A Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiros Militares de Mato Grosso do Sul (ACSPMBM-MS) repudiou a postura da deputada federal Camila Jara (PT-MS) durante discussão com policiais militares, na madrugada de domingo (20), no centro de Campo Grande (MS).
A nota, postada no perfil da entidade no Instagram, traz que a parlamentar agiu sem justificativa e que embaraçou o trabalho dos militares durante fiscalização a bares que passaram a abrir à noite na região. No texto, a Associação reflete que é atribuição da PM fazer policiamento ostensivo e preventivo tem como objetivo a preservação da ordem pública.
”Nesse contexto, a intervenção da deputada se revela descabida e inoportuna, pois sua postura, ao embaraçar o exercício da atividade policial compromete a segurança e o interesse público na manutenção da ordem”, refletiu a Associação por meio de nota oficial.
Camila Jara questionou as frequentes abordagens que policiais militares fazem em barzinhos, sobretudo na Rua 14 de Julho e na Avenida Calógeras, no centro da cidade. Ela diz que foi ao local a pedido de comerciantes e teria entendido que a ação da PM foi abusiva e preconceituosa.
Um dos poucos trechos audíveis do vídeo mostra a deputada – em meio aos policiais – questionando se alguém falou em prendê-la. Em outro ponto da gravação, ela questiona se os militares iriam fiscalizar uma conveniência famosa, que fica na Rua Euclides da Cunha. Ao ouvir que não, ela sugeriu que haveria diferenciação de tratamento entre comércios por parte dos servidores.
”Ah, então vocês têm preconceito de classe”, disparou a petista. Na gravação, Camila – dentro de um estabelecimento – cobra a presença de uma policial feminina para abordar e fiscalizar a proprietária do local.
Camila informa aos policiais que já fez reuniões com o governador Eduardo Riedel sobre qual seria a maneira mais assertiva de fiscalizar os bares na região e a necessidade de ampliar a averiguação para outros pontos.
A deputada federal denunciou também que, quando estava em um bar na Calógeras, teve uma arma apontada para ela e outras pessoas. Ela destacou que a situação só se acalmou quando se identificou e foi reconhecida como deputada federal.
Em nota, a PM informou que o 1° Batalhão de Polícia Militar, responsável pela segurança na área central, realiza diuturnamente ações preventivas, por meio do policiamento ostensivo, rondas e fiscalização dos alvarás de estabelecimentos comerciais.
“O principal objetivo é coibir a contravenção de perturbação do sossego e trabalho alheio e o crime de poluição sonora, mantendo a ordem e a tranquilidade dos moradores das regiões próximas a bares e restaurantes”, explica.
Ainda segundo a instituição, a PM recebe diariamente inúmeras denúncias, via 190, de perturbação do sossego e poluição sonora, bem como constatou aumento no número de crimes contra o patrimônio em regiões próximas a esse tipo de estabelecimento.
O QUE DIZ CAMILA EM NOTA NO FACEBOOK
Pensei muito antes de vir contar o que aconteceu no sábado. Entre outros motivos, porque nunca foi meu objetivo tornar isso tudo pessoal, nem contra a PMMS.
Mas muita gente se preocupou. Então, vamos aos fatos.
A última semana foi intensa no Congresso. Precisávamos terminar todas as votações antes do final do ano ou quem sofreria seria quem mais precisa.
Na sexta meu voo de volta foi cancelado, cheguei em Campo Grande no sábado. Exausta, porém com o sentimento de dever cumprido. Pronta pra passar o Natal em família.
À noite, como tem sido frequente, fui à 14 demonstrar apoio aos bares que resistem e revivem o centro da nossa Capital.
O que aconteceu depois foi um exemplo do que muitas pessoas tem presenciado há semanas: ações que parecem ser direcionadas, uma espécie de “toque de recolher extraoficial” aos comerciantes e frequentadores do local.
Tais ações não são vistas com a mesma força e frequência em outros bares de ruas “elitizadas”.
Dessa vez foi ainda pior.
Na segunda operação, um policial desceu da viatura com a arma em punho e ia em direção aos civis que estavam no bar. Ele deu de cara comigo na porta da viatura. De ímpeto, questionei o motivo da operação e da arma. Quando me identifiquei como deputada federal, ele a abaixou.
O oficial responsável chegou, retirou o soldado e ameaçou me prender se eu não saísse da frente e parasse de atrapalhar a operação.
Eu, com meu 1,60m, fiquei entre o batalhão e as pessoas porque acredito no poder da economia criativa para reviver a cidade. São dezenas de eventos sem sequer uma briga, são centenas de pessoas que agora têm opção de lazer, são milhares de reais gerando emprego e renda para a cidade.
Na segunda passada, nosso gabinete, junto ao vereador Jean Ferreira, conduzimos reuniões entre os bares da 14 e o presidente da Câmara dos Vereadores, o comandante da PM e o governador para tentar encontrar uma solução equilibrada que garanta a liberdade cultural e econômica, mas também, o sossego dos moradores.
Agora falta a regulamentação da prefeitura para a economia da Capital ter real apoio. Essa cidade precisa ser para todos — ou vai acabar sendo para ninguém.