A especialista em desenvolvimento urbano Maria Lúcia Torrecilha defendeu a quebra do monopólio do Consórcio Guaicurus no transporte coletivo urbano no município de Campo Grande (MS).
Para ela, a falta de competitividade no serviço gera tranquilidade ao Consórcio Guaicurus. “Tem que ter outros modais. Isso desafia também para eles, causa um medo, por exemplo. Eles estão tranquilos, reinam”, afirmou.
Maria Torrecilha reforçou que a “tranquilidade” se comprova ao longo das declarações de diretores e funcionários das empresas à CPI do Ônibus, que foi criada pela Câmara Municipal de Campo Grande para investigar o transporte coletivo urbano do município.
Em 18 de junho, o atual diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira, insistiu em barreiras para instalação de ar-condicionado nos ônibus. Além disso, manteve posicionamento de que o Consórcio não renovará a frota em Campo Grande até que receba aporte.
Também em oitiva, o diretor de operações do Consórcio, Paulo Vitor Brito de Oliveira, confirmou que as empresas usam frota vencida para atender aos usuários do transporte coletivo em Campo Grande.
Na CPI, o funcionário disse que são quase 100 ônibus acima dos 10 anos — idade máxima para circulação de ônibus prevista no contrato de concessão. “Precisa ter uma alternativa. Porque eles dominam, eles fazem o que eles querem”, alertou a especialista.
Ainda no depoimento à CPI, o atual diretor-presidente da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito de Campo Grande), Paulo da Silva, admitiu que não multa ônibus do Consórcio Guaicurus por superlotação. Contudo, disse que a Agência penaliza veículos de passeio com mais passageiros do que a capacidade em Campo Grande.
A falta de penalização ao Consórcio aumenta o cenário sem mudanças e melhorias para a população. Maria Lúcia disse que o grupo não se sente ameaçado. “Por que que vai mudar? Se não tem multa, se não tem uma ameaça junto ao grupo. Eles não se sentem ameaçados”, destacou.
Um dos caminhos para o fim do ‘monopólio’ seria a relação intermodal, apontou a especialista. Maria Lúcia explicou que os modais são a combinação de alternativas para o transporte público.
Entre as opções existentes pelo mundo, citou trem, ônibus, vans, metrôs e até barcas. Em Campo Grande, uma alternativa viável seria o uso dos trilhos para ligar regiões do município.
“Aqui, [em] todo o Centro de Campo Grande foi desmobilizada inteirinha a via férrea. Se estivesse adequada, você iria ali do centro da Feirona, na Estação, até a Universidade, assim, em minutos. A cidade inteira estava preparada para isso”, lembrou.
A falta de alternativas gera “um domínio do transporte coletivo via ônibus”. Sem metrô ou alternativas aos coletivos, Campo Grande enfrenta também o aumento de usuários de aplicativos.
“Uberização forte também na cidade, porque não [se] consegue o transporte coletivo”, pontuou sobre a escolha. Contudo, Maria Lúcia fez uma ressalva sobre o uso dos aplicativos de transporte. “Quem tem um pouquinho mais de recurso [é] que está usando o Uber”.