Foragidos do grupo que cavou túnel para roubar BB na Capital ajudam “novo cangaço”

Pelo menos sete foragidos do grupo criminoso que cavou um túnel no Bairro Coronel Antonino, em Campo Grande (MS), para roubar uma agência do Banco do Brasil em 2019 estariam envolvidos nas ações criminosas ocorridas no dia 1º de dezembro de 2020 em Criciúma (SC) e no dia 2 de dezembro de 2020 em Cametá (PA), denominadas de “novo cangaço”. A informação é da Polícia Civil do Pará, que, em conjunto com a Polícia Federal, encontrou indícios de que bandidos que integraram esse grupo estão colaborando com os responsáveis pelo “novo cangaço” no País.

Para quem não se lembra, no dia 22 de dezembro de 2019, a Polícia de Mato Grosso do Sul descobriu que a quadrilha alugara uma casa nas cercanias do prédio-alvo do banco e cavara um túnel de 70 metros de comprimento que daria justamente no depósito onde são guardadas as notas que abastecem os caixas eletrônicos do BB na Capital e de cidades vizinhas. Se bem-sucedido, o crime renderia R$ 200 milhões, mas, felizmente, a ação criminosa foi descoberta e sete pessoas acabaram presas e outras duas morreram em confronto com os policiais.

Desde então, outros 13 integrantes da quadrilha foram localizados e presos, incluindo os dois principais líderes do bando: o acusado “Veio”, apontado como o mentor do crime e localizado em Marília (SP) escondido na casa de familiares; e o ex-policial militar Leandro Charias, mais conhecido como “Nego Charias”, acusado de planejar e atuar em pelo menos 30 roubos em todo o Brasil e preso em São Paulo (SP). Seriam os seus pupilos, justamente os sete acusados já identificados, porém foragidos, convidados a atuarem no “novo cangaço”, sendo que o principal desses pupilos é um gaúcho de Novo Hamburgo.

Braço direito de “Nego Charias”, ele era o responsável por planejar os bancos alvos da quadrilha, entre as principais atribuições estava a localização de agências ou sedes bancárias que poderiam virar alvo. No dia da operação que prendeu o ex-chefe, ele conseguiu fugir da cidade do Rio Grande do Sul após ser avisado por vizinho da chegada das viaturas. Na avaliação da Polícia do Pará, após o fracasso em Campo Grande, que deixou a quadrilha em grande prejuízo financeiro, o conhecimento do gaúcho seria útil para encontrar alvos para o “novo cangaço”.

Um exemplo são as agências-alvos dos criminosos em Criciúma. Não era para menos sua participação. Segundo as polícias de Mato Grosso do Sul e São Paulo levantaram, “Gaúcho” tem ramificações maiores que as que cultivava com “Nego Charias”. Já atuara ao lado de Diego Capistrano, mentor de um mega-assalto de R$ 51 milhões a uma transportadora de valores de Ribeirão Preto (SP) que deixou duas pessoas mortas, Luciano de Castro Oliveira, o “Zequinha”, acusado até de roubar bancos dentro de aeroportos, e José do Carmo Silvestre, o “Pintado”, um dos maiores especialistas em “novo cangaço”, com mais de 25 ações do tipo no currículo.

“Nego Charias”, “Zequinha”, “Pintado” e Capistrano estavam na lista dos maiores procurados da PF em todo o país e tinham em comum ações ocorridas em áreas da fronteira de Mato Grosso do Sul e Paraná com o Paraguai. “Gaúcho é hoje um dos maiores especialistas em roubos e ataques a instituições financeiras do Brasil em liberdade”, sacramentou Walter Resende, delegado-geral da Polícia Civil paraense. “Ele dificilmente atua de forma ostensiva, na linha de frente. Seu trabalho é mais de inteligência. Hoje em dia, os bandidos estão menos impulsivos”.

E acusados como o “Gaúcho” possuem o papel fundamental de definir a estratégia, buscando um lucro maior do que simplesmente entrar atirando em uma agência ou distribuidora de valores. “Os criminosos estão evoluindo no sentido de correr menos riscos, ao tempo que tornam suas ações mais vantajosas”, disse Lucélio Martins França, tenente-coronel PM de Mato Grosso do Sul.  “Há um planejamento maior que faz com que esses assaltos sejam mais precisos e certeiros e consigam trazer uma grande monta de valores”.

Para França, os gestores da segurança pública não sabem como aplicar os conceitos de integração e inteligência para combater o crime. “Ter um plano de defesa ou contenção bem estruturado pode ser uma das poucas formas de prevenir e agir diante a essa modalidade criminosa”, disse. Afinal, se bem planejadas, as ações criminosas podem ser bem recompensadas. Segundo o livro, mega-assaltos a bancos e bases-fortes de empresas de guarda de valores no país levaram ao menos R$ 515 milhões nos últimos cinco anos. Com informações do jornal O Estado MS