O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, decide até sexta-feira (8) se Stephanie de Jesus da Silva e Christian Campoçano Leitheim, mãe e padrasto de Sophia Jesus Ocampos, que morreu aos 2 anos de idade após maus-tratos e abusos sexuais praticados por ambos, enfrentarão ou não um júri popular.
“A instrução está encerrada com êxito. Não obstante as intempéries ocorridas, pedido de adiamento, perícia, ficou pendente e tudo mais. Mas conseguimos terminar esse ano ainda, que é a data do crime, conseguimos encerrar essa instrução e eu consigo, no máximo em três dias, proferir a sentença, submetendo eles a júri popular ou não”, explicou o magistrado.
Questionado sobre a ‘chance especial’, dada aos acusados de se pronunciarem sobre o caso antes da sentença, Aluízio comentou que a função de um juiz é sempre deixar claro para os réus o direito de defesa. Para ele, foi bom os dois terem ido à audiência de hoje para falar, contando cada um a sua versão dos fatos, mesmo que divergentes como já era esperado.
“Dessa vez, os réus saíram daqui com a oportunidade de defesa. É sempre importante, como eu disse, a gente sempre dar oportunidade ao réu de falar. Exatamente para que amanhã não alegue nulidade, cerceamento de defesa, e é isso que a ninguém interessa”, finalizou.
Hoje ainda, as defesas dos acusados apresentaram as alegações finais, ratificando as já prestadas. A partir disso, dada a sentença junto com a proximidade do encerramento dos trabalhos do judiciário, o caso deve voltar a ser julgado apenas em 2024, com possível data para março ou nos meses subsequentes.
Depoimentos
Na noite de ontem (5), o padrasto acusou a ex-companheira de ser “violenta”. Ele rebateu as acusações enfrentadas no banco dos réus, ao dizer que nunca tocou, permitiu ou facilitou que outra pessoa pudesse violar o corpo da criança. “Não é verdade, e até me surpreendi com a acusação porque repudio tal ato”.
Sobre as mensagens anexadas ao processo, onde o padrasto alega que tiraria a sua própria vida, Christian disse ter reagido ao choque. “Me senti culpado por não ter visto nada antes, ou ter avisado. Acho que foi por conta disso. Falei pra ela inventar alguma coisa, para que pudesse sair do local”.
O padrasto disse que havia ingerido bebida alcoólica e usado entorpecentes na madrugada da morte da criança. “Estava cansado, quem me acordou foi a Stephanie falando que a Sophia não estava bem. Quando eu vi, ela já estava com a boca roxa”.
Questionado pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, o acusado afirmou que nunca agrediu Sophia ou o próprio filho como forma de disciplina, e que a correção era apenas colocá-los de castigo sentados. Christian também negou ter agredido alguma vez a ex-mulher e a enteada, bem como a acusou de ser violenta.
Eu só fiquei com a Stephanie da Silva porque ela estava grávida. Ela era muito explosiva, partia pra cima de mim e eu só reagia. Ela falou do olho roxo, com certeza. Mas ela arremessou a Sophia no sofá e bateu na nossa neném, aí perdi a cabeça e dei um murro na cara dela”, disse.
Stephanie da Silva também prestou depoimento. Ao falar pela primeira vez do crime, se eximiu de qualquer agressão e atribuiu a morte da filha ao ex-companheiro. Com todas as letras, a mãe de Sophia acusou o ex-marido pelo assassinato da criança. Ao ser questionada pela promotora de Justiça Lívia Carla Guadanhim Bariani, Stephanie disse: “Christian!”
É a primeira vez que ela faz esse relato acusando o ex-companheiro, assim como os demais, já que até então, nem ela ou o ex-marido haviam falado oficialmente sobre o crime.
“Quando cheguei [do trabalho], ele já estava com ela no colo, desacordada. […] Sophia estava com as perninhas moles, mas eu não vi Christian a agredindo. Ele a pegou do meu colo e me mandou ir fazer leite. E foi com ela para o banheiro. De lá, arrumei as coisas para ir ao posto [de saúde]”, relatou a acusada.
A jovem contou que presenciou as agressões de Christian. “Ele dava murros e cintadas. Eu já peguei ele enforcando o filho dele, mas com a Sophia nunca vi ele fazendo isso de enforcar. Christian fazia muita pressão psicológica e eu tinha medo de ser trocada de novo, como fui trocada no primeiro casamento”.
Stephanie disse ainda que jamais agrediria a filha e ao perguntarem a ela se participou das agressões que causaram a morte, afirmou que “não teria coragem”, justificando que a criança de 2 anos teria sido planejada junto com o pai da menina, Jean Ocampos, presente no plenário. “Ela era a filha do homem que eu amei muito”.