O desembargador Sideni Soncini Pimentel, 73 anos, que se aposentou este mês após ter sido afastado há um ano por suspeita de venda de sentenças judiciais, recebeu R$ 1,6 milhão em salários e gratificações nos últimos 12 meses do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
Conforme o site O Jacaré, que fez o levantamento junto ao Portal de Transparência do TJMS, além da venda de sentenças, o magistrado é investigado pela Polícia Federal pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Entre outubro do ano passado e setembro deste ano, ele teve salário médio de R$ 134,5 mil, valor que foi pago ao desembargador no período em que ficou afastado da função e foi proibido de frequentar a corte pelo ministro Francisco Falcão, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Sideni Pimentel é investigado pela Polícia Federal por venda de sentença junto com os filhos, os advogados Renata Gonçalves Pimentel e Rodrigo Gonçalves Pimentel. No dia 24 de outubro do ano passado, quando foi afastado do cargo, ele e os herdeiros também foram alvos de mandados de busca e apreensão.
A operação impediu que o desembargador encerrasse a carreira como presidente do Tribunal de Justiça. Ele tinha sido eleito em setembro e tomaria posse do comando do Poder Judiciário em janeiro deste ano.
Em decorrência do afastamento, o TJMS anulou a eleição, que incluiu a escolha do desembargador Vladimir Abreu da Silva como vice-presidente. O atual presidente, desembargador Dorival Renato Pavan, acabou sendo aclamado novo presidente e assumiu o comando do TJMS.
De acordo com o Portal da Transparência, Sideni Soncini Pimentel recebeu R$ 863,3 mil em subsídios entre outubro de 2024 e setembro de 2025. Sobre esse montante, ele pagou Imposto de Renda e contribuição previdenciária, como os demais mortais.
Além disso, ele teve direito a verba indenizatória de R$ 693 mil. Esse valor é referente ao pagamento de gratificação de acúmulo de acesso retroativo e foi pago sem qualquer desconto do IR e previdência. Ou seja, desse montante, R$ 57,7 mil por mês, caiu limpinho na conta do magistrado. O menor valor pago foi de R$ 7,2 mil em maio deste ano e o maior, de R$ 127 mil em dezembro do ano passado.
Ele ainda teve direito ao pagamento de R$ 57,7 mil referente a adicional por tempo de serviço, creditado em maio deste ano, mas esse valor teve descontos do IR e previdência.
A partir deste mês, o desembargador, com 44 anos de carreira no Poder Judiciário, passa a receber como aposentado. O subsídio será de R$ 41.845,49 – o equivalente a 27 salários mínimos, que um trabalhador comum levaria dois anos e três meses para acumular. Apesar de ter antecipado a aposentadoria em um ano e meio, ele terá direito a vencimentos integral e a paridade.
Além de Sideni, outros três desembargadores continuam afastados da função – Alexandre Bastos, Marcos José de Brito Rodrigues e Vladimir Abreu da Silva. Eles foram afastados em 24 de outubro do ano passado por Francisco Falcão.
O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, prorrogou o afastamento por mais 90 dias. Após o vencimento do prazo, o ministro Mauro Campbell Marques, do Conselho Nacional de Justiça, afastou o quarteto por mais seis meses.