançava com amigos em frente a um bar quando foi morto. No dia 3 deste mês, os corpos dos paraguaios Marcelo Adrián Benitez Ortiz, 26 anos, e Cornelio Ramón Jara Bogarín, 27 anos, foram encontrados enrolados em sacos plásticos e jogados numa estrada de terra. Os dois rapazes estavam desaparecidos há quatro dias, após saírem de Pedro Juan para vender uma caminhonete.

No início da noite de 8 de outubro, no centro de Ponta Porã, o vereador Farid Afif (DEM), foi morto por um pistoleiro quando andava de bicicleta. O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios de Mato Grosso do Sul, mas até agora, não há informações sobre mandante e executor. O atentado de maior repercussão e que fez a polícia da fronteira se mexer ocorreu no dia seguinte à morte de Farid Afif. Quatro pessoas foram fuziladas com 117 tiros por três pistoleiros quando saíam de uma festa em Pedro Juan Caballero.

Morreram no ataque o traficante paraguaio Osmar Vicente Álvarez Grance, o “Bebeto”, a namorada dele, Haylee Carolina Acevedo Yunis, 21 anos, que é filha do governador Ronald Acevedo, a mato-grossense Rhamye Jamilly Borges de Oliveira, 18 anos, e a douradense Kaline Reinoso de Oliveira, 22 anos. As três eram estudantes de Medicina. Três dias depois da chacina, o suboficial da Polícia Nacional Hugo Ronaldo Acosta, 32 anos, foi executado com 36 tiros de pistola calibre 9 mm dentro de seu carro no centro de Pedro Juan Caballero.

No sábado, dia 16, Derlis David Sanchez Ayala, 23 anos, foi morto a tiros de pistola e o corpo jogado em uma estrada da zona rural de Pedro Juan Caballero. Ao lado, foi deixado bilhete com a frase “Matei 3 meninas inocentes, fique de exemplo”. A polícia paraguaia informou que ele era suspeito de ser um dos pistoleiros da chacina.

Após a morte de Derlis Ayala, os pistoleiros deram uma folga de oito dias, até ontem (25), quando mataram o advogado Joel Angel Villalba Aguero. A lista de 17 assassinatos em um mês nas duas cidades inclui ainda a morte de Fabian Fernando Franco Arar e um corpo “desovado” em Ponta Porã. Fabian foi morto com tiro de escopeta, durante briga com o segurança de uma loja de Pedro Juan Caballero. Rafael Robles foi preso em flagrante.

Só em Ponta Porã (cidade de 94 mil habitantes), foram registrados 320 assassinatos de 1º de janeiro de 2015 até agora, segundo estatística da Polícia Civil. Foram 50 em 2015, 57 em 2016, 38 em 2017, 33 em 2018, 59 em 2019, 45 em 2020 e 38 em 2021 (de janeiro até agora). Com informações do site Campo Grande News