A ganância da CCR MSVia, concessionária que explora o serviço de pedágio na BR-163 em Mato Grosso do Sul, está “escondendo” dos motoristas as rotas alternativas para escaparem dos congestionamentos quilométricos que estão ocorrendo no trecho da rodovia que sofreu solapamento, no limite dos municípios de Campo Grande e Jaraguari, depois de barragem do Nasa Park romper.
Indiferente com os compromissos dos motoristas, principalmente os de carretas e caminhões, a concessionária só pensa no pedágio que deixará de receber caso os condutores se utilizem das outras estradas. Na quarta-feira (21), a fila de veículos chegou a ultrapassar os dez quilômetros em cada lado do local onde a pista sofreu danos em decorrência do rompimento da represa do condomínio de luxo.
Conforme estimativa da PRF (Polícia Rodoviária Federal), motoristas estavam perdendo em torno de três horas para seguirem viagem e, isso, em um dia em que os termômetros chegaram a 36,6ºC e a umidade mínima do ar caiu para apenas 12%. No começo da manhã de ontem (22), o tamanho da fila e o tempo de espera estavam menores que no dia anterior, mas a própria assessoria da CCR MSVia esclareceu que a fila aumentaria próximo ao horário do almoço.
E, questionada por que não existiam informações para que os condutores optassem por vias alternativas, a assessoria garantiu que essas informações seriam incluídas no site da empresa. Essa rota alternativa, principalmente para veículos de carga, começa na altura do quilômetro 495 da BR-163, segue pelo anel viário até a MS-080.
Por essa rodovia é possível passar por Rochedo, Corguinho e Rio Negro. No outro, o trajeto alternativo de Campo Grande a São Gabriel do Oeste. Depois de Rio Negro é possível retornar à BR-163 pela MS-430, chegando a São Gabriel do Oeste. Neste caso, a distância entre a Capital e São Gabriel aumenta em 80 quilômetros, percurso que se percorre em tempo bem inferior às três horas que se perde no congestionamento.
Mas, também existe a possibilidade de, após Rio Negro, acessar a BR-419 e seguir até Rio Verde de Mato Grosso (MS). Neste caso, o percurso aumenta somente em 25 quilômetros na comparação com a viagem pela BR-163 entre a Capital e Rio Verde.
Tanto quem optar em retornar à BR-163 a partir de São Gabriel quanto aqueles que forem até Rio Verde escapam de duas praças de pedágio. Somando as duas taxas, são R$ 14,50 por eixo. E são justamente estas praças de pedágio que possivelmente explicam o desinteresse da concessionária em informar aos condutores que poderiam optar pelas rotas alternativas.
Em outros eventos semelhantes de interdições, uma série de painéis luminosos volantes foram instalados ao longo da rodovia para informar aos condutores sobre a possibilidade de “fuga”. Desta vez, porém, o único luminoso que existe na saída de Campo Grande para Cuiabá é um que informa a existência de um “pare e siga” mais à frente.
Na praça de pedágio entre Campo Grande e Jaraguari, da qual fugiriam os caminhoneiros que optassem pela MS-080, passaram 255.800 veículos em junho, conforme dados da CCR. Isso significa quase 8,5 mil por dia. Destes, 112.292 eram caminhões, o equivalente a 3,7 mil por dia.
E, supondo que, em média, estes caminhões tenham sete eixos, o faturamento diário chega à casa dos R$ 190 mil. Então, se orientasse os caminhoneiros a evitar a fila quilométrica, automaticamente ficaria sem parte deste faturamento.
No pedágio entre Bandeirantes e São Gabriel do Oeste, o tráfego foi um pouco menor, de 181.614 veículos em junho. Deste total, 90.851 foram caminhões. Seguindo o mesmo raciocínio, o faturamento somente com os caminhões é da ordem de R$ 150 mil por dia.
Então, se a fila próximo ao local da interdição parcial continuar gigantesca, a chance de continuar faturando os R$ 340 mil por dia nos dois locais de cobrança continuará viva ao longo das duas semanas em que devem se estender os trabalhos de recuperação da rodovia.