Investigação minuciosa realizada ao longo de 15 meses pelos promotores de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) revelou que o Comando Vermelho apostou na cobrança de taxa dos integrantes, crimes de sequestro, 10 mandamentos próprios e um setor rigoroso de disciplina para poder crescer dentro de Mato Grosso do Sul.
Segundo o site O Jacaré, o primeiro passo para desarticular o grupo foi dado no último dia 5 com a deflagração da Operação Bloodworm, que cumpriu 92 mandados de prisão preventiva em Mato Grosso do Sul e também no Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal e Rio de Janeiro.
A maior parte dos integrantes do Comando Vermelho no Estado é do Mato Grosso e a principal célula em Mato Grosso do Sul está localizada no Presídio Fechado da Gameleira. O presidente do grupo, Luiz Élio Gonçalves Filho, o “Cabeça de Porco”, está detido no estabelecimento penal, de onde, por meio do celular, comanda a organização, que tem 43 integrantes e 11 companheiros.
“O CV surgiu a partir da união dos adversários do PCC (Primeiro Comando da Capital) e que estavam espalhados pelos diversos presídios do Estado. Deste modo, antes mesmo que houvesse o alinhamento das lideranças do Comando Vermelho para que criassem o chamado ‘Conselho dos 13’ e organizassem de fato a facção em Mato Grosso do Sul, já havia integrantes esparsos pelos presídios estaduais, os quais já contavam com relevante poder bélico, tanto é que comandavam o Raio III na Penitenciária Estadual de Dourados (PED) e possuíam amoitadas em uma de suas celas várias armas de fogo e munições. 26 Hoje, ambos lideram o Comando Vermelho MS da Penitenciária da Gameleira II”, relataram os promotores de Justiça.
Para fazer caixa para a organização, eles estabeleceram uma taxa de R$ 100 que seria cobrada dos “camisas”, como definem os integrantes, e das “lojinhas”. No início, Cabeça de Porco se queixa da falta de dinheiro e sugere cobrar apenas R$ 50 de cada integrante da facção criminosa.
A facção exige fidelidade dos membros. Há um setor específico, chamado de Disciplina, que é o encarregado de julgar os companheiros e os adversários. “Por fim, complementando aquilo que se mencionou alhures, a organização criminosa em questão possui seu setor ‘DISCIPLINAR’, voltado para julgar e punir os atos de seus integrantes que são considerados afrontosos às regras e ‘princípios’ de seu estatuto, bem como para atacar membros de facções rivais”.
O estatuto propagado nos grupos de aplicativos dos criminosos é importado do Boa Vista, capital de Roraima. Os criminosos se comprometem a respeitar uns aos outros, não trair a organização criminosa. A punição vai desde simples advertência até a morte.
O grupo chegou até a contar com os “10 mandamentos do Comando Vermelho”. O primeiro é “não negar a pátria”. O segundo diz que não se deve cobiçar a mulher do próximo. Também faz parte dizer a verdade, orientar os mais novos e eliminar os inimigos. “Não caguetar (dedurar alguém)” é o 9º mandamento. O 10º “é ser coletivo”.
A investigação chegou a encontrar demonstrativos acerca do tratamento vingativo que o Comando Vermelho dispensou ao principal desses rivais, que é o PCC. Em uma das conversas, os líderes buscam armas para executar um dos principais líderes da facção paulista em MS, José Antônio Melo Corrêa, o Zé Sitioca, que foi preso com drogas em Dourados.
“As lideranças, inclusive, indagam a ‘DIEGO/MAGRELO’ quem seriam os integrantes do Comando Vermelho que estariam incumbidos da responsabilidade de matar o rival, a quem chamam pela alcunha de ‘frango’, mesma expressão utilizada para todos os integrantes das facções rivais. O objetivo em questão era executar o integrante do PCC conhecido como ‘Zé da Sitioca’”, revelaram os investigadores.
Para encher o caixa, o grupo apostava em roubos de grande impacto, como assaltos a banco e caixas eletrônicos, assaltos e sequestros em Mato Grosso do Sul. Todos os crimes seriam praticados a partir da orientação dos líderes, que estão presos.
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