Após ultimato dos EUA, Paraguai recua e reativa parceria com DEA contra o narcotráfico

Após ultimato dos Estados Unidos, o governo do Paraguai decidiu recuar e reatar o acordo da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai) com a DEA (Drug Enforcement Administration), instituição norte-americana responsável pelo combate ao narcotráfico, para atuar na luta contra os narcotraficantes no país vizinho a Mato Grosso do Sul.

No dia 6 de dezembro deste ano, o ministro Jalil Rachid, da Senad, enviou uma espécie de carta à embaixada dos Estados Unidos no Paraguai informando que estava encerrando a parceria com a DEA.

O tema veio a público por meio do jornal norte-americano The Washington Post, um dos mais renomados dos Estados Unidos, e o rompimento acabou gerando grande polêmica no país vizinho, onde o tráfico de maconha e de cocaína estão infiltrados em todas as instituições.

Na sequência, porém, as autoridades paraguaias alegaram que não estavam abrindo mão da ajuda dos EUA e que esta parceria, a partir de agora, seria com a Polícia Nacional, que é a “polícia comum” do país vizinho.

Dias depois, porém, o governo dos Estados Unidos informou que, uma vez encerrada a parceria com a Senad, um grupo de elite da polícia com cerca 300 integrantes, também não haveria colaboração com nenhuma outra força policial paraguaia. Os EUA alegaram que o acordo assinado em 2022 previa que a colaboração seria exclusivamente com a Senad.

Diante disso, não restou outra alternativa ao governo paraguaio a não ser reatar a parceria entre a Senad e a DEA, informou nesta quinta-feira o ministro Jalil Rachid. Em entrevista coletiva, ele alegou que não tinha conhecimento de que essa parceria não poderia ser feita entre a DEA e a Polícia Nacional.

O grupo de elite da polícia que integra a Senad tem forte presença na região de fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul, principalmente em Pedro Juan Caballero. Além de receber informações e treinamento da polícia dos EUA, recebe equipamentos e ajuda financeira dos norte-americanos.

A parceria entre a Senad e a DEA foi firmada ainda durante a ditadura do ex-presidente Alfredo Stroessner, que comandou o Paraguai durante quase 35 anos, de agosto de 1954 até fevereiro de 1989.

O rompimento da parceria foi interpretado como uma espécie de vitória dos narcotraficantes, que a partir de agora passariam a ter ainda mais liberdade para despachar seis carregamentos pelo Paraguai, que nos últimos quatro anos passou a ser um dos principais corredores mundiais da cocaína.

Um dos primeiros a reagir contra o rompimento foi o ex-presidente Mario Abdo Benitez, que classificou o rompimento como um “grande retrocesso” no combate ao narcotráfico, que, segundo ele, não tem mais fronteiras. O deputado colorado Maurício Espínola é outro que não poupou críticas.

“Sem cooperação internacional, a luta contra o crime organizado é impossível”, afirmou, segundo reportagens do jornal ABC Color, o principal do país vizinho. Segundo outro deputado, Gerardo Soria, este é mais um passo para transformar o Paraguai em um “Narcoestado”.

Conforme oposicionistas, o rompimento aconteceu depois de uma operação policial na qual foi morto o deputado Lalo Gomes, em 19 de agosto deste ano, em Pedro Juan Caballero, cidade que faz divisa com Ponta Porã.

Lalo Gomes era investigado por supostamente ser o responsável pela lavagem de dinheiro de traficantes com Fernandinho Beira-Mar, Cabeça Branca e o sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão. Oficialmente, ele teria reagido a tiros a uma operação policial em sua casa. Para familiares, porém, ele teria sido executado por agentes da Senad.

Para deputados de oposição ao atual governo, com este rompimento pretende-se impedir que a DEA interfira nas investigações que poderiam resultar na descoberta que integrantes do Governo fazem parte de grupos de narcotraficantes, principalmente de cocaína.