Terminais e pontos de ônibus de Campo Grande amanheceram sem movimentação nesta segunda-feira, com o início da greve geral dos motoristas do transporte coletivo. A paralisação foi deflagrada após atraso no pagamento dos salários de trabalhadores do Consórcio Guaicurus e afeta diretamente mais de 100 mil usuários que dependem do serviço na Capital.
A decisão de cruzar os braços foi tomada na última quinta-feira, durante assembleia com mais de 200 motoristas. A categoria cobra o pagamento integral dos salários — previstos para depósito em 5 de dezembro — além de outros direitos que também estariam em atraso.
Na tentativa de evitar a greve, o Consórcio informou na tarde de sexta-feira que realizou o pagamento de 50% do valor devido. O repasse parcial, porém, não foi suficiente para suspender a paralisação aprovada pelos trabalhadores.
Em uma das garagens do Consórcio, na região das Moreninhas, uma faixa avisava sobre a greve e havia policiamento reforçado. Cerca de 20 pessoas estavam no local.
Rotina interrompida
A auxiliar de limpeza Francisca Pereira, que trabalha no Shopping Campo Grande, contou que saiu cedo para pegar ônibus na Rua Minas Novas, nas proximidades da Rua Buinópolis, para entrar às 7h. Ela disse que no dia anterior viu veículos circulando e, por isso, acreditou que nesta manhã também haveria linhas operando. Após esperar por mais tempo do que o habitual, voltou para casa e decidiu aguardar orientação da supervisão.
Já o auxiliar de pedreiro José Ribeiro, de 48 anos, relatou que estava em outro ponto da mesma rua quando foi informado sobre a paralisação. Ele considerou o movimento “justo” e afirmou que, sem ônibus, cogita chamar um carro por aplicativo para seguir ao Jardim Leblon, mas disse que pretende conversar com o patrão antes.
A costureira Roseli Gomes Soares, de 49 anos, foi vista descendo a Rua Santo Ângelo em direção ao Terminal General Osório. Segundo ela, saiu apenas para confirmar se a greve era verdadeira, após a família ter visto comunicado de que os ônibus circulariam com promessa de pagamento. Roseli contou que costuma pegar o primeiro ônibus às 5h20 no bairro Coronel Antonino e afirmou que não pretende gastar com transporte por aplicativo, porque o custo do dia “acabaria dobrando”. Ela também disse que as horas sem trabalho podem ser descontadas.
A encarregada Sonia Batista da Silva, de 59 anos, afirmou que a empresa onde trabalha já havia sido avisada e, por isso, ofereceu transporte próprio. Um carro deve buscá-la às 5h30 na Avenida Mascarenhas, em frente ao Terminal General Osório, medida que, segundo ela, será adotada com outros funcionários que dependem do transporte coletivo.
Categoria exige quitação integral
Apoiador da paralisação, Wagner Freitas afirmou que o pagamento de 50% feito na sexta-feira não atendeu às exigências do grupo. “A demanda é pagamento integral do salário e do décimo, além do vale, que também não foi cumprido. Não saiu nenhum carro da garagem”, disse.
O presidente do STTCU-CG (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande), Demétrio Freitas, reafirmou que a frota seguirá totalmente parada e que o pagamento parcial não muda a deliberação da categoria. Segundo ele, o retorno do serviço está condicionado à quitação dos vencimentos em atraso, incluindo salários e verbas como 13º e vale.
A greve atinge a rotina de quem usa o transporte público para trabalhar. Dados do próprio Consórcio indicam que, em agosto do ano passado, a média mensal de passageiros transportados era de 3.248.211. Já a 32ª edição do perfil socioeconômico do município, divulgada pela Planurb em agosto de 2025 com base em dados de 2023, aponta média diária de 116.166 passageiros e cerca de 72 mil quilômetros rodados por dia no sistema.

