A tecnologia está ajudando a Polícia Civil a apertar o cerco contra o tráfico de drogas e de armas em Mato Grosso do Sul. De acordo com reportagem do site Campo Grande News, fotos de pacotes de cocaína enviadas pelo aplicativo de conversa WhatsApp levaram a descoberta do envolvimento de três policiais militares com o tráfico de drogas e de armas em Dourados (MS).
Além dos pacotes da droga, fotografados ainda na casa onde foram apreendidos, no Jardim André, a imagem mostrava parte da calça da farda de um dos policiais e o coldre da arma na perna. Foram presos os cabos PM Robson Valandro Marques Machado e Vlademir Farias Cabreira e o soldado PM Deyvison Hoffmeister dos Santos.
Desde o dia 23 de agosto deste ano os três estão sob a custódia da Corregedoria da PM, que vai acusá-los de desviar 30 quilos de cocaína apreendidos por eles em abril deste ano. Parte da droga desviada (11 quilos) foi encontrada em uma “boca”, na Vila Cachoeirinha, cinco dias depois, por policiais da Defron (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes de Fronteira).
Jonatan Nascimento Ferreira, o traficante preso no local, era amigo e sócio de Deyvison Hoffmeister nos negócios sujos. Foi no celular de Jonatan Ferreira que os policiais encontraram as provas incriminando o soldado PM e, consequentemente, seus dois companheiros de equipe na Força Tática da PM. Detalhes do processo em andamento na Justiça Militar trazem a transcrição e print das conversas entre o soldado PM e o traficante envolvendo a comercialização de armas e drogas fornecidas pelo policial e revendidas pelo bandido.
“Ah não, não tem como, o baguio nem é meu, é de terceiro, tá ligado? E essas fita aí cê ta ligado que tem que ser certinho né, que é ilícito, é droga, arma, aí tem que ser tudo no dinheiro, no cacau, esse negócio de prazo não vira não”, afirmou Deyvison Hoffmeister a Jonatan Ferreira durante negociação de uma pistola calibre 9 mm.
As conversas extraídas do celular do traficante no dia em que ele foi preso revelam a intimidade entre o policial militar e o amigo, dono de extensa ficha criminal. Existia até complacência do PM com a demora do amigo em pagar dívidas de negócios ilícitos.
“Ow viado, deixa eu falar pra você, eu mandei um dinheiro, uma quirera, o guri ta fazendo o corre do dinheiro aqui, ele falou que vai mandar R$ 6.500 na 9 mm [pistola calibre 9 mm], canta os R$ 6.500 e aí na outra lá, tem negócio para essa aí também, vou ver se o cara se interessa nessa aí também”, disse Jonatan ao policial Hoffmeister.
Apesar da promessa, o dinheiro pela venda da arma não foi pago no dia combinado. As negociações ocorreram em março deste ano. “Ow brother, vê aí, eu to com vergonha do cara já, me cobrando aqui! Vê aí se o cara não te pagou, vamos pegar essa bengue [pistola 9 mm] e eu vendo para outro aqui e é no dinheiro. Passei pra você porque eu confio em você, você é meu campanha, mas é doido é, eu to passando vergonha aqui já”, reclamou o policial.
As conversas extraídas do celular de Jonatan Ferreira mostram que as negociações sobre a venda da cocaína desviada pelos PMs levaram dias e começaram na data em que a filha do traficante nasceu. No mesmo dia em que mandou foto da recém-nascida para o amigo, Jonatan recebeu a imagem da droga apreendida.
“Então, eu não falei nada gay, eu falei ‘o cara ali tem um talco [cocaína] bom, mega, aí ele falou para mandar foto e levar amostra, ele falou quantos que o cara tem, eu falei 20 peças [quilos]. Aí o cara falou: leva amostra e vê quantos ele quer por quilo, mais ou menos’. Eu falei que o cara quer vender tudo”, disse Jonatan ao policial.
Deyvison Hoffmeister respondeu: “dou preferência para você, ta com nenezinho novo, já compra umas fraldas”. Para a polícia, os diálogos deixam evidente que Jonatan é pessoa próxima e de confiança de Deyvison, a quem o PM oferecia com frequência armas e drogas e com quem o policial fez vários negócios ilícitos.
A transcrição das conversas também revelou ligação estreita de Jonatan com o traficante, identificado apenas como “Sisi”. Ele negociava a compra da cocaína fornecida pelos PMs para traficantes do Rio Grande do Sul. A polícia ainda não chegou a “Sisi”. Depois de muita negociação, Deivison concordou em repassar dez dos 25 quilos que estavam em seu poder para “Sisi”, ao preço de R$ 14 mil por quilo.
Para atestar a qualidade do produto, Jonatan disse a “Sisi”, que colegas de trabalho tinham experimentado a droga. “Mandei pros caras aqui dar um tiro [cheirar]. Os caras cheirou e falou: das melhor que tá tendo aqui na quebrada. BO dos pipoco, os cara ta agoniado”. Os três policiais militares continuam recolhidos no Presídio Militar, em Campo Grande. O juiz da Auditoria Militar Alexandre Antunes da Silva rejeitou o pedido de revogação da prisão preventiva de Robson Valandro Marques Machado, Vlademir Farias Cabreira Deyvison Hoffmeister dos Santos.