E não é que a tragédia envolvendo a modelo Eliza Samudio e o ex-goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes Souza, vai virar uma série para a televisão. Para quem não se lembra, modelo e mãe do filho do goleiro Bruno, foi morta por asfixia e esganadura em 10 de junho de 2010.
Ela teve o corpo, até hoje não encontrado, esquartejado pelos assassinos. O ex-jogador do Flamengo acabou condenado a 22 anos e três meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, sequestro e ocultação do cadáver.
Desde julho de 2019, ele está fora da cadeia e agora tenta retornar ao futebol profissional. Para viver Eliza Samudio na série que abordará o assassinato idealizado pelo ex-goleiro do Flamengo, a Rede Globo escalou a atriz Vanessa Giácomo, que já pode começar a se preparar para um grande desafio na carreira.
A informação foi confirmada por Amora Mautner, diretora e idealizadora do projeto. “Estamos começando a desenvolver o projeto que será escrito pelo Lucas Paraíso, que fez ‘Sob Pressão’, e pela cineasta Gabriela Amaral. Assim que for aprovada a primeira etapa, começaremos a pensar no elenco, mas a Vanessa Giácomo está desde a origem do projeto. Todos pensamos nela como Eliza”, disse a diretora de TV.
A série sobre o crime do goleiro Bruno é baseada no livro “Indefensável – O Goleiro Bruno e a História da Morte de Eliza Samudio”, da editora Record, e será a primeira de uma série de ‘thrillers’ (séries de suspense e tensão) lançados pela Rede Globo. A ideia é transformar em série diversos crimes já solucionados e sentenciados pela Justiça.
Ainda não há previsão de estreia, porém, o que se sabe é que virá depois da exibição de “Verdades Secretas 2”. Eliza e Bruno tiveram Bruno Samudio Souza, 9 anos, o “Bruninho”, que mora com a avó materna, Sônia de Fátima Moura, de 53 anos, no distrito de Anhanduí, no município de Campo Grande (MS).
Em matéria publicada pelo Blog do Nélio em outubro do ano passado, ele disse que estava com medo do pai, que foi solto após cumprir parte da pena pelo assassinato da mãe da criança. Bruninho soube da notícia de que o pai foi colocado em liberdade sem querer, enquanto assistia à televisão na hora do almoço.
“Ele é só meu genitor”, diz a criança a todo mundo que pergunta. Não há raiva, nem rancor. Apenas medo. “Como vou ter ódio de alguém que não conheço?”, argumenta. E conclui, para encerrar o papo e eliminar qualquer dúvida: “Minha mãe é a Eliza”.
Do goleiro, Bruninho tem os pés, a covinha no queixo e a mania de arregaçar a barra das calças de moletom. Da mãe, o aconchego ao acariciar os cabelos da avó, a paixão por batata frita com ketchup, o time do coração (São Paulo) e o talento com a bola –esse herdado de ambos. “Minha filha era apaixonada por futebol. Quando criança, acertava toda a escalação do time do São Paulo, com os reservas. Jogava bola na rua todos os dias”, diz Sônia de Fátima.
A avó revela que tentou evitar ao máximo que ele jogasse futebol e assume, até, que comemorou quando um dos seus três cachorros comeu uma das bolas que o neto tinha em casa. “Depois de muita conversa com a psicóloga, decidi não interferir mais. O Bruno Fernandes é uma pessoa, o Bruno Samudio, meu neto, é outra. Ele deve escolher o rumo da própria vida”.
Bruno Samudio gosta de ser chamado, se possível, só assim. Ele nega o segundo sobrenome, “Souza”, do qual queria se desfazer. “Na verdade, ele me diz o tempo todo que queria se chamar Gabriel, que queria mudar de nome. Eu não vou fazer isso, de jeito nenhum. Se o Bruninho, quando for adulto, quiser fazer isso, vou respeitar. Mas não vou interferir no nome que minha filha escolheu”, diz a avó.
“Levei meu neto para tirar o RG há alguns meses e ele teve de assinar o nome completo naquela partezinha ali embaixo. Escreveu só ‘Bruno Samudio’ bem grande para que não coubesse mais nada. Não adiantou: o atendente disse que precisaria colocar o ‘Souza’ também e ele fez um escândalo”, conta.
Do pai, Bruninho sabe pouco, mas o suficiente. “Um dia, se ele quiser, vai poder conhecê-lo. Ele diz: ‘Mãe Soninha, como vou confiar num cara que tentou me matar? Nem se ele me oferecer um refrigerante fechado vou aceitar’. Ele fala que tem medo do Bruno, sabe? Um dia, sei que será inevitável o encontro dos dois. Mas, se depender de mim, ele não chega perto do Bruninho”.
Sônia insiste a cada sequência de perguntas que não tem mais ódio do homem que matou sua filha. Porém, admite o quão árduo foi este processo. “Ajoelhava e rezava, gritava, doía de um jeito que eu perdia a voz. Não saía, sabe? Quando o Bruninho era bebê, eu deitava na cama, ele, no berço, e fechava todas as janelas. Se eu pudesse sumir com ele para um lugar em que não tivesse gente, eu iria. Eu queria ficar só com ele. Se eu sentisse ódio do pai dele, automaticamente transferiria esse ódio para ele. Eu não podia odiar meu neto”.
Desde o assassinato da filha, em junho de 2010, a vida de Sônia é um alerta sem fim. À reportagem, garante que nunca desligou o celular desde que comprou: “Ah, há muitos anos já”. Se o neto foge dos olhos dela, a avó vira e revira a cabeça até encontrá-lo. E grita o nome, quando não consegue.
É sempre assim: ela chega à escola dez minutos antes de o sinal marcar o fim da aula. De dentro do portão, Sônia espera Bruninho todos os dias. “Ele vive perguntando quando vai poder ir à escola sozinho. Digo que, quem sabe, daqui uns seis ou sete anos. Quem sabe, hein?”.