Após o entrevero com policiais militares na Rua 14 de Julho, no centro de Campo Grande (MS), na noite de sábado (21) para domingo (22), a deputada federal Camila Jara (PT-MS) procurou o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, na véspera de Natal, na terça-feira (24), para, conforme ela, “equilibrar o sossego dos moradores com o livre exercício da atividade econômica que movimenta o centro, gerando emprego, renda e lazer para a cidade”.
No fim de semana, a deputada se tornou assunto na cidade após intervir em uma operação da PM sob a justificativa de defender o direito à liberdade econômica e cultural de empreendedores e frequentadores da Rua 14 de Julho. Durante a reunião, foram apresentados pontos divergentes de cada segmento da sociedade envolvido, discutiram também o panorama político, econômico e cultural que sofre as consequências da falta de regulamentação municipal.
Ambos concordaram que há a necessidade de revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo – que inclui a Lei do Silêncio – e a urgência de mecanismos de apoio e financiamento para empresários. Foram discutidas também a regulamentação de ambulantes, buscando tornar a avenida economicamente viável, socialmente justa, ambientalmente correta e culturalmente diversa. Será realizada uma audiência com a prefeita Adriane Lopes (PP) para incluir o Executivo municipal nas tratativas.
Na noite de sábado (21), a deputada federal Camila Jara, segundo informou sua assessoria, estava acompanhando as atividades dos bares da 14 de Julho a convite dos empresários, quando se deparou com uma operação policial. Conforme a nota, o objetivo dos agentes era fechar os bares antes do horário previsto. Nesse ínterim, os frequentadores começaram a reclamar de uma suposta truculência por parte dos militares, mesmo enquanto os empresários apresentavam os alvarás de funcionamento, devidamente expedidos pela prefeitura.
Com o efetivo composto por três viaturas da Polícia Militar, os policiais exigiam o fechamento dos bares antes do horário estabelecido e a deputada federal decidiu intervir. “Ao perceber o conflito, a parlamentar, que acabara de chegar de Brasília para o recesso de final de ano, se identificou e interpelou o tenente responsável sobre a razoabilidade da atuação.”
Segundo a nota da deputada, o efetivo deixou a 14 de Julho e seguiu em direção a um bar em frente ao Armazém Cultural. Neste momento, depararam-se novamente com Camila Jara. “Um soldado do 1º BPM (Batalhão da Polícia Militar) chegou a apontar a pistola para a representante e ameaçou prendê-la. O militar abaixou a arma apenas depois que a congressista se identificou pela segunda vez”, diz a nota.
Durante a ação, o 1º tenente PM responsável pela operação e a deputada federal chegaram a um consenso, pois, como não foi encontrada nenhuma irregularidade no bar, que tinha alvará em dia, o estabelecimento seguiu funcionando normalmente. A Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiros Militares de Mato Grosso do Sul (ACSPMBM-MS) repudiou a postura da deputada federal Camila Jara (PT-MS) durante discussão com policiais militares, na madrugada de domingo (20), no centro de Campo Grande (MS).
A nota, postada no perfil da entidade no Instagram, traz que a parlamentar agiu sem justificativa e que embaraçou o trabalho dos militares durante fiscalização a bares que passaram a abrir à noite na região. No texto, a Associação reflete que é atribuição da PM fazer policiamento ostensivo e preventivo tem como objetivo a preservação da ordem pública.
”Nesse contexto, a intervenção da deputada se revela descabida e inoportuna, pois sua postura, ao embaraçar o exercício da atividade policial compromete a segurança e o interesse público na manutenção da ordem”, refletiu a Associação por meio de nota oficial.
Camila Jara questionou as frequentes abordagens que policiais militares fazem em barzinhos, sobretudo na Rua 14 de Julho e na Avenida Calógeras, no centro da cidade. Ela diz que foi ao local a pedido de comerciantes e teria entendido que a ação da PM foi abusiva e preconceituosa.
Um dos poucos trechos audíveis do vídeo mostra a deputada – em meio aos policiais – questionando se alguém falou em prendê-la. Em outro ponto da gravação, ela questiona se os militares iriam fiscalizar uma conveniência famosa, que fica na Rua Euclides da Cunha. Ao ouvir que não, ela sugeriu que haveria diferenciação de tratamento entre comércios por parte dos servidores.
”Ah, então vocês têm preconceito de classe”, disparou a petista. Na gravação, Camila – dentro de um estabelecimento – cobra a presença de uma policial feminina para abordar e fiscalizar a proprietária do local. Camila informa aos policiais que já fez reuniões com o governador Eduardo Riedel sobre qual seria a maneira mais assertiva de fiscalizar os bares na região e a necessidade de ampliar a averiguação para outros pontos.
A deputada federal denunciou também que, quando estava em um bar na Calógeras, teve uma arma apontada para ela e outras pessoas. Ela destacou que a situação só se acalmou quando se identificou e foi reconhecida como deputada federal. Em nota, a PM informou que o 1° BPM, responsável pela segurança na área central, realiza diuturnamente ações preventivas, por meio do policiamento ostensivo, rondas e fiscalização dos alvarás de estabelecimentos comerciais.
“O principal objetivo é coibir a contravenção de perturbação do sossego e trabalho alheio e o crime de poluição sonora, mantendo a ordem e a tranquilidade dos moradores das regiões próximas a bares e restaurantes”, explicou. Ainda segundo a instituição, a PM recebe diariamente inúmeras denúncias, via 190, de perturbação do sossego e poluição sonora, bem como constatou aumento no número de crimes contra o patrimônio em regiões próximas a esse tipo de estabelecimento.