Foragido desde o ano passado, o assassino Paulo Cupertino Matias, que matou o ator Rafael Miguel, de 22 anos, e os pais dele, João Alcisio Miguel, de 52 anos, e Miriam Selma Miguel, 50 anos, no dia 13 de junho de 2019, em São Paulo (SP), tomou chá de sumiço. Depois que foi descoberto em Eldorado (MS), a única informação que se tem é de que ele teria fugido para o Paraguai, mas, mesmo assim, ninguém confirma.
Por cerca de oito meses, Paulo Matias morou na zona rural de Eldorado e fugiu no último dia 27 de outubro, quando foi revelada sua nova identidade em nome de Manoel Machado da Silva, que teria nascido em Rio Brilhante (MS). O delegado Pablo Ricardo Campos dos Reis, da Polícia Civil de Eldorado, afirma que ele foi reconhecido, após a divulgação de seu novo nome.
A Polícia foi informada, mas ele já havia fugido, mais provavelmente para o Paraguai. “Nós fizemos o levantamento das informações e fotos dele em Eldorado e repassamos à Polícia Civil de São Paulo”, afirmou o delegado. A Polícia Civil do Estado de São Paulo chegou a traçar um “mapa da fuga” do assassino, mostrando que ele passou por pelo menos sete cidades de três Estados e se escondeu, até o fim do mês passado, em um sítio na cidade de Eldorado (MS), de onde deve ter fugido para o Paraguai.
Até o dia 27 de outubro de 2020, Paulo Matias estava trabalhando em um curral em Eldorado (MS), onde cuidava do gado de um sitiante. Ele teria ficado no local entre 8 e 15 meses. Na região, era conhecido como “Manoel Machado da Silva”, nome falso que adotou para despistar os policiais. Além disso, usava barba branca e comprida e um boné como disfarces.
Dias depois, a Polícia Civil de São Paulo foi até a cidade sul-mato-grossense e conseguiu fotos que mostram a fisionomia mais recente do criminoso, que fugiu novamente. Paulo Matias continuava foragido da Justiça e está na lista dos mais procurados de São Paulo. Quem tiver informações sobre seu paradeiro pode ligar para o Disque-Denúncia pelo número de telefone 181. Não é preciso se identificar.
Informações da investigação policial do caso e depoimentos de testemunhas indicam que, após deixar a capital, em junho de 2019, Paulo seguiu para outros municípios paulistas: Sorocaba, Águas de São Pedro, outra cidade não informada e Campinas. Ele também passou por Ponta Porã, no estado do Mato Grosso do Sul, e Jataizinho, no Paraná. Nesses dois últimos municípios, o empresário conseguiu, respectivamente, fazer um novo Cadastro de Pessoa Física (CPF) e um novo tipo de Registro Geral (RG), ambos falsificados. Além de usar o nome falso de Manoel, Paulo forneceu dados pessoais que não são dele.
Depois de falsificar os documentos, o assassino seguiu para Eldorado, no Mato Grosso do Sul, onde conseguiu trabalho num sítio da cidade. A informação sobre o último paradeiro de Paulo Matias foi dada no dia 1º de novembro pela TV Record e confirmada no dia seguinte pelo G1 com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) paulista.
“A Polícia Civil informa que as buscas pelo referido indiciado prosseguem, inclusive com o apoio da Polícia Civil do Mato Grosso do Sul. Após a identificação do uso de uma identidade falsa, os agentes confirmaram que o procurado residiu durante um período na cidade de Eldorado (MS), tendo deixado o local na última semana. Equipes do DHPP [Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa] estiveram no local e diligências seguem em andamento para captura-lo”, informa a íntegra da nota divulgada pela pasta da Segurança.
Documentos falsos
Em Mato Grosso do Sul, ele não se limitou a fazer apenas um título de eleitor falso, aproveitando também para falsificar uma certidão de nascimento em nome de Manoel Machado da Silva e que teria nascido em Rio Brilhante (MS). Com a certidão de nascimento falsa, Paulo Matias ainda fez uma carteira de identidade em Jataizinho, no interior do Paraná, com data de nascimento em 6 de novembro de 1970, em Rio Brilhante.
Com a certidão de nascimento falsa, Paulo Matias ainda fez uma carteira de identidade em Jataizinho, no interior do Paraná, com data de nascimento em 6 de novembro de 1970, em Rio Brilhante. A Corregedoria-Geral de Justiça, do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), revela ao site Campo Grande News que informações preliminares prestadas pelos delegatários do cartório ao juiz diretor do Foro confirmam que a certidão sequer foi expedida pelos cartórios de Rio Brilhante.
Já no Paraná, a explicação para o RG é de que não há um sistema interligado dos institutos de identificação, ou seja, abre brecha para fazer, em órgão oficial, carteira de identidade em outros Estados, com novo nome, filiação e data de nascimento. “Imediatamente nós cancelamos esse RG. Fizemos consulta ao cartório de Rio Brilhante, em Mato Grosso do Sul, que constatou também que esse documento utilizado para realização do RG, ou seja, a certidão de nascimento em nome de Manoel Machado da Silva era falso”, disse o diretor do IIPR (Instituto de Identificação do Paraná), delegado Marcus Vinicius Michelotto, ao site Campo Grande News.
O delegado detalha que, no Paraná, a segurança é de que uma pessoa não possa fazer duas carteiras de identidade. “Porém, como ele nunca teve RG no Estado do Paraná, ele conseguiu, através do uso de certidão de nascimento, fazer esse documento”. A carteira de identidade só foi descoberta porque, em agosto deste ano, a Polícia Civil de São Paulo solicitou uma análise no banco de dados do Instituto de Identificação do Paraná.
“Fizemos um trabalho de pesquisa, checando todo o nosso banco de dados e encontramos o RG em nome de Manoel Machado da Silva e que confirmamos ter sido feito pela pessoa de Paulo Cupertino através do confronto das digitais e confronto facial”, explicou o diretor do IIPR para o site. Enquanto o mais comum para quem está em fuga é comprar documentos falsificados no “mercado paralelo”, Paulo Matias fez em Ponta Porã (MS) um CPF (Cadastro de Pessoa Física) e um título de eleitor, tudousando o nome falso, mas os documentos foram emitidos pela Receita Federal e Justiça Eleitoral.
A Receita Federal informou somente que o CPF em nome de Manoel foi cancelado e a Corregedoria investiga o caso. Cinco dias após matar o ator e seus pais, crime ocorrido em 9 de junho de 2019, ele conseguiu passar pela biometria e fazer o novo título de eleitor. Conforme a Justiça Eleitoral, o foragido só fez processo de biometria porque seu título original apresentava diferença de dados e não tinha ainda passado pelo cadastro biométrico.
Para fazer o título de eleitor, é necessário comparecer ao cartório eleitoral da cidade com documentos pessoais e comprovante de residência, além de passar pelo processo de biometria. O caso está sob investigação da Corregedoria-Geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul).