Operações policiais mostram que narcotraficantes da Capital trocaram periferia por condomínios de luxo

Duas operações recentes desencadeadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e pelo Garras (Grupo de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) mostraram que os chefões do narcotráfico em Campo Grande (MS) trocaram a periferia da cidade pelos condomínios verticais ou horizontais de alto padrão.

Agora, as casas simples dos bairros mais afastados foram substituídas por imóveis com valores de venda milionários e muito próximos de integrantes da elite clássica da cidade, como delegados, promotores de Justiça, juízes, produtores rurais ou grandes empresários.

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos e prisões em flagrante foram efetuadas em edifícios de luxo na Operação Facilem Vitam, do Garras. Os endereços são em apartamentos cujo valor de revenda é superior a R$ 1 milhão: o 27º andar do edifício Liége, na Rua 15 de Novembro, e o 11º andar de outra torre, o Gaudí, na Avenida Ricardo Brandão.

No caso do grupo investigado pelo Gaeco, na Operação Snow, um dos financiadores da quadrilha morava no condomínio de luxo Alphaville 4 e foi lá que um dos mandados foi cumprido. As ações das forças policiais contra o tráfico de drogas em Campo Grande mostram que pessoas com indícios de atuação em favor do narcotráfico têm movimentado uma grande quantia em dinheiro vivo ou por meio do Pix.

As duas prisões mais recentes de investigados pelo crime de tráfico em condomínios de luxo ocorreram no dia 19 de dezembro de 2024 e no dia 3 de fevereiro deste ano. Na primeira ocasião, Lucas Pereira da Costa, de 28 anos, foi preso em seu apartamento, no 11º andar do Edifício Guadí, na Avenida Ricardo Brandão, em Campo Grande.

Dentro do apartamento, ele mantinha 4 quilos de cocaína em sua “versão mais pura”, conforme os policiais do Garras, e uma grande quantia de dinheiro em espécie. Os policiais civis, contudo, estavam lá por outro motivo: para cumprir mandado de busca e apreensão contra Costa, suspeito de ser um dos mandantes do assassinato de Gabriel Brandão Mendonça, de 22 anos, em 9 de novembro de 2022, nas Moreninhas.

O rapaz teria sido morto porque testemunhou outro assassinato, ocorrido naquele mesmo ano no Jardim Los Angeles, em uma disputa pelo controle do tráfico de drogas no varejo. Na ocasião do mandado de busca contra Costa, outro rapaz que estava com ele foi preso: Pedro Augusto Teixeira Targino, de 33 anos.

A apreensão das drogas e dos valores em dinheiro levou a DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa), que apura o assassinato de Mendonça, a transferir a investigação de tráfico para o Garras. Os dados dos celulares apreendidos com Costa e Targino, em 19 de dezembro do ano passado, no apartamento, levaram o Garras a desencadear no dia 3 a Operação Facilem Vitam.

Dessa vez, os policiais cumpriram um mandado de prisão temporária (posteriormente convertido em prisão preventiva) contra uma espécie de sócio de Costa no que os policiais gostam de chamar de traficância: Matheus Henrique Lemos Diniz, de 22 anos, morador do 27º andar do edifício Liége, na Rua 15 de novembro, em Campo Grande.

Diniz e Costa eram sócios em uma empreitada que misturava o tráfico de drogas em grandes quantidades e a comercialização de cocaína no varejo em Campo Grande. Eles encomendavam a cocaína de Corumbá, indica a investigação do Garras. Diniz foi preso com sua mulher, Nathalia de Oliveira Teixeira, também de 22 anos. O bebê de seis meses, filho do casal, estava no momento do cumprimento dos mandados.

Havia com o casal cinco telefones celulares, R$ 15 mil em espécie acondicionados em um maço, preso por elástico, além de centenas de munições e duas pistolas, entre elas uma Glock de 9 milímetros, de uso proibido. Na garagem, muitos carros, como uma Toyota Hilux, avaliada em R$ 250 mil, um VW Nivus, avaliado em R$ 100 mil, e uma moto BMW, avaliada em R$ 70 mil, além de um conjunto de jet ski com reboque, avaliados em mais de R$ 70 mil.

Um Porsche Boxter 2018 de Diniz, avaliado em R$ 500 mil, que estava sendo negociado em troca de um imóvel, também foi apreendido em outro endereço. Aliás, em um segundo endereço de Diniz, os policiais do Garras encontraram uma refinaria de cocaína e mais três tabletes da substância em sua versão pura (1,6 kg), bem como um liquidificador com resíduos de cocaína e uma balança de precisão.

Outro casal, Raphael de Souza e Vivian dos Santos Paiva, moradores da periferia, também foram presos. Eles são suspeitos de lavar dinheiro e transacionar drogas com Diniz e Costa. Também tinham armas e um segundo endereço, aparentemente uma biqueira (local de revenda de drogas). O caso continua em investigação.

Na Operação Snow parte 2, desencadeada no mês passado pelo Gaeco, Emerson Corrêa Monteiro foi alvo de busca e apreensão em sua casa, no condomínio de luxo Alphaville 4, em Campo Grande. Ele é apontado como um dos financiadores da organização chefiada por Joesley da Rosa, suspeito de traficar cocaína que entra no Brasil via Ponta Porã para São Paulo, a partir de um hub logístico em Campo Grande.

Em uma das ocasiões apontadas na investigação, Monteiro enviou um Pix de R$ 50 mil para a quadrilha e, seis meses depois, foi remunerado com R$ 75 mil, retorno de 50% sobre o investimento, algo raro de ocorrer na economia formal. Com informações do jornal Correio do Estado