JORNALISMO INVESTIGATIVO

O jornalismo investigativo não é a cobertura habitual.
O que é jornalismo investigativo?
Como ele é realizado?
Por que precisamos praticá-lo?

Quase meio século após o caso Watergate – o momento que definiu de modo decisivo a história do gênero –, nem o público nem os jornalistas estão de acordo quanto às respostas para essas perguntas.

O que pensamos a esse respeito é:
O jornalismo investigativo envolve expor ao público questões que estão ocultas – seja deliberadamente por alguém em uma posição de poder, ou acidentalmente, por trás de uma massa desconexa de fatos e circunstâncias que obscurecem 0 entendimento. Ele requer o uso tanto de fontes e documentos secretos quanto divulgados. A cobertura convencional de notícias depende amplamente – e, às vezes, inteiramente – de materiais fornecidos pelos outros (por exemplo, pela polícia, governos, empresas, etc.); ela é fundamentalmente reativa, quando não, passiva.

Jornalismo InvestigativoA cobertura investigativa, em contraste, depende de materiais reunidos ou gerados a partir da própria iniciativa do(a) repórter (e por isso ela é frequentemente chamada de “cobertura empreendida” – em inglês, “enterprise reporting”).

A cobertura convencional de notícias visa criar uma imagem objetiva do mundo como ele é.

A cobertura investigativa utiliza materiais objetivamente verdadeiros – ou seja, fatos que qualquer observador razoável concordaria que são verdadeiros – visando à meta subjetiva de reformar o mundo. Ela não é uma licença para mentir por uma boa causa. Ela é uma responsabilidade, para que a verdade seja aprendida de modo que o mundo possa mudar.

Ao contrário do que alguns profissionais gostam de dizer, o jornalismo investigativo não é apenas o bom e velho jornalismo bem realizado. De fato, ambas as formas de jornalismo focalizam os elementos de quem, o que, onde e quando.

Mas o quinto elemento da cobertura convencional, o “por que”, torna-se o “como” na investigação. Os outros elementos são desenvolvidos não apenas em termos de quantidade, mas também em termos de qualidade.

Jornalismo InvestigativoO “quem” não é apenas um nome ou um título, e sim uma personalidade, com traços de caráter e um estilo.

O “quando” não está presente nas notícias, e é um continuum histórico – uma narrativa.

O “que” não é meramente um evento, e sim um fenômeno com causas e consequências.

O “onde” não é apenas um endereço, e sim uma ambientação, na qual certas coisas se tornam mais ou menos possíveis.

Esses elementos e detalhes dão ao jornalismo investigativo, em sua melhor forma, uma poderosa qualidade estética que reforça o seu impacto emocional. Em suma, ainda que os repórteres possam fazer tanto a cobertura diária quanto o trabalho investigativo ao longo de suas carreiras, os dois papéis envolvem às vezes habilidades, hábitos de trabalho, processos e metas profundamente diferentes.

É algo aparente que uma investigação dê muito mais trabalho do que o jornalismo do dia-a-dia?
De fato, ela dá mais trabalho, a cada passo do processo, ainda que seja possível realizá-la de maneira eficiente e prazerosa.
Ela também é muito mais recompensadora – para o público, para a sua organização, e para o jornalista que a produz.

O jornalismo investigativo não é somente ou principalmente um produto, e sim um serviço; e esse serviço está mudando.

Fonte: Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo/UNESCO