Três pessoas jurídicas de Dourados que apoiaram os bloqueios de rodovias em protesto contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 fizeram acordo com o MPF (Ministério Público Federal) para impedir as ações judiciais.
Trata-se do CTG (Centro de Tradições Gaúchas) Querência do Sul, Clube de Tiro Raiz e MJA Materiais de Construção (nome fantasia Granville Materiais de Construção).
Segundo o site Campo Grande News, além de pagar valores destinados à entidade assistencial, as empresas admitiram os atos ilegais e se comprometeram a não praticar outras ações do gênero.
Investigação da Polícia Federal revelou que o CTG cedeu sua área para acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que no dia seguinte à eleição bloquearam a Avenida Guaicurus (MS-162) em frente ao quartel 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada do Exército. Assim como ocorreu em várias cidades brasileiras, o grupo pediu intervenção militar.
Além de ceder área do CTG para montagem das barracas, o clube também teria fornecido água e estrutura para preparo de alimentos consumidos pelos manifestantes. Pelo acordo, o CTG vai pagar R$ 10 mil para o Lar de Crianças Santa Rita.
Assinado pela procuradora da República Samara Yasser Yassine Dalloul, o acordo cita que o Clube de Tiro Raiz foi apontado pela Polícia Federal como um dos financiadores do bloqueio montado no Trevo da Bandeira, que liga a Avenida Hayel Bon Faker às BRs 163 e 463, na região sul de Dourados.
O bloqueio durou vários dias e só foi encerrado após atuação da PRF (Polícia Rodoviária Federal) por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O principal incidente ocorrido no local durante o protesto foi o incêndio de um Fiat Uno que passou sobre o bloqueio de pneus em chamas. O carro ficou totalmente destruído, mas o motorista não sofreu ferimentos.
Para evitar a ação judicial, o clube de tiro se comprometeu a pagar R$ 4 mil ao Lar Santa Rita. Segundo a investigação, a empresa fez transferência via PIX para bancar os atos ilegais.
Já a empresa Granville Materiais de Construção, segundo investigações da PF, forneceu um de seus caminhões para participar do bloqueio no Trevo da Bandeira. Localizada no Residencial Greenville, a empresa aceitou pagar R$ 10 mil ao Lar Santa Rita.
“Estes movimentos reivindicatórios, não obstante possam traduzir a insatisfação com determinado fato político-social nacional, não podem, em hipótese alguma, ter por pauta a defesa de ações tendentes a gerar a ruptura da ordem constitucional vigente, a exemplo da defesa de golpes de Estado mediante o uso da força, de impedimento da diplomação de candidatos eleitos, de desobediência ao resultado de eleições livres e democráticas, visto poderem traduzir-se em discurso antidemocrático e, em tese, em crime contra as instituições democráticas”, afirmou a procuradora.
Em abril do ano passado, a “patroa” do CTG Querência do Sul, Rosane Elizete Pederiva, já havia firmado “acordo de não persecução penal” com o MPF para evitar ação penal também por apoiar os atos antidemocráticos.
Além dela, outros douradenses que firmaram acordos foram os empresários Douglas Utida, dono de restaurante na cidade; Alexandre Saad Lorensini, dono de incorporadora que comercializa imóveis de luxo e loja de produtos agropecuários; e José Carlos Rozin, dono de empresas de terraplanagem e engenharia.