Ex-presidente do Paraguai “promoveu e financiou” a organização do “doleiro dos doleiros” brasileiro

O ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes, “promoveu e financiou” a organização criminosa de seu “irmão de alma”, o doleiro brasileiro Dario Messer, segundo acusações formalmente apresentadas pelo MPF (Ministério Público Federal) do Rio de Janeiro. De acordo com o relatório, Dario Messer, o “doleiro dos doleiros” precisou de “assistência operacional logística, financeira e política” enquanto fugia da Justiça do Brasil e do Paraguai.

Os procuradores da República apontaram novamente o ex-presidente paraguaio Horacio Cartes como um ator de “posição de liderança” na organização criminosa transnacional de Messer. Algo que eles já haviam apontado no mês passado, quando emitiram o pedido de captura contra o empresário e político paraguaio. A participação de Cartes foi demonstrada pelo financiamento de US$ 500 mil para a Messer.

O MPF sustenta que as evidências provam que o ex-presidente paraguaio ajudou seu “irmão de alma” a permanecer fugitivo, apesar de já haver dois pedidos de captura contra ele: um no Brasil e um no Paraguai. Os investigadores lembram no relatório que Messer enviou uma carta manuscrita a Cartes pedindo US$ 500 mil em apoio a “suas despesas legais”.

A carta foi entregue ao ex-presidente paraguaio pelo suposto contrabandista Roque Fabiano Silveira. Na carta, Messer diz que o dinheiro lhe permitiria “passar deste estágio” e que “sempre precisará do seu apoio”. É claro que Horacio Cartes agiu a favor da organização criminosa não apenas pelo simples fato de ter recebido uma carta”, afirma o documento do MPF.

Segundo os procuradores da República, há evidências do recebimento da carta e da entrega dos valores solicitados em janeiro deste ano. A conduta do ex-presidente pode ser enquadrada, no mínimo, como um agente de promoção e financiamento de uma organização criminosa transnacional”, afirmou o documento.

A apresentação formal de acusações do MPF contra Messer, Cartes e outros supostos membros da organização criminosa do doleiro incluiu parte das declarações do filho de Dario, Dan Wolf Messer. Ele deu detalhes da organização submetendo-se ao processo de premiação e revelou fatos que evidenciam a estreita relação entre Cartes e Messer.

O filho do doleiro contou que seu pai comprou pela primeira vez um avião RV10 que depois trocou por um Baron Beachcraft que ele costumava percorrer entre Assunção e Ciudad del Este. “O colaborador sabe que o avião foi guardado no hangar de Jorge Cartes, irmão de Horacio Cartes, perto do aeroporto internacional de Luque”, diz o documento.

Dan também informou que acompanhou o pai em mais de uma ocasião para visitar Cartes na residência presidencial de Mburuvicha Róga. O filho do doleiro ressalta que as conversas entre Dario Messer e seu chamado “irmão da alma” geralmente giravam em torno de assuntos de maior importância. No entanto, ele disse que lembrava que seu pai queria ser nomeado cônsul honorário de Israel no Paraguai e para o qual pediu que seu amigo, o então presidente da República, lhe desse uma mão.

Dan também disse que seu pai adquiriu com Horacio Cartes uma fazenda nos anos 90. Essa seria a propriedade que aparece em nome da Inversiones Tournon S/A, empresa pertencente a Dario Messer. Cartes instruiu Messer sobre a contratação ou não de novos advogados no Paraguai, de acordo com documentos do MPF.

O doleiro mencionou Cartes em comunicação com o advogado brasileiro Carlos Chammas. “Recebi uma mensagem de Horacio para não contratar um advogado por enquanto, porque ele quer ver se o advogado de Dan (Dan Messer) resolve seu problema no Paraguai”, escreve Dario ao advogado. Carlos Chammas pergunta se ele cancela uma viagem ou se mantém contato com um advogado. A troca de mensagens ocorreu, de acordo com o MPF, em 27 de maio.