Tretas do Trutis! Deputado critica BBB, Carnaval e “esquerdistas”, mas e o “atentado”, nada?

Com publicações esporádicas desde o dia 5 de janeiro deste ano, nesta última semana, o deputado federal Loester Trutis (PSL/MS), mais conhecido como “Tio Trutis”, voltou às mídias sociais, mais precisamente ao Facebook, seu principal canal de contato com o seu eleitorado.

Como não poderia deixar de ser, o “nobre” parlamentar busca provocar polêmica e, no último post, criticou o reality show BBB, a realização do Carnaval e os “esquerdistas”, como têm sido classificadas as pessoas que não acompanham o pensamento do atual presidente da República Jair Messias Bolsonaro.

A postagem teve, até a publicação desta matéria, quase 100 compartilhamentos, mais de 700 visualizações e 57 comentários dos mais variados posicionamentos, desde os favoráveis até os contrários ao Tio Trutis.

No entanto, nas recentes postagens publicadas ao longo desta semana, ele não dá qualquer explicação sobre as trapalhadas e tretas colecionadas ao longo do ano passado, principalmente sua prisão pela Polícia Federal por falsa comunicação de crime, pode tirar o cavalo da chuva.

Sobre a prisão por porte ilegal de arma de fogo de usa restrito, falsa acusação de atentado e disparo de arma de fogo em via pública, a última manifestação dele foi no fim de novembro para acusar a PF de manobrar a investigação sobre o suposto atentado que teria sofrido em fevereiro de 2020 para incriminá-lo.

Porém, na Justiça, o deputado federal e o seu assessor Ciro Nogueira Fidelis pediram a devolução das armas apreendidas pela Polícia Federal durante a Operação Tracker, alegando que o armamento confiscado foi comprado legalmente e não é objeto de investigação.

Além da arma que motivou a prisão em flagrante de Tio Trutis – um fuzil T4 calibre 556 mm, da marca Taurus, avaliado em R$ 10 mil e de uso restrito -, os policiais federais também apreenderam uma pistola calibre 9 mm, com carregador e 14 munições, e um revólver calibre .357, com dez munições, na mesa da sala da casa do deputado, na Vila Carlota, em Campo Grande (MS), além de diversas munições, R$ 72,5 mil em dinheiro e um celular.

O parlamentar disse aos policiais federais que a pistola e o revólver são de Ciro Fidelis, ao passo que o fuzil seria de Jovani Batista da Silva, do chamado “Movimento Conservador de Mato Grosso do Sul”. Fidelis e Silva confirmaram a versão em depoimentos aos agentes. A defesa de Trutis e de seu assessor afirma que as armas apreendidas “foram adquiridas legalmente com autorização do Exército Brasileiro e pela própria Polícia Federal”.

O argumento consta em petição protocolada no dia 20 de janeiro, no âmbito do inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga o suposto atentado contra o deputado, em fevereiro do ano passado. O pedido ainda acusa a Polícia Federal de abuso de autoridade, pela apreensão de uma pistola Taurus, calibre 9 mm, na casa do irmão do deputado, Alberto Carlos Gomes de Souza.

Os policiais justificaram que a arma foi recolhida porque Souza não mostrou registro. Além disso, o calibre seria “compatível com os fatos investigados”. A pistola foi periciada e, depois, devolvida. Os policiais também apreenderam com o irmão de Trutis um certificado de registro expedido pelo Exército, de arma não especificada. A petição apresentada também requer a devolução deste documento.

Além disso, a defesa de Loester Trutis e Ciro Fidelis pediu acesso, em “prazo razoável”, a “todos os laudos, documentos, perícias técnicas, arquivos extraídos dos aparelhos celulares dos investigados”. O celular do deputado federal foi enviado para o Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília (DF), para extração de dados.

Tio Trutis negou-se a informar a senha de acesso ao aparelho, o que dificultou o trabalho da superintendência regional e levou o delegado responsável pela investigação, Glauber Fonseca de Carvalho Araújo, a pedir mais tempo à ministra Rosa Weber, relatora do inquérito no STF.

Os dados dos celulares de Ciro Nogueira Fidelis e Jovani Batista da Silva já foram obtidos pela perícia. Somente os smartphones do assessor parlamentar produziram cerca de 100 GB de conteúdo. As armas apreendidas com Trutis e com os demais investigados também passaram pelo setor técnico-científico da PF.

De quebra, a defesa de Trutis e Fidelis insistiu na suspensão das investigações sobre o suposto ataque a tiros, enquanto o STF não julgar habeas corpus impetrado em dezembro. O recurso, distribuído ao ministro Dias Toffoli, pede exatamente o trancamento das investigações.

O presidente do STF, Luiz Fux, se absteve de julgar o habeas corpus durante o plantão judiciário, mas negou, em caráter liminar, outro pedido idêntico. As investigações da Polícia Federal acerca do suposto atentado de fevereiro de 2020 se voltaram contra Loester Trutis a partir de trabalhos periciais. Laudos balísticos, de exame de local e informações de georreferenciamento entraram em rota de colisão com o que alegava o deputado e seu assessor.

Assim, a PF concluiu que o atentado foi simulado por Trutis, de olho em dividendos políticos e eleitorais. O parlamentar é um entusiasta voraz da flexibilização do Estatuto do Desarmamento. A polícia identificou que ele sequer foi seguido no dia do suposto ataque a tiros. Além disso, a descrição dada pelo deputado federal sobre o veículo supostamente envolvido no atentado contra ele levou os investigadores a uma caminhonete “antiga e deteriorada, que certamente não teria condições mecânicas razoáveis para ser utilizada em um atentado em face de alguém que estava embarcado em um potente Toyota Corolla”, conforme descreve o inquérito.

Com base no trabalho da PF, a ministra Rosa Weber deferiu os pedidos para busca e apreensão contra Trutis, seu irmão, Fidelis e Jovani Batista da Silva. Para a magistrada do STF, as provas obtidas no âmbito da investigação podem implicar Loester Trutis nos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, disparo de arma de fogo, dano e comunicação falsa de crime.