As invasões de terra em Mato Grosso do Sul atingiram um nível tão avançado que os invasores não estão mais respeitando nem os seus maiores defensores perante a sociedade.
Em Rio Brilhante (MS), a Fazenda do Inho, propriedade de pouco mais de 300 hectares, foi reocupada nesta semana por indígenas da etnia Guarani-Kaiowá. Até aí tudo bem, afinal, invadir propriedade rural no Estado é como coçar, depois que começa, não para mais.
O problema é que a dita propriedade rural é do presidente do diretório do PT em Rio Brilhante, José Raul das Neves Junior. Ou seja, é a velha história do poste “mijando” no cachorro, pois o partido é o maior defensor do direito de invasões de terras por pessoas que precisam.
Segundo os indígenas, a invasão da fazenda foi motivada porque a propriedade estaria dentro da Terra Indígena Laranjeira Nhenaderu, reivindicada pelos indígenas.
Além dos indígenas, que reivindicam a área alegando que há um estudo antropológico que indica que o local pertencia a seus ancestrais, o local também é cobiçado por outro ator importante dos conflitos agrários brasileiros e sul-mato-grossenses: o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).
O Correio do Estado tentou contato com José Raul das Neves Júnior, o dirigente petista que é dono da fazenda, mas ele alegou que estava na estrada, não poderia falar e que retornaria assim que fosse possível.
Os indígenas e os sem-terra têm historicamente uma ligação com o PT e, por isso, a direção estadual do partido estaria manobrando para contornar a situação da melhor maneira possível: a mais fácil delas, seria afastar José Raul das funções de direção da sigla no município.
A fazenda ocupada pelos indígenas é de fácil acesso e até por isso tem uma localização nobre. Está situada exatamente às margens do Rio Brilhante, na BR-163, logo após a praça de pedágio. No outro lado da margem do rio, está o município de Douradina (MS).
Enquanto a situação não se resolve, o proprietário das terras alega que pode ter prejuízos financeiros. A fazenda está arrendada e há 280 hectares de soja plantados, sendo que somente 40 hectares foram colhidos.
A primeira ocupação pelos indígenas ocorreu na madrugada do dia 3 de março, quando algumas dezenas de indígenas entraram no local e expulsaram os funcionários.
Na ocasião, a Polícia Militar prontamente acionou um chamado do advogado do proprietário da fazenda, o dirigente do PT, e expulsou os índios do local.
A maioria dos indígenas deixou o local e três deles, conforme relatos oficiais, teriam resistido à atuação dos policiais, e por isso foram presos autuados por turbação da posse e esbulho possessório.
De acordo com o secretário Estadual de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, a PM agiu para preservar vidas.
As entidades de defesas dos indígenas, por sua vez, acusam a prisão de ter sido ilegal. O secretário, novamente, em tréplica, informou que a magistrada da cidade teria mantido a prisão em flagrante dos três indígenas em audiência de custódia.
Na última quarta-feira, porém, a Fazenda do Inho, porém, voltou a ser ocupada pelos indígenas. Mais de 200 Guaranis-Kaiowas tomaram o local.
Desta vez, os funcionários foram expulsos. Segundo a liderança Guyra Arandú que está no local, a movimentação serve para “acabar com as muitas décadas de dureza, fome, violência, racismo, veneno, intoxicação, confinamento, ameaças e trapaças dos fazendeiros, para poder garantir a Constituição Federal”.
Membro do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) em Mato Grosso do Sul, Matias Benno Pempel destacou ao Correio do Estado que a retomada se deu de forma mais incisiva após a Polícia Militar sul-mato-grossense ferir as lideranças com balas de borracha.
Os indígenas disseram que irão liberar que os proprietários da lavoura de soja façam a colheita da safra. “Não queremos causar prejuízo”, disse uma fonte. Segundo Benno, os indígenas alocados em Rio Brilhante esperam dialogar diretamente com a presidente da Fundação, Joênia Wapichana.
De acordo com o indigenista, o Governo do Estado “não pode usar a Polícia como ‘cão de guarda'”. Os guardas privados, assim como a Polícia Militar já deixaram o local.
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