O doleiro brasileiro Dario Messer, que está sendo procurado pela Justiça do Brasil e do Paraguai, pode ser sentenciado a 64 anos de prisão no Brasil pela lavagem de mais de US$ 1,65 bilhão em operações bancárias em 52 países, segundo denúncias feitas ontem (7) pela Força-Tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro.
O procurador da República Stanley Valeriano, um dos membrom da Força-Tarefa Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, explica que o “irmão espiritual” do presidente da República, Horacio Cartes, foi indiciado por liderar uma organização criminosa internacional, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. “As penalidades podem totalizar até 64 anos de prisão, embora a lei criminal brasileira limite a aplicação dessa pena a 30 anos de prisão”, explicou.
Ele acrescenta ainda que “há outros fatos ainda sob investigação que podem dar origem à proposta de novas ações contra a Messer”. “Ele foi o doleiro dos doleiros, capaz de dirigir, coordenar, racionalizar e melhorar os lucros de dezenas de mercado operadores de comércio em moeda estrangeira à margem da lei, chegando a movimentar entre anos de 2011 a 2016 mais de US$ 1,65 bilhão”, revelou, completando que as contas movimentadas por Messer estavam espalhadas por 52 países e envolviam mais de três mil offshores.
Essa movimentação de recursos no exterior exigiu que uma estrutura logística fosse montada no Brasil para permitir que o dinheiro fosse transportado, guardado e liquidados. Para isso, Messer e outros doleiros implementados uma estrutura criminosa sofisticada que visava a prática de, entre outros, a evasão de divisas do sistema financeiro brasileiro e corrupção ativa e passiva, em fundos de lavagem de derivados desses crimes como recursos usados para pagar subornos indevidos a agentes públicos.
Nomeadas 677 vezes
Dario Messer foi formalmente acusado pelo Ministério Público Federal do Brasil em uma ação criminal com mais 816 páginas em que é mencionado cerca de 677 vezes. O “irmão espiritual” de Horacio Cartes é o primeiro acusado de uma longa lista que inclui outros doleiros que entregaram documentos contra Dario.
A acusação é grave. “Ele financiou e pessoalmente se juntou a uma organização criminosa que visava a prática, entre outros crimes, de evasão de divisas do sistema financeiro nacional para a lavagem de ativos e passivos dessas operações, originando recursos usados para pagar propinas devidas a agentes públicos”, afirmou o procurador da República.
O documento final da Força-Tarefa inseriu detalhes das movimentações bancárias, ordens de pagamento, empresas e de casas de câmbio usadas na operação fraudulenta. Nas constantes alterações da propriedade da empresa Yrendagué, em Ciudad del Este (Paraguai), aparece e reaparece o nome de Lucas Mereles como o “doleiro” a quem estava sendo destinado todo o dinheiro. Apesar disso, essa empresa ainda não foi incomodada pela equipe do Ministério Público do Paraguai, que investiga as operações da Messer no país vizinho.
Na verdade, as operações de Messer foram encobertas pelo próprio presidente da República, que controla a agência de prevenção a crimes de lavagem de dinheiro no Paraguai, a Seprelad. Óscar Boidanich, diretor da Seprelad, entregou o primeiro relatório apenas no dia em que a imprensa publicou o relatório sobre as 19 contas bancárias na Suíça de propriedade da Messer em abril passado.
Anteriormente, Boidanich ignorou e redigiu Relatórios de Operações Suspeitas (ROS) e avisos feitos pelo Brasil sobre as operações da Messer. Dario Messer não só tem cidadania paraguaia com a ajuda de advogados de Horacio Cartes, mas também movimentou somas monumentais de dinheiro do exterior supostamente para uma empresa de lotação e outros imóveis usando o banco estatal, o Banco Nacional de Fomento (BNF).
Até agora, cerca de US$ 51 milhões provenientes das Ilhas Virgens Britânicas entraram no Paraguai, utilizando o banco israelense Hapoalím, de Luxemburgo, através do Citibank, em Nova York. A Messer utilizou contas em seu nome, bem como contas autorizadas em nome da Chai S/A e Matrix Realty S/A. Ele também autorizou contas em nome da empresa Pegasus Inversiones, em que colocou como sócio seu filho, Dan Messer, e um primo de Horacio Cartes, Juan Pablo Jiménez Viveros Cartes.