Academia do mal: Em menos de um ano delegados da PC são argolados com o crime

O que está acontecendo com a formação dos delegados de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul? Em menos de um ano, cinco delegados de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul ganharam manchetes dos sites de notícias, jornais impressos, programas de rádio e programas jornalísticos da TV por envolvimento com o crime organizado.

Dois deles, Eder Oliveira Moraes e Fernando Araújo da Cruz Júnior, foram condenados no ano passado pela Justiça a mais de 70 anos de prisão pelos crimes de estupro e furto de cocaína, no caso do primeiro, e de homicídio, no caso do segundo. Fernando da Cruz, ex-titular da Deaji (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso) de Corumbá, pegou 20 anos e 10 meses de prisão pela execução do boliviano Alfredo Ranger Weber dentro de uma ambulância, em fevereiro de 2019.

Já por estupro de vulnerável, Eder Oliveira cumprirá 37 anos de prisão em regime fechado, além de outros 14 anos e 7 meses de pena pelo “sumiço” de 101 quilos de cocaína da delegacia em que atuou, em Aquidauana em junho de 2019. Além disso, foi determinada pela Justiça a perda do cargo de delegado, considerando que “Eder estava envolvido com grupo criminoso e utilizou de sua posição para facilitar o furto da droga”. Em março de 2021, ele foi demitido da Polícia Civil. Ele é o personagem central da história descoberta no dia 10 de junho de 2019, quando se percebeu que os 100 quilos de cocaína ‘sumiram’ misteriosamente da delegacia.

Operação Omertà

Já neste ano o delegado de Polícia Civil Márcio Shiro Obara, que é acusado de ajudar grupo de extermínio em Mato Grosso do Sul, foi condenado a 3 anos de prisão pelo crime do Sistema Nacional de Armas ao ser flagrado em 2020 com fuzil e 784 munições. No entanto, apesar da condenação, ele venceu ação contra o Governo do Estado em que exigia promoção à classe especial, topo da carreira, e pagamento de R$ 70 mil.

Na esfera cível, a sentença da juíza Liliana de Oliveira Monteiro, da 3ª Vara da Fazenda Pública, confirmou a decisão para que Obara seja promovido da primeira classe para a classe especial, pois atingiu 1.825 dias de exercício na classe anterior (cinco anos). Ele já tinha conseguido a promoção no ano passado, também amparado por decisão judicial.

No processo, a defesa pediu que o Estado fosse condenado ao pagamento das diferenças salariais entre as categorias. O valor de R$ 70 mil deverá ser acrescido de juros de mora e correção monetária. “Por conseguinte, considerando que o Requerente atingiu até mais que1.825 dias de exercício na primeira classe, que preencheu o requisito ‘curso de aperfeiçoamento’, bem como não foram apontados outros impedimentos para a promoção, tenho que se encontra apto a galgar a promoção ao cargo de Delegado de Polícia Classe Especial, a contar de 1/09/2019”.

Fronteira

Nesta semana, após quebra de sigilo bancário de investigados em esquema que cobrava propina pela liberação de veículos apreendidos pela Polícia Civil de Ponta Porã (MS), o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) identificou mais de 300 transações bancárias suspeitas entre os envolvidos. A maior parte das transferências de dinheiro era feita por seguradoras e pessoas jurídicas ligadas ao ramo de locação e vistorias veiculares, sem que existisse qualquer justificativa para os repasses.

Segundo denúncia do Gaeco, o policial civil aposentado Valdenei Peromalle era o caixa do grupo e era dele a missão de receber os pagamentos e repassar aos companheiros. Entre 20 de junho de 2018 e 14 julho de 2021 ele recebeu R$ 47.665 por meio de 46 transações bancárias de uma seguradora. Entre 21 de julho de 2017 e 27 de agosto de 2018 foram R$ 17.650 em 18 transferências de outra marca do mesmo ramo.

Em 2021 foram computadas transferências sem identificação que chegaram ao montante de R$ 184.778, 40 e outras em valores menores: R$ 1.800, R$ 1.950, R$ 6.067 e R$ 750. Assim que recebia as quantias, Valdenei Peromalle cuidava de, no mesmo dia, fazer o repasse da cota dos demais envolvidos no esquema criminoso, o escrivão Jonatas Pontes Gusmão, a policial civil Adriana Jarcem da Silva e os policiais civis Márcio André Molina Azevedo e Mauro Ranzi.

Ainda sobre as quebras de sigilo bancário foi identificado que o delegado de Polícia Civil Patrick Linares da Costa recebeu R$ 17.060 entre os anos de 2017 a 2019. O dinheiro foi depositado na conta corrente de Linares em 18 depósitos em dinheiro e sem identificação do remetente. A esposa dele, Aline Euzébio Januário, recebeu em sua conta bancária créditos que totalizaram R$ 214.597,49, todos com algum tipo de identificação, além de 86 créditos que somaram R$ 89.980, grande parte em dinheiro e sem identificação ou com identificação precária do remetente.

De 2017 a 2019, enquanto a 2º Delegacia de Ponta Porã foi comandada por Patrick Linares, foram notadas irregularidades nas atividades policiais, especialmente sobre os bens apreendidos. Por meio das interceptações telefônicas a polícia identificou que Jonatas Pontes Gusmão e o policial civil aposentado Valdenei Peromalle exerciam o papel de controle dos bens apreendidos na Delegacia. Com esse controle, Valdenei Peromalle estaria negociando indevidamente as liberações dos veículos.

Também foram elencados indícios de que drogas apreendidas voltam à circulação depois de desviadas na delegacia com auxílio de Jonatas com os comparsas, apontados como os policiais João Batista Olmedo Júnior e Ricardo Alexandre Olmedo. Ao todo, foi decretada a prisão preventiva de Jonatas Pontes Gusmão (“Jhow/Jhou”); Valdenei Peromalle (“Nei”); Márcio André Molina Azevedo (“Molina”); Doelza Lopes Ferreira; Adriana Jarcem Da Silva; Patrick Linares da Costa; Mauro Ranzi; Rogério Insfran Ocampos; João Batista Olmedo Júnior (“Júnior”) e Ricardo Alexandre Olmedo. Também, a prisão temporária de Elisandro Ostergerg; Marcos Alberto Alcantara e Ronaldo Medina.

Para se defender, o delegado Patrick Linares escolheu para representá-lo o advogado Diego Marcos Gonçalves. Atuante na fronteira, o defensor também já patrocinou a defesa do ex-policial militar de Mato Grosso do Sul, Fábio Costa, 42, mais conhecido como “Pingo”, apontado como um dos principais chefes do contrabando de cigarros na região.

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