O grupo criminoso que foi preso após tentar roubar o cofre da central do Banco do Brasil de Campo Grande, localizada no Bairro Coronel Antonino, pretendia levar até R$ 200 milhões em dinheiro, que é quantia movimentada por dia na unidade, e, para isso, cavou um túnel com 63 metros de extensão de um imóvel vizinho até o cofre.
O audacioso plano parece ter saído de um filme de Hollywood, mas, assim como no cinema, também acabou mal para os bandidos, já que a ação foi interrompida pela Polícia, que há seis meses investigava a ação dos suspeitos. “Estávamos acompanhando tudo, essa investigação é de muito tempo. São criminosos especializados de todo o Brasil”, disse à imprensa o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira.
Os criminosos construíram o túnel de 63 metros, que começava em uma casa, ao lado de uma oficina mecânica que fica em frente à gerência regional do Banco do Brasil. Eles planejavam estourar o cofre nos próximos dias, neste período de fim de ano, depois de tentativas frustradas, quando descobriram que as paredes do cofre não poderiam ser cortadas ou quebradas sem chamar atenção dos vizinhos: seria necessária uma explosão.
De posse das informações de que a quadrilha contava com bandidos do Estado de São Paulo e da Região Nordeste, o Grupo de Repressão a Assaltos e Sequestros da Polícia Civil (Garras) decidiu agir. Entre a noite de sábado (21) e a madrugada de ontem (22), a casa que servia de porta para o túnel e base para os criminosos foi “estourada” pelos policiais. Houve confronto e dois envolvidos morreram, outros seis foram presos e alguns dos criminosos, feridos, foram internados.
O plano para assaltar o local começou com o aluguel de uma casa localizada na Rua Minas Gerais, via perpendicular à Rua Alegrete, onde está localizada a central do BB. O delegado titular do Garras, Fábio Peró, afirmou que várias pessoas participaram da escavação do túnel, não sendo apenas os seis que foram presos. O delegado explicou que era feito uma espécie de rodízio na escala para cavar o túnel que dá acesso à central.
Conforme a Polícia, os bandidos também contrataram mão de obra alheia para tocar a escavação. Cada dia uma pessoa diferente recebia uma quantia para trabalhar ali e ficar calada. A terra era armazenada em sacos no próprio local para não haver movimento que despertasse a atenção de alguém. Esse caminho já tinha mais de 63 metros e se aproximava do caixa-forte da agência.
A Polícia já estava monitorando o grupo e conseguiu evitar o roubo, embora, para entrar no cofre seriam necessários artefatos pesados para romper a segurança. A Polícia não detalhou o plano dos bandidos. As paredes do túnel eram sustentadas por vigas aparentemente de madeira de eucalipto e os criminosos colocaram escadas. Há o risco de desabamento do local, porém, o trecho não está interditado. Ventiladores garantiam mais conforto aos escavadores, mas a Polícia classificou o local como insalubre. “Estamos em período de chuvas, por esse motivo a Polícia Civil está avaliando o local, pois corre o risco de desabar”, declarou o secretário.
Além dele, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) também sabia da investigação sobre a quadrilha. Durante as prisões, a Polícia ainda encontrou um veículo Toyota Hilux, com placa de Pernambuco, e um caminhão, com placa de Ponta Porã, ambos foram apreendidos. Os moradores vizinhos falaram que apenas ficaram sabendo que algo acontecia quando ouviram os tiros.
Agora, reina a incerteza e o medo. Um morador que não quis se identificar acredita que os bandidos escolheram o imóvel, localizado na Rua Minas Gerais, não apenas pela proximidade do alvo, mas porque fica ao lado de uma oficina que faz bastante barulho ao longo do dia. O imóvel de muro amarelo tem portão fechado e impede a vista para o que acontece lá dentro. No fim da manhã de ontem, o único indício do que houve ali era um saco de cordas sujas de lama abandonado na calçada.