Na manhã desta quinta-feira (11), motoristas do Consórcio Guaicurus decidiram em assembleia que entrarão em greve a partir da próxima segunda-feira (15), após estarem sem receber salários há sete dias. O Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo e Urbano (STTCU) convocou as assembleias nas garagens, onde mais de 200 motoristas se reuniram para discutir a situação.
Os motoristas afirmam que essa é a primeira vez que enfrentam um atraso salarial, já que anteriormente os problemas se limitavam ao adiantamento salarial, conhecido como vale. Além do salário atrasado, a categoria expressa preocupação com o pagamento da segunda parcela do 13º salário, que vence no dia 20 de dezembro, e do vale do mês, também previsto para essa data.
As assembleias ocorreram nas garagens localizadas na Avenida Gury Marques e na Rua Marina Luiza Spengler, com a primeira chamada às 4h. O presidente do sindicato, Demétrio Freitas, conduziu a reunião na garagem da Avenida Guaicurus, onde todos os presentes votaram a favor da greve. Na outra garagem, o secretário-geral do STTCU, Santino Cândido Meira, também obteve apoio unânime para a paralisação.
Santino explicou que a escolha do horário para as assembleias visa facilitar a participação dos motoristas, que têm horários de trabalho variados. “Se marcarmos assembleias em horários diferentes, fica complicado para o deslocamento dos trabalhadores”, ressaltou.
Demétrio afirmou que a categoria só retornará ao trabalho após receber os três pagamentos pendentes. “Se até segunda-feira não houver o pagamento, tudo ficará parado. Temos o 13º e o vale a serem pagos, e precisamos que todos os três pagamentos sejam feitos de uma só vez”, enfatizou.
Com a aprovação da greve, o sindicato notificará a Prefeitura, a Câmara Municipal, os hospitais, a Polícia Militar e a Justiça ainda nesta quinta-feira. Caso os pagamentos não sejam regularizados até segunda-feira, nenhum ônibus deverá circular.
A incerteza sobre os pagamentos gerou tensão nas garagens desde a semana passada. Um motorista de 58 anos, que pediu para não ser identificado, compartilhou sua preocupação: “Trabalho aqui há mais de 30 anos e nunca enfrentei atraso no salário. Já houve atrasos no vale, mas no salário, nunca”.
Outro motorista, de 49 anos, expressou a frustração da categoria: “Chegamos ao limite. Não tem como trabalhar sem receber. As contas não esperam, e isso é uma falta de respeito. Sei que isso afeta a população, mas não podemos ficar calados”.
Contexto de Paralisações
Esta será a segunda paralisação do ano. A anterior ocorreu em 22 de outubro, após 47 horas de atraso no pagamento do vale. Naquela ocasião, surgiram denúncias de um suposto locaute, onde o sindicato teria atuado em conluio com o Consórcio Guaicurus para pressionar o poder público.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu uma investigação sobre essas alegações, mas o STTCU afirma que o inquérito foi arquivado e que não há fundamento nas acusações.
Santino Cândido Meira negou qualquer prática de locaute e classificou as suspeitas como infundadas. “O Ministério Público já nos ouviu e reconheceu que não houve irregularidades. Nós apenas defendemos os direitos dos trabalhadores”, afirmou.
Ele também destacou que o sindicato não tem envolvimento nas disputas contratuais entre a Prefeitura e o Consórcio. “Nós sabemos que existe uma relação entre o poder concedente e a concessionária, mas não cabe a nós interferir nessas questões”, explicou.
Santino lamentou que os trabalhadores fiquem no meio de conflitos entre as partes: “É triste ver que tanto o consórcio quanto a prefeitura estão em desacordo, e nós, trabalhadores, ficamos esperando que se resolvam para que possamos realizar nosso trabalho”.

