Apesar da luta da defesa para tirá-lo do Presídio Federal de Mossoró em decorrência da pandemia, Jamil Name, que ele seria o preso mais idoso do Brasil, não obteve o mesmo benefício concedido a outros enrolados com a Justiça, como o ex-secretário estadual de Obras e ex-deputado federal, Edson Giroto. Os pedidos não sensibilizaram os juízes, os desembargadores do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) nem os ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) ou do STF (Supremo Tribunal Federal).
Em um dos votos para mantê-lo preso, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, destacou que Jamil Name era o chefe da maior e mais estruturada organização criminosa da história de quatro décadas de Mato Grosso do Sul. As medidas de biossegurança do Presídio Federal de Mossoró, considerado um dos mais seguros do País, falharam e ele acabou infectado pelo novo coronavírus. O estabelecimento passou a enfrentar um surto ao ter mais de 60 casos confirmados nos últimos 30 dias, conforme informações encaminhadas pela direção ao STJ.
Com a saúde bastante debilitada e com idade avançada, Jamil Name testou positivo para a Covid-19 no dia 31 de maio deste ano e foi encaminhado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento Médico) e, em seguida, para uma unidade particular, onde teve o tratamento custeado pela família, sendo que no dia 2 de junho foi intubado. O empresário chegou a reagir e foi declarado curado pela Covid-19, porém, em decorrência das sequelas da doença, voltou a ser entubado e começou a realizar hemodiálise na semana passada. Os rins pararam no sábado (26) e o empresário acabou morrendo em decorrência de infecção generalizada no domingo (27).
A morte de Jamil Name marca o fim de uma lenda na Capital. Famoso por comandar o jogo do bicho, chamado de “Gato Preto”, por décadas, ele contou, em depoimento aos peritos, que chegou à Capital em 1957. Ele começou como anotador do jogo do bicho e carteado. Apesar da atividade ser considerada contravenção, o octogenário sempre era prestigiado pelas mais altas autoridades de Mato Grosso do Sul. Juízes, desembargadores, deputados, senadores, prefeitos, delegados e policiais sempre participavam das festas promovidas pelo empresário.
A Operação Omertà, deflagrada no dia 27 de setembro de 2019 pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), mudou a história de Jamil Name. Pela primeira vez em mais de 80 anos de vida, o poderoso empresário foi preso acusado de chefiar milícia privada e ser dono de um arsenal de guerra, apreendido quatro meses antes.
A bravata do empresário, ao reagir a prisão, de que estaria livre no dia seguinte, nunca se cumpriu. Diante das acusações contundentes de milícia privada, obstrução da Justiça, pressão de testemunhas e de ter comandado as execuções de Matheus Coutinho no lugar do pai, o capitão Paulo Roberto Teixeira Xavier, do chefe da segurança da Assembleia, o sargento da PM Ilson Martins Figueiredo, e do empresário Marcel Hernandes Colombo, o Playboy da Mansão, fizeram com que os amigos de outrora não o livraram do cárcere.
O suposto plano para matar o delegado Fábio Peró, do Garras, e o promotor Tiago Di Giulio Freire, do Gaeco, agravou a situação de Name e o octogenário foi transferido e isolado por um ano no Presídio Federal de Mossoró. A 3,2 mil quilômetros da Capital, ele foi acusado, pela 2ª vez, de manter o plano de atentado e coagir testemunhas. Diante do juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, Jamil Name ameaçou um policial do Garras de morte e ofereceu de R$ 100 milhões a R$ 600 milhões para um ministro da corte superior tirá-lo da cadeia.
Os inconvenientes do empresário levaram o filho, o deputado estadual Jamilson Name (sem partido), a entrar com o pedido de insanidade mental. O Gaeco o denunciou pela tentativa de cooptar a Justiça com uma fortuna. Aos peritos, Jamil Name negou estar louco ou senil. Ele disse que a intenção era provar a sua inocência. O depoimento também causou polêmica. Name declarou ter direito a mais de R$ 41 bilhões em precatórios e de ser dono de mina de pedras preciosas, que teriam faturado R$ 1 bilhão. Para a esposa, a ex-vereadora Tereza Name (sem partido), as declarações provavam que o marido estava senil.
Em decorrência da internação por causa da covid-19, a Justiça tinha suspendido os seis mandados de prisão preventiva contra Jamil Name. A defesa tinha obtido aval para transferi-lo ao Hospital Santa Lúcia, de Brasília (DF), mas ele faleceu antes da medida ser concretizada. Jamil Name deixa a esposa, Tereza Name, e os filhos, Jamilson Lopes Name e Jamil Name Filho. A família não informou o dia nem o local do velório. Com informações do site O Jacaré