Ora, senhor Esacheu, Santa Casa não é trampolim político e a sua passagem por lá foi desastrosa!

O ex-presidente da Santa Casa de Campo Grande, Esacheu Nascimento, trava uma batalha hercúlea para retornar ao cargo, mesmo depois de abandonar a instituição com uma dívida milionária que hoje já soma mais de R$ 540 milhões e após ter renunciado à Presidência em duas ocasiões por interesses exclusivamente pessoais e políticos.
Parte dessa dívida vem de dois contratos de terceirização de serviços da Santa Casa firmados na sua gestão. Os serviços de gestão hospitalar e de gestão da lavanderia da Santa Casa acabaram gerando passivo milionário que ampliou o número de ações de cobrança em trâmite na Justiça Estadual contra o hospital.
As empresas contratadas foram a Eclin Gestão em Engenharia Clínica Ltda., de São Paulo, e a Grifort Indústria e Serviço de Apoio e Assistência à Saúde Ltda., sediada no Mato Grosso. Em ambos os casos, após a diretoria ter retomado os serviços por conta da falta de capacidade financeira para honrar os contratos, os custos mensais tiveram reduções drásticas.
Esse descalabro evidencia a incompetência de Esacheu Nascimento na gestão do hospital, para onde pretende voltar como presidente nas eleições que serão realizadas nesta quinta-feira (10), após ter renunciado duas vezes para disputar os cargos de deputado federal e prefeito da Capital.
Gestão hospitalar
A Eclin Gestão em Engenharia Clínica hoje cobra na Justiça (processo 0837997-05.2022.8.12.0001) pouco mais de R$ 990 mil em virtude de ter levado calote do hospital. A empresa assinou contrato com a ABCG no dia 2 de janeiro de 2019, ao custo de R$ 180 mil por mês, para prestação de serviços de gestão hospitalar.
Os problemas começaram a surgir no dia 5 de março de 2020, ainda na gestão de Esacheu Nascimento, quando o valor mensal pelos serviços não foi pago. Nos meses seguintes, até julho, o calote continuou, mesmo tendo o então presidente Heber Xavier – que sucedeu Esacheu Nascimento –, notificado a Eclin Gestão em Engenharia no dia 10 de junho de 2020, sob a justificativa de que a ABCG “não tem mais interesse na prestação dos serviços pactuados”.
Ao final, cinco meses deixaram de ser pagos, o que resultou numa dívida já atualizada de pouco mais de R$ 990 mil, agora cobrada por meio de ação ajuizada no dia 1º de setembro. Os títulos em nome da ABCG foram protestados em cartório pela empresa.
Prejuízo elevado
A empresa Eclin Gestão Hospitalar foi contratada para, além da gestão hospitalar, promover a manutenção de equipamentos de raio-x, monitores cardíacos, ventiladores e outros. Hoje, a Santa Casa gasta pouco mais de R$ 41 mil mensais para realizar com equipe própria os mesmos serviços contratados ainda em 2019 por Esacheu Nascimento, ao custo de R$ 180 mil mensais.
Se considerados os valores desembolsados pela ABCG nos 12 meses de 2019 e nos 7 meses de 2020 (cinco deles agora cobrados na Justiça), que é o período em que o contrato esteve em vigência, chega-se ao valor de R$ 3,4 milhões.
Caso a Santa Casa realizasse esses serviços por conta própria e no mesmo período (de janeiro de 2019 a julho de 2020), ao custo mensal de R$ 41 mil, teria desembolsado apenas R$ 697 mil, bem abaixo dos R$ 3,4 milhões de gastos originados com o contrato assinado por Esacheu Nascimento.
Lavanderia
Outro descalabro administrativo diz respeito à terceirização dos serviços da lavanderia, cujo contrato foi assinado por Esacheu Nascimento com a Grifort Indústria e Serviço de Apoio e Assistência à Saúde em 20 de março de 2018. O termo garantiu à empresa operar valendo-se tanto de colaboradores próprios como de funcionários da Santa Casa.
De acordo com o contrato, inicialmente a Grifort recebeu R$ 5,90 por quilo de roupa pesada e processada, valor que se manteve em 2019, subindo para R$ 6,40 em 2020. Em 28 de julho de 2020, o presidente Heber Xavier, que hoje é candidato a conselheiro fiscal na Chapa de Esacheu Nascimento, assinou termo de rescisão com a empresa sul-matogrossense.
Atualmente, a ABCG gasta R$ 5,64 por quilo de roupa pesada e processada, bem menos do que desembolsava quando Esacheu terceirizou os serviços, ainda em 2018. Quando da rescisão do contrato, as parte acordaram a existência de dívida total no valor de R$ 6.096.300,13, tendo esta sido parcelada em 12 vezes de R$ 508 mil.
Apenas duas parcelas foram pagas e a Grifort ajuizou (0844463-83.2020.8.12.0001) em dezembro de 2020 ação de cobrança para receber o restante, que somava, á época, R$ 5,7 milhões. No dia 6 de setembro passado, a ABCG fez acordo nos autos, pagando à Grifort o valor de R$ 5,8 milhões.
Eleição
Nesta quinta-feira, filiados da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande) reúnem-se a partir das 18h na sede do hospital para escolher os membros do Conselho de Administração que irão eleger a nova diretoria da instituição. Duas chapas irão disputar os votos dos conselheiros, uma delas encabeçada por Alir Terra e outra por Esacheu Nascimento, que em duas ocasiões renunciou ao cargo de presidente. Em sua chapa está Heber Xavier, que também abandonou a presidência em 2020.
A tentativa de Esacheu Nascimento e de Heber Xavier de voltarem à diretoria executiva do hospital deixou em alerta os associados, já que ambos abandonaram o cargo de presidente nos piores momentos enfrentados pela Santa Casa. No caso de Nascimento, a renúncia se deu por questões de interesse estritamente pessoal, após utilizar o hospital como trampolim político-eleitoral.
A primeira renúncia ocorreu em 2010, quando ele tentou se eleger deputado federal. A iniciativa fracassou e Esacheu chegou ao final da eleição com parcos 12.627 votos. Alguns anos depois, foi eleito novamente presidente da ABCG. Em março de 2020, no auge da pandemia da Covid-19, ele novamente renunciou ao cargo, desta vez para se aventurar como candidato a prefeito de Campo Grande. Teve votação pífia, ficando na 7ª colocação, com míseros 10.170 votos.