Os acadêmicos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) protestaram ontem (14) em frente ao Instituto de Biociências para pedir a demissão imediata do professor condenado por estuprar uma aluna. Com cartazes contendo palavras de ordem, o protesto foi motivado pela recente condenação do docente por estupro de uma aluna durante uma festa acadêmica em 2016.
Ele foi condenado em primeira instância a 8 anos de prisão em regime semiaberto e ao pagamento de R$ 30 mil por danos morais. A vítima, na época com 22 anos, foi vítima de abuso enquanto dormia em um dos quartos da república onde acontecia a festa. Ela tinha ingerido bebidas alcoólicas e estava passando mal.
As amigas a levaram para o quarto para descansar, mas o professor a seguiu e trancou a porta. Ao entrarem no quarto, as amigas encontraram a jovem chorando, desorientada e sem as roupas íntimas.
A UFMS informou que, na época do crime, não abriu um PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar) para apurar a denúncia da aluna, pois os indícios de ilícitos não estariam claros o suficiente. No entanto, após a condenação do professor, a reitoria da UFMS determinou a revisão do ato administrativo e a Corregedoria realizará um procedimento para apurar a responsabilidade do servidor.
Os estudantes pedem o afastamento definitivo do professor e criticam a postura da UFMS, que só iniciou uma investigação após a condenação em primeira instância. “Esse cara não só cometeu um crime bárbaro, como continuou recebendo salário, continuou servidor público federal da maior universidade do estado. A gente pode citar que foi cúmplice, porque ela não só não tomou nenhuma medida institucional, como manteve esse professor lecionando”, disse Juliana Reis Malaquias, 20 anos, acadêmica de História.
A manifestação reuniu alunos de diversos cursos, como Biologia, História e Artes, que expressaram sua indignação com a demora na punição do professor e com a postura da universidade.
“Esse ato foi motivado pela impunidade de nove anos que esse professor teve”, desabafou Rebeca Garcia do Nascimento, 21 anos, acadêmica de Ciências Biológicas e uma das organizadoras do protesto. “Ele não pagou pelo que fez por quase uma década e ele foi culpado, condenado, então a gente exige que ele seja afastado e não tenha nenhum direito assegurado, porque ele não é um professor, ele é um estuprador”, disse.
Com cartazes e palavras de ordem como “Estuprador não educa, estuprador não pode lecionar”, os estudantes percorreram o campus da UFMS, do Instituto de Biociências até o corredor central, buscando apoio da comunidade acadêmica. A manifestação reuniu entre 60 e 100 pessoas, segundo os organizadores.
Além da condenação por estupro, relatos de assédio e comportamento inadequado do professor vieram à tona durante a manifestação. “É bem desconfortável estar perto dele, porque dava para notar os olhares que ele dava para as meninas”, relatou Vitória Infran, 22 anos, aluna do sétimo semestre de Biologia.
“Ele relatou em uma aula que antigamente ele usava a medida do busto das meninas [para explicações gerais] mas ele tinha parado com isso porque as pessoas reclamavam. Dizia isso como se não fosse nada, mas era bem desconfortável estar perto dele”, disse.
A estudante afirma que, sabendo que o professor seguiria dando aulas, as próprias veteranas alertavam as calouras sobre os comportamentos impróprios do docente. Entretanto, isso gerava inclusive prejuízos acadêmicos para os estudantes.
“Por exemplo, eu gosto da área em que ele trabalha, mas eu jamais tentei entrar no laboratório porque não queria ficar perto dele. Então assim, dá um pouco de alívio, mas eu acho que ainda tem muita coisa a ser feita. Ele tem que ser demitido, esse é o mínimo”, afirmou.