Os detalhes do caso vieram a público através de ação judicial protocolada contra o ex-prefeito, o autônomo Diego Aparecido Francisco, 37 anos, e a gerente do Banco Safra, Alessandra Carrilho de Araújo.
O inquérito foi aberto em maio do ano passado na DedFaz (Delegacia Especializada na Repressão de Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários) e, conforme o boletim de ocorrência, o casal de comerciantes foi procurado por Gilmar Olarte em novembro de 2020 para intermediar uma “oportunidade de negócio imperdível”.
Um prédio comercial na Avenida Marechal Deodoro, no Jardim Tijuca, estaria indo a leilão por R$ 350 mil. Para “ajudar” o casal de amigos, o ex-prefeito indicou Diego Francisco, que seria “advogado especializado em transações imobiliárias” para ajudá-los a fechar mais rapidamente a compra do imóvel.
Para intermediar a transação, ele cobrou R$ 60 mil e, de acordo com o braço direito do ex-prefeito, os comerciantes deveriam dar R$ 50 mil como sinal, que foi feito com a entrega de R$ 15 mil em dinheiro, mais transferência de R$ 15 mil e dois cheques de R$ 10 mil, que foram descontados em novembro e dezembro de 2020.
Além de ajudá-los a comprar o imóvel no leilão, Diego Francisco se prontificou a viabilizar um empréstimo de R$ 1 milhão no Banco Safra. O financiamento teve o aval da gerente, Alessandra Carrilho de Araújo, que se reuniu com o casal no escritório do intermediador, no Edifício Evolution, um prédio de salas comerciais nos altos da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande. Graças ao empréstimo de R$ 350 mil do banco, o casal acabou repassando o dinheiro para Diego Francisco quitar a compra do prédio comercial.
Segundo o relato do empresário, com o passar do tempo, ele acabou descobrindo que não existia leilão nenhum. Pressionado, Gilmar Olarte ainda tranquilizou o fiel de que tudo estava dando certo. Ele garantiu que todos os atos eram “lícitos e regulares”.
No entanto, a venda jamais se concretizou. De acordo com a denúncia do casal, Diego Francisco ainda cobrou mais R$ 100 mil para resolver outros negócios e problemas. Ele até vendeu um caminhão por R$ 27 mil, mas jamais entregou o veículo.
Ao ser cobrado pelo casal e diante das ameaças de levar o caso à Polícia, Diego Francisco passou a depositar cheques de altos valores na conta da empresa dos comerciantes. No entanto, os cheques de R$ 100 mil, em nome de Gilmar Olarte, de R$ 300 mil e R$ 323 mil, em nomes de outros estranhos, acabaram devolvidos por falta de fundos.
Em depoimento ao delegado Geraldo Marim Barbosa, titular da DedFaz, o casal estima que acumulou prejuízos de R$ 800 mil com o golpe.
O banco tinha prometido dar seis meses de carência. No entanto, já em janeiro do ano passado, a instituição passou a cobrar a parcela de R$ 18 mil pelo financiamento. Até a ação judicial ser protocolada, o Safra já tinha cobrado cinco parcelas. Olarte foi preso em maio do ano passado após protelar o cumprimento da sentença mediante uma série de recursos judiciais.
Ele foi condenado por dar o golpe do cheque em branco nos fiéis da Assembleia de Deus Nova Aliança, igreja que ele fundou em Campo Grande. A Seção Especial do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) o condenou no dia 24 de maio de 2017.
O ex-prefeito também foi condenado a quatro anos e seis meses por lavagem de dinheiro. Ele investiu R$ 1,3 milhão na compra de um lote e na construção de uma mansão no Residencial Damha.
A obra foi suspensa após ele deixar o cargo de prefeito em agosto de 2015. Em depoimento à Polícia, Diego Francisco negou que tenha dado golpe no casal. Ele contou que intermediou a compra do imóvel, que estaria custando R$ 200 mil. No entanto, o corretor informou que o prédio estava avaliado em R$ 800 mil e o casal acabou desistindo do negócio porque não tinha o restante do dinheiro.
Sobre o financiamento, ele contou que intermediou para ajudar os empresários porque conhecia a gerente do Banco Safra. Já a gerente informou que aprovou o financiamento do empréstimo, mas não tinha conhecimento dos golpes. Após tomar conhecimento, ela passou a monitorar os outros empresários que teriam sido encaminhados por Diego Aparecido Francisco.
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