“Cego de amor”: Namorada de Messer foi elo importante que levou a PF a prender o doleiro

Não é de hoje que o amor de um homem por uma mulher acaba tendo consequências trágicas. Ao longo da história da humanidade há inúmeros exemplos do que um rabo de saia, às vezes, pode colocar tudo a perder, quem o diga Sansão e Dalila e o príncipe Páris e Helena de Troia.

Pois não é que a história volta a se repetir nos dias atuais e, conforme informações da Polícia Federal, foi graças a Myra Athayde, 27 anos, que conseguiu prender o “doleiro dos doleiros”, Dario Messer, que estava foragido desde maio do ano passado.

Para quem não sabe, Myra é a atual namorada de Messer e, ao rastrear os passos dela, os policiais federais chegaram até o doleiro brasileiro em São Paulo (SP). A Lava Jato identificou, entre novembro de 2018 e janeiro de 2019, quatro voos, alguns com retorno ao Brasil no mesmo dia, para visitar o namorado foragido no Paraguai.

No dia 14 de janeiro deste ano, por exemplo, ela foi e voltou no mesmo dia, enfrentando quatro horas de voo, no total, para ver Messer. Myra, amiga dos filhos dele, teria deixado Messer apaixonado, como o doleiro confidenciou a fontes ouvidas pela PF.

A “fofoca” sobre o namoro veio das autoridades do Paraguai, onde Messer tem 11 fazendas, e teria chegado aos ouvidos dos investigadores da Polícia Federal (PF) do Brasil. Namorar um foragido da Justiça acusado de envolvimento na movimentação ilegal de R$ 6 bilhões, no entanto, deu trabalho.

E obrigava a garota a marcar encontros também perto da região da Tríplice Fronteira. Para ir ao Paraguai, Myra saía de São Paulo, e não do Rio, o que foi interpretado como uma tentativa de despistar as autoridades.

As viagens de Myra ao Paraguai, de acordo com a Lava Jato RJ

Dia 22/11/2018 – voo Guarulhos – Assunção. Não houve retorno aéreo internacional. Possivelmente Myra retornou por voo doméstico ou por via terrestre.

Dia 28/11/2018 – Guarulhos – Assunção. Retorno no dia seguinte –

Dia 14/01/2019 – Guarulhos – Assunção. Retorno no mesmo dia

Dia 28/01/2019 – voo Guarulhos – Assunção. Retorno no dia seguinte

Myra tinha se separado em 2018 do ex-marido. Segundo pessoas próximas, durante as viagens para se encontrar com Messer ela afirmava que ia visitar um namorado fazendeiro. Relatórios de inteligência mostram que, em novembro de 2018, Messer esteve em Salto del Guairá.

Em 24 de agosto de 2018, também para possivelmente não chamar atenção das autoridades, ela viajou para Dourados, cidade a 100 quilômetros da fronteira com o Paraguai. Ficou uma semana por lá. Segundo a representação da PF apresentada à Justiça, “há ainda evidências de encontros de Myra Athayde com Dario Messer nas cidades fronteiriças do Brasil e Paraguai, atravessando pela fronteira seca, onde existe um fraco controle migratório.”

Ao analisar a incidência dos voos e estranhar as partidas de uma carioca saindo de São Paulo, os investigadores perceberam que estavam no caminho certo até o doleiro. A PF descobriu que eles realmente tinham um relacionamento –-e que ela tinha uma casa em São Paulo: um apartamento nos Jardins, bairro de classe média alta na Zona Oeste da capital paulista.

Os policiais fizeram “diligências veladas” e, ao conversar com a vizinhança, descobriram que ela vivia “com um homem de meia idade, discreto, que mal sai da residência.” Era supostamente um médico, o Dr. Marcelo.

Na última quarta-feira (31), a PF prendeu finalmente Messer, que estava foragido desde maio de 2018, quando fugiu da Operação Câmbio, Desligo. Myra não estava em casa. Se estivesse, não seria presa, pois contra ela havia apenas um mandado de busca no apartamento.

Nesta quinta-feira (1), o “doleiro dos doleiros” foi transferido para o Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio. Myra não é debutante no mundo do poder. De família ligada ao clã de Anthony Garotinho, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, é filha de um ex-vereador da cidade e de uma ex-deputada federal, Alcione Athayde.

A mãe da namorada de Messer também já foi presa, em 2008, dentro de uma investigação da Polícia Civil do Rio sobre fraudes na Saúde, na gestão da ex-governadora Rosinha Garotinho. Alcione é prima de Anthony e era subsecretária de Saúde do Estado à época.

De acordo com as investigações que culminaram nas prisões, foram desviados R$ 60 milhões em um esquema que envolvia a subcontratações fraudulenta de ONGs em ações de Saúde em comunidades pobres.

O Ministério Público afirmou que o repasse de dinheiro público era sacado por representantes das entidades na boca do caixa – e supostamente devolvido como suborno e pagamentos para políticos e demais envolvidos.

Posteriormente, um habeas corpus do STF determinou a liberdade de oito pessoas presas no caso, inclusive a de Alcione Athayde. Na decisão que determinou o HC, entre outros elementos, o tribunal escreveu que as prisões preventivas se apoiaram em elementos insuficientes.