O deputado estadual Neno Razuk (PL) foi condenado a 16 anos de prisão pelo juiz José Henrique Kaster Franco, que destacou em sua sentença o uso indevido das impressoras da Assembleia Legislativa para imprimir material relacionado ao jogo do bicho. Essa prática foi um dos fatores que levaram à determinação da perda de seu mandato parlamentar.
Na decisão, o magistrado também mencionou que o deputado empregava comparsas em seu gabinete, com três dos principais operadores da organização criminosa – Gilberto Luis dos Santos, Manoel José Ribeiro e Diego de Souza Nunes – nomeados como assessores parlamentares. O juiz apontou ainda que Diogo Francisco imprimiu imagens de locais ligados aos rivais do jogo, utilizando a impressora da Assembleia, acessada por meio de Diego de Souza Nunes, assessor de Razuk.
Apesar da condenação, Neno Razuk só deixará a Assembleia se a decisão for confirmada em todas as instâncias judiciais e após o esgotamento de todos os recursos. Ele está em seu segundo mandato como deputado, assim como seu pai, Roberto Razuk, que também exerceu dois mandatos.
Além do deputado, outros 14 membros da organização criminosa foram condenados. O Ministério Público revelou que o grupo atuava na exploração do jogo do bicho e na prática de roubos armados em Campo Grande. Somadas, as penas impostas ultrapassam 100 anos de reclusão, com multas que superam R$ 900 mil. As penas individuais variam de 3 anos e 6 meses a mais de 16 anos.
Em sua defesa, o deputado alegou que deveria ter foro privilegiado e que seu caso deveria ser julgado pelo Tribunal de Justiça. No entanto, o juiz esclareceu que o foro por prerrogativa de função se aplica apenas a crimes cometidos durante o exercício do cargo e que devem ter relação direta com as funções desempenhadas. Assim, os assaltos a motociclistas de grupos rivais do jogo do bicho foram considerados crimes comuns, resultando em seu julgamento em primeira instância.
Ao justificar a condenação, o juiz comparou a atuação do grupo de Razuk à máfia italiana, caracterizando suas práticas como intimidação e subjugação, e mencionou que os assaltos armados eram apenas uma parte das atividades criminosas do grupo. O juiz ressaltou que a tomada do controle do jogo em Campo Grande era apenas um dos negócios menores do grupo, sugerindo uma estrutura criminosa ainda mais ampla e complexa.
A investigação revelou que o grupo estava em busca de um investidor disposto a aportar R$ 30 milhões, e o juiz observou que apenas líderes examinariam acordos dessa magnitude. Além disso, a sentença destacou a infiltração da organização nas forças de segurança, com dois policiais militares da reserva condenados por atuarem como braço armado do grupo, utilizando suas prerrogativas para garantir a execução de atividades ilícitas.
Um dos policiais exercia função de gerência operacional, enquanto o outro participava diretamente de ações armadas contra rivais, evidenciando o risco institucional e a necessidade de medidas rigorosas contra a associação de agentes públicos a organizações criminosas.
A Operação Successione, deflagrada pelo Gaeco/MPMS em outubro de 2023, visou desarticular a organização criminosa que buscava assumir o controle do jogo do bicho em Campo Grande, após a desarticulação do grupo da família Name na Operação Omertà. Recentemente, uma nova fase da operação resultou em novas prisões e apreensões, incluindo o ex-deputado Roberto Razuk, pai de Neno, e dois irmãos do parlamentar, com o pai sendo liberado para cumprir prisão domiciliar.

