Segundo interceptações telefônicas, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues Gomes, teria, em uma operação ainda não especificada pelos investigadores, mandado R$ 100 mil a Cezário, conforme conversa captada em julho do ano passado.
O dinheiro envolvido no esquema seria parte de um “acordo” fechado entre os mandatários nacional e regional. Denunciado pelo suposto desvio de R$ 10 milhões, Cezário foi preso no dia 21 do mês passado e solto 16 dias depois, em 6 de junho, por força de uma liminar definida pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
O presidente afastado da FFMS sofreu um princípio de infarto na prisão, ficou em estado grave, foi levado para o hospital, submetido a um cateterismo e, de lá, monitorado por tornozeleira eletrônica, seguiu para a casa, onde cumpre prisão domiciliar.
Conforme o site O Jacaré, em trecho da denúncia do Gaeco, preparada em 253 páginas, é reportado o diálogo entre Francisco Cezário e Romeu Castro, que é assessor da presidência da CBF para as seleções femininas de futebol, em que conversam sobre o envio de R$ 100 mil que Ednaldo, o chefão da CBF teria mandado para Cezário.
Pelo descrito na interceptação, a investigação do Gaeco mostra que Romeu, que usa número de telefone celular do Rio de Janeiro na conversa com Cezário, trata de assunto com certa destreza indicando que sabe como funciona a CBF e os meios de captar recursos ilegalmente. Veja trecho da denúncia.
“No dia 19/07/2023, homem identificado como Romeu liga para FRANCISCO CEZÁRIO DE OLIVEIRA (“CEZÁRIO”) e informa que o “WhatsApp está com problemas e que não está dando para falar por ele”, revelando que evitam falar ao telefone, com receio de serem monitorados”.
Em seguida, conforme o Gaeco, os dois falam de cifras: “Ato contínuo, Romeu liga para FRANCISCO CEZÁRIO DE OLIVEIRA (“CEZÁRIO”) e questiona se o Presidente da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, Ednaldo Rodrigues, teria cumprido a promessa (“EDINALDO cumpriu o que prometeu pra CESARIO”), quando recebe a resposta “ele mandou 100 mil reais (…) EDNALDO prometeu que vai dar o resto, e que cortou pela metade o que ele iria manda”.
Ou seja, a “promessa”, então, seria o envio de R$ 200 mil, já que o mandatário nacional teria “cortado pela metade”. Nota-se, também, que não é dito os motivos do repasse de R$ 100 mil, e o que a soma ia bancar, algum projeto, nada, nada é dito.
“Dias depois, em 25/07/2023, FRANCISCO CEZÁRIO DE OLIVEIRA (“CEZÁRIO”) volta a falar com Romeu e pergunta se “nós não temos um jeito de inventar um projeto pra nós ganhar dinheiro cara, um projeto ali por exemplo (n/c) ali no interior de SÃO PAULO tem um projeto da, das, dos times de futebol das prefeituras, não sei se você conhece esse projeto o ADACHITO uma vez trabalhou nele, você lembra ou não?”.
Prossegue o diálogo; até nome de deputado petista é mencionado: “No decorrer da conversa, FRANCISCO CEZÁRIO DE OLIVEIRA (“CEZÁRIO”) fala que “Vamos ter que tentar pelo menos um, ou dois, ou três projetos. Um projeto de fazer sabe, hoje o PT, o VANDER, o DEPUTADO VANDER [Loubet, deputado federal do PT de MS] é um cara amigo nosso aqui e tal, OS CARAS ESTÃO COM MUITO DINHEIRO HOJE, FALA MUITO, MUITO, MUITO DINHEIRO, de repente arrumar uma área aqui em CAMPO GRANDE da prefeitura e nóis fazer [sic] um projeto de um CT (Centro de Treinamento) entendeu?”.
Ainda de acordo com o diálogo, os dois seguem tratando de dinheiro, não de modo institucional, legal. Dá para entender que os valores eventualmente captados seriam de forma ilegal, construída por supostas trapaças. “Em dado momento, enfatiza “ENTENDE ROMEU? EU ESTAVA PENSANDO VAMOS, TÁ LOUCO RAPAZ NÓS PRECISAMOS GANHAR DINHEIRO DESSE FUTEBOL”, restando evidente que usa da Federação de Futebol para auferir vantagens indevidas e que, muito disso, provém de desvio de verba pública”, cita os investigadores do caso, na denúncia contra Cezário.
Os dois, Cezário e o interlocutor, mencionam exemplos deixando a entender que sabem como funciona um esquema de desvio de recursos. “Tanto que, ao tratarem dos projetos para ganharem dinheiro, Romeu usa como exemplo outro Estado da Federação: “Em TOCANTINS né com o GOVERNO cada evento desse dá pra girar um dinheiro bom DOIS MILHÕES E MEIO (R$ 2.500.000,00) DOIS E QUATROCENTOS (R$ 2.400.000,00)”.
Na conversa, Cezário e Romeu falam em usar clubes de futebol sul-mato-grossenses, como Três Lagoas, Corumbaense e de Aquidauana, para captar recurso de modo ilegal. Falam ainda de usar o estádio Morenão, em Campo Grande, promovendo evento nele para, também, captar dinheiro por meio de fraude.