Mesmo preso em Aquidauana (MS), o narcotraficante Kleyton de Souza Silva conseguiu manter a atividade criminosa e adquiriu, com recursos ilícitos, um apartamento de alto padrão avaliado em mais de R$ 1,2 milhão na praia da cidade de Bombinhas (SC), uma das mais visitadas pelos turistas durante o verão.
O MPE (Ministério Público Estadual) conseguiu comprovar que o dinheiro para a aquisição do apartamento foi obtido com o narcotráfico. Ele foi preso pela primeira vez em 2012 e, pela segunda e última vez, em agosto de 2019.
Desde então está atrás das grades, mas, como manteve seus negócios com transporte e venda de drogas e armas, conseguiu o recurso necessário para adquirir o imóvel, que fica a quatro minutos, a pé, da praia. O negócio foi fechado em 25 de maio de 2022, quase três anos depois de ter sido preso.
O apartamento, que ele mesmo diz que em 2022 valia R$ 1,2 milhão, está no terceiro andar do Ilha da Madeira Residence, um prédio com apenas 14 apartamentos e que têm entre 62 e 160 metros quadrados.
Conforme documento anexado à investigação, o apartamento que Kleyton escolheu tem 115,11 metros quadrados, mais garagem, evidenciando que se trata de um imóvel de alto padrão. As unidades maiores estão na cobertura, quarto andar, e têm 160 metros quadrados de área privativa, sendo que todas as unidades têm ampla sacada com churrasqueira.
A negociação toda, intermediada por um corretor, foi feita pelo próprio traficante, de dentro do presídio de Aquidauana. Prova disso, segundo o MPE, é que só mantinha a mulher informada sobre a realização daquilo que ele dizia ser um sonho antigo.
O máximo que fazia era mandar mensagens por celular para sua mulher, Lana da Silva Gonçalves, que foi alvo de mandado de prisão no último dia 7 de novembro, durante a “Operação Blindagem”.
Apesar de ela ser uma espécie de “braço direito” de Kleyton, nas mensagens fica claro que ela não participava da negociação. Ao mandar vídeo do apartamento, informa que fica a apenas 180 metros da praia. “Mt top. Pertinho”, comemorou ela.
Ao mandar foto da parte externa do prédio, ela se mostra entusiasmada. “Nossaaa. Mt top msm. Lindoooo”, comemorou mais uma vez, conforme mostram as mensagens encontradas no celular de Kleyton, que se mostrava tão tranquilo na cadeia que nem mesmo se dava ao trabalho de deletar as conversas.
Os planos de Kleyton, que está cumprindo pena de dez anos por ter comprado 100 quilos de cocaína furtados na delegacia de Aquidauana e que já estava prestes a progredir de regime, era fixar residência neste invejável apartamento de três quartos, sendo uma suíte.
“Em conversas com sua tia IVANIR FERNANDA DOS SANTOS NUNES RODRIGUES, KLEYTON também apontou a propriedade dele sobre o apartamento, indicando que seu planejamento futuro era o de residir na praia”, diz trecho do Ministério Público no documento em que pediu a prisão tanto da tia quanto da mulher de Kleyton
O apartamento, conforme a investigação, segue registrado no nome dos antigos proprietários, que moram no Rio Grande do Sul. O MPE também transcreveu uma série de diálogos que ele manteve com o corretor, que mandou para ele a cópia das certidões relativas a débitos e as cópias do contrato de compra e venda.
E, dois dias depois de sacramentar a compra, o traficante usa o imóvel para tentar ampliar seus negócios. “Em 27/05/2022, KLEYTON entrou em contato com TIAGO PAIXÃO DE ALMEIDA (“PAIXÃO”) para indagar se conhecia alguém que pudesse “penhorá-lo” pelo valor de R$ 350.000,00, pontuando, nessa ocasião, que o apartamento está avaliado em R$ 1.200.000,00”.
Com este diálogo encontrado no celular do traficante, a promotoria entendeu que ele estava “evidenciando não apenas sua propriedade e posse sobre o bem, como também sua intenção de utilizá-lo como garantia financeira para a obtenção de valores em espécie, permitindo, assim, o fomento de suas negociações ilícitas”.
Ao conversar com a tia, ele reclama que está com muitas preocupações e explicou que estava sendo obrigado a penhorar o apartamento por estar com problemas para receber um pagamento de R$ 400 mil e outro de R$ 350 mil.
“Não tão pagando, então vou pegar esse dinheiro e pagar minhas continhas e ficar de boa e pegar um pouco para ir atrás de receber desse povo”. Na sequência, ela ainda filosofa: “menino, a crise tá geral”.
Ao continuar a conversa com a tia, manda foto do prédio e da localização da Madeira Residence. “Meu sonho sempre foi morar no mar. Dá menos de uma quadra e meia. Mas vou tirar ele do penhor. É provisório. Aí que vou morar tia”.
Essa tia, conforme o Ministério Público, era responsável pelas negociações com os servidores públicos que lhe garantiam privilégios para que fizesse seus negócios.
Em meio às tratativas para penhorar o apartamento, Kleyton também orienta sua esposa a oferecer como garantia uma moto e um de seus carros, um Jeep Compass, ano 2018, avaliado em R$ 130 mil, registrado em nome da esposa.

