Os principais grupos frigoríficos de Mato Grosso do Sul, como JBS, Marfrig e Minerva, além de outros médios e pequenos, avisaram ontem (22) que não venderão mais carne para a Rede Carrefour no Brasil, incluindo a Rede Atacadão e o Sams Club, em resposta ao anúncio feito pelo CEO da empresa francesa, Alexandre Bompard, de que o grupo não iria mais importar carne do Mercosul.
A Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), que engrossou o movimento de repúdio, foi informada da suspensão das vendas de carnes no Brasil por iniciativa da indústria. O CEO do Grupo Carrefour na França, Alexandre Bompard, argumentou que a rede varejista não compraria mais carne dos países que compõem o Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – como forma de pressionar contra o acordo do bloco sul-americano com a União Europeia.
O CEO do grupo varejista francês Les Mousquetaires, Thierry Cotillard, endossou o boicote às carnes oriundas da América do Sul em suas redes de supermercados Intermarché e Netto. Em publicação nas redes sociais, ele afirmou que as varejistas do grupo se comprometem a não comercializar o produto sul-americano, seguindo a iniciativa do seu concorrente Carrefour.
Em nota oficial, o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) lamentou tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações. O posicionamento do Mapa, diz a nota, era de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul – União Europeia, debatido na reunião de cúpula do G20 nesta semana.
“O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, finalizou o texto. Conforme reportagem publicada pelo portal O Estadão, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, passou a reagir reagindo com veemência ao movimento francês.
Ele endossou o posicionamento de entidades do setor produtivo e da indústria brasileira de carnes, que sugeriram o não fornecimento de carnes ao Carrefour também no Brasil, após a suspensão da compra de proteínas do Mercosul pelas unidades francesas do grupo.
“Me surpreende a presidência local aqui no Brasil dizendo ‘não, nós vamos continuar comprando porque nós sabemos que tem boa procedência. Quem não quer comprar é a matriz lá, a França’. Ora, se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca aqui no Brasil”, disse Fávaro a jornalistas em evento de comemoração de dez anos da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados).
Nesse mesmo sentido a Abiec (Associação Brasileira dos Exportadores de Carne) se pronunciou nesta quinta-feira, 21, em nota de repúdio: “Se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano –, as entidades abaixo assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país.”
Assinaram a nota a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), SRB (Sociedade Rural Brasileira) e FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A ABIEC deverá se pronunciar sobre a postura adotada pelos frigoríficos brasileiros, em resposta ao embargo do grupo francês.