Ex-juíza denunciada por advogado de MS por ironizar uso de máscara agora vive nos EUA

A ex-juíza Ludmila Lins Grilo, da cidade de Uraí (MG), que foi aposentada compulsoriamente pelo TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) por determinação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) após o advogado campo-grandense José Belga Assis Trad denunciá-la por ironizar nas mídias sociais o uso de máscara durante a pandemia da Covid-19, está morando nos Estados Unidos.

O atual paradeiro da ex-magistrada veio à tona depois que postou, na quarta-feira (3), na sua conta no X, ex-Twitter, estar “asilada” nos Estados Unidos há dois anos após sofrer o que classificou de “perseguição política” no Brasil. Em janeiro de 2021, período em que os males da Covid-19 ainda sacudia a nação brasileira com os incontáveis casos de mortes provocadas pela doença, o advogado campo-grandense José Belga Assis Trad acionou o CNJ porque a então juíza alimentava, por meio das suas redes sociais, que era uma bobagem o uso de máscara e ainda incentivava a aglomeração durante a pandemia.

Para o jurista, a então juíza, que acumulava em torno de 160 mil seguidores no Twitter, estaria cometendo grave erro por defender a “aglomeração de pessoas nas praias e festas do litoral brasileiro”. Com isso, sustentou o causídico, a juíza teria exercido “crime de apologia à infração de medida sanitária preventiva”.

Em maio do ano passado, o CNJ definiu pela aposentadoria compulsória da juíza e apontou como causas reiterados comportamentos considerados reprováveis pela pelo conselho, entre os quais o excesso de faltas no trabalho presencial, a disseminação de fake news, incitação de aglomeração durante a pandemia de Covid-19, além de ataque aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Publicação

Na publicação feita nesta semana, a ex-magistrada atribui seu autoexílio nos Estados Unidos ao fato de ter criticado o STF, em especial o ministro Alexandre de Moraes, além do CNJ e do TJMG. Ela alega que “sofreu calada todo tipo de difamação” em relação à sua conduta profissional.

Em fevereiro do ano passado, o CNJ afastou a juíza, que atuava na Vara Criminal e da Infância de Unaí (MG), por descumprimento de deveres básicos de seu cargo e ausência no local de trabalho. Ludmila ficou “conhecida” nas redes sociais entre 2020 e 2021 por usar o espaço para criticar ministros do STF e incentivar aglomerações durante a pandemia da Covid-19.

À época, o ministro Luís Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, afirmou que uma inspeção realizada na vara em que Ludmilla trabalhava apontou falhas como processos parados há mais um ano; réus presos sem sentença há cinco meses; réus soltos sem audiência por longos períodos; ausência da juíza em horário de expediente durante todos os dias da semana; processos extraviados, entre outras.

“Esse foi meu segundo réveillon nos Estados Unidos da América, a terra da liberdade onde eu escolhi viver, e que caridosamente me acolheu e me protegeu da ditadura que, miseravelmente, se instalou no meu país. Sou, oficialmente, uma juíza brasileira em asilo político nos Estados Unidos”, escreveu em suas redes sociais.

“Eu era uma juíza em atividade quando aportei em terras americanas. Em silêncio, continuei exercendo meu trabalho por videoconferência, cumprindo toda a agenda diária da vara criminal. Sofri calada todo tipo de difamação quanto à minha conduta profissional, pois ainda não podia revelar que eu não morava mais no Brasil”, completou.

Nos Estados Unidos, a ex-juíza diz que irá trabalhar por todos aqueles que são “perseguidos”. “Cada conta de rede social que for bloqueada, cada ataque do STF, cada lawfare, cada ameaça, ainda que virtual, serão utilizados em meus processos nos EUA, e também serão entregues aos profissionais da mídia e da justiça estrangeiros que acompanham meu caso.”

Em um vídeo, publicado posteriormente, Ludmila diz que deixou o país em razão de uma “ditadura judicial que havia se enraizado” no Brasil. “Meus esforços para expor a investigação inconstitucional iniciada pelo Supremo Tribunal Federal para atingir os críticos do próprio Supremo Tribunal Federal, muito antes de ocorrer a prisão em massa, levaram à censura de todas as minhas plataformas de mídia e resultaram na perda do meu cargo judicial”.

Em sua publicação, Ludmila ainda diz que irá apresentar uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos contra os membros do STF por crimes contra a humanidade. “Também serão denunciados no polo passivo o Min. Luis Felipe Salomão, do Conselho Nacional de Justiça, e os desembargadores que compõem o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais”, afirmou.