A direção da Santa Casa de Campo Grande atribuiu a crise pela qual está passando ao calote de R$ 72,8 milhões dada pela Prefeitura Municipal. Em ofício enviado à prefeita Adriane Lopes (PP), no dia 6 de fevereiro, os responsáveis pela unidade de saúde dizem ter créditos junto ao Executivo municipal em valor superior às dívidas que fizeram com que centenas de cirurgias fossem suspensas a partir dos últimos meses do ano passado.
O comando do hospital admite dívidas que somam R$ 66,7 milhões com médicos (R$ 29 milhões), fornecedores de materiais médicos e hospitalares (R$ 20,7 milhões), fornecedores de órteses, próteses e materiais especiais (R$ 13 milhões) e com prestadores de serviços (R$ 4 milhões).
Ao mesmo tempo, alega ter um crédito de R$ 72,8 milhões com a administração municipal, sendo que a maior parte deste valor, R$ 47,8 milhões, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) já teria decidido que a Prefeitura de Campo Grande deve pagar ao hospital.
Se a administração municipal aceitasse fazer o pagamento antes que o valor virasse precatório, o hospital propôs até um desconto de 10% sobre o valor, porém, não obteve resposta. Além disso, outros R$ 25 milhões que a administração municipal estaria devendo por ter interrompido desde janeiro de 2023 um repasse mensal especial de R$ 1 milhão acordado em julho do ano anterior.
E por conta das dívidas, cerca de três mil procedimentos cirúrgicos nas áreas de ortopedia, cirurgias plásticas, cardiovasculares e urológicas deixaram de ser realizadas desde setembro do ano passado. Até transplantes de rim estão suspensos.
Por conta da gravidade da situação, no ofício do dia 6 de fevereiro a direção do hospital reclamou da ausência da prefeita Adriane Lopes em uma reunião com a equipe da Sesau e fez até uma espécie de ameaça.
“A manifestação da Gestora do Município, pela gravidade da situação, deve ser imediata pois que a Santa Casa não terá mais condições de manter em sigilo os desajustes que vem transcorrendo desde julho/2024, uma vez que a renovação do convênio 03-A foi prorrogada sem reajuste havendo desequilíbrio do contrato”.
Mas os problemas da Santa Casa são bem maiores que as dívidas de R$ 66,7 milhões elencadas no ofício enviado à prefeita. Em documentos anexados a um inquérito instaurado pelo MPE (Ministério Público Estadual), o hospital alega déficit mensal de R$ 13,2 milhões.
E, para acabar com este déficit, tanto prefeitura quanto governo do Estado teriam de dobrar os repasses mensais. Todos os meses a prefeitura de Campo Grande repassa de R$ 5 milhões e o Governo do Estado, R$ 9 milhões. Estes repasses, segundo a Santa Casa, estão em dia.
O caos no hospital já foi tema de uma reunião no último dia 19 de fevereiro entre autoridades municipais, MPE e a direção do próprio hospital. Como não houve avanço nas negociações para possível aumento nos repasses, o MPE voltou a convocar outro encontro, para esta quinta-feira (6).