Delação na Operação Tromper argola além da prefeita, dois deputados estaduais

Vai começar a emergir um monte de fatos novos de quem são as peças do quebra-cabeça que envolve a segunda fase da Operação Tromper depois que Tiago Basso fechou acordo de colaboração premiada no ano passado e é réu confesso pelos crimes de fazer parte de organização criminosa, corrupção passiva e violar sigilo em licitação em processo derivado das duas primeiras fases da Tromper.

Agora a a suspeição do sigilo do caso é possível saber quem são os políticos que operavam as falcatruas que deram golpe no município. A enxurrada de pedidos para acesso aos autos da delação premiada que cita pelo menos três políticos sul-mato-grossenses detentores de foro privilegiado está sob análise da Vara Criminal de Sidrolândia. Enquanto isso, a cidade, a 71 km de Campo Grande, ainda suporta os impactos da Operação Tromper, à beira de implodir.

Pelo menos um conselheiro do Tribunal de Contas, um deputado e a própria prefeita, Vanda Camilo, estão nos relatos da terceira fase, deflagrada no dia 3 de abril, o Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) que conseguiram chegar ao vereador por Campo Grande, Cláudio Jordão de Almeida Serra, o Claudinho Serra (PSDB). Ele é considerado pela acusação o mentor do esquema de corrupção milionário instalado na Prefeitura de Sidrolândia.

A partir do material coletado no início de abril, há a previsão que força-tarefa do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) tenha mais munição para chegar à prefeita da cidade e sogra de Claudinho, Vanda Camilo (PP). O Campo Grande News apurou que a participação da gestora no esquema foi detalhada, com comprovações, pelo ex-chefe do setor de Compras e Licitações da prefeitura.

O acordo – Tiago Basso fechou acordo de colaboração premiada no ano passado e é réu confesso pelos crimes de fazer parte de organização criminosa, corrupção passiva e violar sigilo em licitação em processo derivado das duas primeiras fases da Tromper. Ele deixou a prisão no dia 31 de outubro de 2023, logo depois de a delação ter sido homologada pela Justiça. Havia passado pouco mais de 100 dias em cela do Petran (Presídio de Trânsito), no Complexo Penal do Jardim Noroeste, em Campo Grande.

O ex-servidor, conforme a investigação, atuou em cargo comissionado na Prefeitura de Sidrolândia até 2020 e é acusado de ser o responsável por atestar as notas fiscais frias, uma delas identificada em licitação supostamente fraudulenta. Ele também recebeu em sua conta pessoal R$ 2 mil de uma das empresas envolvidas no esquema, a PC Mallmann, de José Ricardo Rocamora, empresário também apontado como um dos “cabeças” do esquema.

Classificado como “importante peça desse grupo criminoso para o sucesso na execução dos ilícitos”, Basso foi poupado da última denúncia oferecida pelo Ministério Público, contra Claudinho Serra e outras 21 pessoas.

Aliás, foi em nota de rodapé, trazida na peça do MP, que houve a confirmação que o ex-servidor virou delator. “Deixa-se, por ora, de denunciar Tiago Basso da Silva pelos fatos descritos na inicial acusatória, por ter pactuado colaboração premiada com o Ministério Público, já homologada judicialmente no âmbito do Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul”, diz o parágrafo em letras miúdas.

Num dos depoimentos dados ao MP para o fechamento do acordo – foram pelo menos seis, apurou a reportagem –, Basso não poupou outros dois políticos sul-mato-grossenses quando foi perguntado sobre materiais apreendidos com ele. O ex-servidor trabalhou em campanhas eleitorais no município.

Como além de Vanda Camilo, os outros dois citados têm foro, o acordo foi analisado e validado pelo TJMS e não na primeira instância de Sidrolândia.

Aval – Nesta terça-feira (14), o MP se manifestou favoravelmente à liberação do acesso aos autos da delação, que estão em sigilo absoluto, para os advogados de sete réus na terceira fase da Tromper. Depois da elaboração do parecer, assinado pela promotora de Justiça de Sidrolândia, Bianka Mendes, outros dois pedidos foram protocolados.

A reportagem apurou ainda que a tendência é que juiz libere acesso ao conteúdo dos depoimentos e documentos entregues por Basso ao Ministério Público para os advogados dos outros réus. Assim, a Justiça evita que os processos derivados da operação sejam questionados sob o argumento de que as defesas estão sendo impedidas de fazer seu papel.

Outro lado – A prefeita Vanda Camilo garantiu que o que sabe sobre a delação “é baseado nas notícias divulgadas pela imprensa”. Á reportagem, disse apenas que “juridicamente, não posso falar sobre o que não tenho conhecimento”.

Claudinho Serra alega inocência. “Seguro da minha inocência e confiante da imparcialidade do Poder Judiciário e do Ministério Público, acredito que a justiça será feita e serei absolvido das acusações que pesam sobre a minha pessoa”, informou, via nota enviada à imprensa no início da noite. Com infos Campo Grande News