Primeira audiência sobre execução de Matheus dura 7h e é marcada por emoção do capitão Xavier

A primeira audiência sobre a execução do acadêmico Matheus Coutinho Xavier, 20 anos, filho do capitão PM reformado Paulo Roberto Teixeira Xavier, de 42 anos, durou pouco mais de 7 horas nesta segunda-feira (02), ouvindo seis das 15 testemunhas de acusação previstas, sendo que uma delas prestará depoimento por carta precatória, enquanto outras duas foram dispensadas por alegarem problemas de saúde mental.

A audiência foi marcada pela emoção do Capitão Xavier, que, na verdade, seria o alvo dos pistoleiros, que mataram o filho dele por engano. Primeira testemunha a ser ouvida, ele contou detalhes sobre o dia da morte de Matheus Xavier, a angústia da tentativa de salvamento e as desconfianças que tem em relação a suposto grupo criminoso liberado pelos empresários Jamil Name, 83 anos, e Jamil Name Filho, 42 anos, que estão presos no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

O jovem foi assassinado no dia 9 de abril de 2019, no Jardim Bela Vista, em Campo Grande (MS), enquanto manobrava a caminhonete do pai para buscar os irmãos na escola. O Capitão Xavier conta que estava dentro de casa quando ouviu os tiros, que vitimaram Matheus. “Quando saí no portão, uma pessoa disse: ‘atiraram numa pessoa dentro da caminhonete’. Quando saí, vi meu filho todos cheio de sangue, na boca, no braço”.

Desespero

Ele narra todo o desespero que sentiu ao tentar salvar Matheus. “Fui me deslocando para a Santa Casa, dirigindo só com uma mão. Disse: ‘calma meu filho, que o pai te ama’. Mas, em certo momento, ele parou de respirar e passei pelo canteiro central da Afonso Pena”, diz emocionado.

Segundo o depoimento, os bombeiros ajudaram a abrir caminho para levar o estudante para o hospital, mas o rapaz não resistiu. Xavier relata ainda que dois dias antes do assassinato, viu um ônix branco, onde estavam Juanil e José Moreira, vigiando a casa.

Caça-níqueis

A testemunha também contou de seus anos na apreensão de máquinas de caça-níqueis e, depois do trabalho para o jogo do bicho. Lembrou-se das ameaças de morte, da vez em que foi preso e dos interesses da família Name em terras do advogado Antônio Augusto de Souza Coelho. Finalizou concluindo seu raciocínio que liga a família Name ao assassinato do filho.

Ainda em sua fala no plenário do Tribunal do Júri, ele disse ter sido procurado pelo desembargador aposentado Joenildo de Souza Chaves, ex-presidente do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), como emissário do homem acusado como mandante do crime, o empresário Jamil Name.

Videoconferência

Como estão no Presídio Federal de Mossoró, Jamil Name e Jamilzinho apenas acompanharam a audiência por viodeoconferência, pois nesse primeiro dia não foram ouvidos. A audiência começou com quase três horas de atraso, às 16h18, devido à dificuldade de estabelecer contato, por videoconferência, com o presídio federal, onde estão quatro dos presos denunciados, que precisam acompanhar os depoimentos.

O processo sobre a morte do estudante envolve sete réus. Testemunha-chave da “Operação Omertà”, Eliane Benitez Batalha dos Santos, esposa do ex-guarda civil municipal Marcelo Rios, também prestou depoimento voltou atrás em sua versão sobre as acusações contra o marido de envolvimento em crimes de pistolagem.

Benitez, que chegou a pedir para ser colocada em programa de proteção à testemunha, na frente do juiz e promotores fez afirmações contrárias a praticamente de teor de 80 minutos de conversa com as autoridades, gravados, em agosto do ano passado, depois de procurar as autoridades para pedir ajuda por estar sob ameaça. As declarações foram usadas fartamente nas peças acusatórias aos réus da operação Omertà.

Em uma fala com muito choro em dado momento, ela relembrou o período de cinco dias no qual ficou em alojamento do Garras dizendo que nessa fase os filhos ouviram diversas vezes ameaças de que os pais seriam mortos. Reclamou de comer “comida de presídio” e disse ter sido impedida de manter contato com a família, mesmo quando os policiais aceitaram levá-la em casa para buscar roupas, por exemplo.

Eliane Benitez mudou inúmeros pontos das declarações à força-tarefa, todos incriminadores do marido e dos outros investigados. No depoimento gravado no ano passado, admitiu que o marido era segurança de Jamil Name Filho, alvo da operação junto com o pai, Jamil Name, e disse que Rios ficou bastante nervoso na semana da morte de Matheus Coutinho Xavier e, ainda, que recebeu ameaças de pessoas ligadas à família Name logo depois dos fatos.

Ontem, ela negou tudo. Afirmou que não conhecia os Name, disse só ter tido contato com Jamilzinho quando precisou pedir ajuda à família. Afirmou, ainda, que jamais soube que o marido fazia trabalho de escolta ou segurança na casa dos empresários.

Segundo ela, Marcelo Rios tinha “vários bicos”. Sobre o trabalho com os Name, afirmou, chegava a mandar fotografias montando bonecas ou ajeitando cobertores para entrega a famílias. Admitiu ter recebido R$ 1050,00 de Jamilzinho, mas disse que esse valor era referente aos dias trabalhados pelo ex-guarda civil.

Outro ponto importante em que Eliane mudou sua fala foi com relação à informação relatada por ela, anteriormente, de que o marido estava nervoso após a morte de Matheus Coutinho Xavier e isso tinha a ver com o erro cometido, na contratação dos pistoleiros, atribuída a ele pelo trabalho investigatório. O alvo, segundo apurado, era o pai do rapaz, o policial militar Paulo Roberto Teixeira Xavier.

Nesta segunda, ela disse que Rios estava nervoso em razão do trabalho durante a Expogrande, por estar enfrentando problemas com a equipe de guardas contratada para atuar na feira rural. Essa informação surgiu agora. Também assegurou nunca ter visto armamento em casa além do que o marido usava na Guarda Municipal. Na gravação à força-tarefa, ela conta ter visto o arsenal apreendido com Marcelo Rios quando foi preso, em 19 de maio do ano passado.

Escrivão

Um dos policiais da investigação, o escrivão Giancarlos de Araújo e Silva, foi ouvido também na sessão de hoje e contrapôs as falas de Eliane quanto à estadia no Garras. Segundo ele, a mulher de Marcelo Rios foi procurada pela equipe policial a pedido do ex-guarda, por estar temendo pela vida dela, em razão de ameaças.

Como o caso era urgente, explicou o policial do Garras, mãe e filhos foram levados para a delegacia, onde ficaram em alojamento dos agentes de segurança, desocupado para abrigá-los, até que fosse viabilizada inclusão em programa de proteção à testemunha. A alimentação era providenciada pelos próprios policiais.

Mato Grosso do Sul não tem iniciativa específica para proteger testemunhas e por isso era preciso acionar o governo federal para tanto. Eliane ficou cinco dias na delegacia e, nesse intervalo, acabou desistindo de colaborar com as investigações, depois de o marido ser transferido para cela do CT (Centro de Triagem) Anízio Lima.

O agente de segurança lembrou que há vídeos de câmeras de segurança mostrando integrantes do grupo alvo da operação levando Eliane até um banco na avenida Júlio de Castilhos, onde entregaram dinheiro a ela, para que ficasse em silêncio sobre o que sabia, de acordo com os levantamentos.

De acordo com o policial, ela decidiu não permanecer na delegacia depois de conversar, por celular, com o advogado Alexandre Franzoloso. O profissional é réu em uma das ações da Omertà, justamente por coação de testemunha. A prisão dele chegou a ser solicitada, mas um habeas corpus foi concedido pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) antes do cumprimento.

A alegação de tortura na delegacia chegou a ser apurada pela Corregedoria da Polícia Civil e foi arquivada. A audiência em que Eliane foi ouvida é a primeira do processo contra os réus pela morte de Matheus. As sessões continuam nesta terça-feira, pois são 13 testemunhas a serem ouvidas. Eram 15, mas duas foram dispensadas. Com informações do sites Campo Grande News e TopMídia News.