Um monitoramento ambiental realizado com sobrevoo por quase 500 km nas nascentes dos rios Betione, Prata e Salobra revelou sinais preocupantes de passivos ambientais que podem comprometer a saúde desses recursos hídricos, os quais atraem a maioria dos turistas que visitam Mato Grosso do Sul.
O sobrevoo foi conduzido pela equipe do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) no dia 27 de novembro, que tem realizado monitoramentos na região por uma década. As nascentes monitoradas estão localizadas nos municípios de Bodoquena, Bonito, Jardim e Miranda.
Entre os problemas identificados estão a redução das áreas de preservação permanente (APP), estresse no volume de água e mau uso do solo. A diminuição das APPs, que devem ter pelo menos 50 metros de vegetação ao redor das nascentes, aumenta o risco de assoreamento, um fenômeno que pode ter sérias consequências.
O assoreamento desses rios pode impactar diretamente o ecoturismo, uma vez que já são utilizados ou têm potencial para esse fim. Os rios desaguam no rio Miranda, um tributário essencial para a formação do Pantanal, juntamente com o rio Paraguai. A região turística de Bonito e Serra da Bodoquena está registrada no Mapa do Turismo do governo federal.
Dados da Inteligência Turística de MS (Alumia) mostram que mais de 91% dos turistas que visitam o estado têm como destino essas áreas cênicas, especialmente Bonito (59,8%), Jardim (15,4%) e Bodoquena (15,9%), entre janeiro e agosto de 2025.Ângelo Rabelo, presidente do IHP, enfatiza que as atividades de monitoramento visam promover o uso sustentável do solo e dos recursos hídricos.
“Um ponto crítico que identificamos é a escassez hídrica; portanto, a água desses rios não deve ser desviada para atender açudes ou áreas de lazer, pois isso compromete o equilíbrio da água”, alertou.
Sérgio Barreto, biólogo do instituto, explicou que o monitoramento aéreo complementa ações de georreferenciamento. “Estamos trabalhando na cabeceira do Pantanal, pois essas áreas são fundamentais para os recursos hídricos da planície. O levantamento aéreo ajuda a visualizar diferentes cenários e casos de supressão vegetal, mesmo quando com autorização, mas que apresentam falta de APP”, detalhou.
Diante dos problemas identificados, o IHP está realizando uma análise das imagens para detectar possíveis desmatamentos ilegais e avaliar a necessidade de recuperação de áreas degradadas. O trabalho contará com a colaboração de proprietários rurais e instituições públicas.
Ainda segundo o IHP, os rios monitorados estão na bacia do rio Miranda, que abastece 50% da população de Mato Grosso do Sul, abrangendo uma área de 44.740 km².
“Nos locais com potenciais danos, é possível agir emergencialmente para evitar a continuidade dos passivos. Também precisamos implementar ações de recuperação para assegurar que esses rios, de beleza excepcional, possam ser utilizados no ecoturismo de maneira sustentável”, defendeu Rabelo.
A nascente do rio Salobra está dentro do Parque Nacional da Serra da Bodoquena e é famosa por sua translucidez e a exuberância de seus cânions. O Rio Betione, que também se destaca por suas particularidades, fica em Bodoquena e oferece várias oportunidades de ecoturismo.
A nascente do rio Prata está situada na divisa entre Jardim e Bonito, em uma área alagadiça, e possui grandes atrativos turísticos. Todos esses rios monitorados desaguam no rio Miranda, que desempenha um papel crucial para Mato Grosso do Sul.

