Presos na noite de ontem (06) em Assunção, capital do Paraguai, o ex-craque do Barcelona e da Seleção Brasileira, Ronaldinho Gaúcho, e seu irmão, Roberto de Assis, foram levados para a Agrupación Especializada da Polícia Nacional, uma instalação que recebe apenas casos de maior relevância. Um dos presos mais conhecidos do local foi o traficante brasileiro Marcelo Pinheiro Veiga, mais conhecido como “Marcelo Piloto”, um dos chefes do Comando Vermelho, que passou cerca de 11 meses detido lá, até ser enviado de volta para o Brasil, em novembro de 2018.
Como a cadeia para onde foram levados tem caráter especial, Ronaldinho e Assis não precisaram dividir cela com presos comuns. A Justiça paraguaia decidirá na manhã deste sábado (07) se revoga o pedido de prisão preventiva ou se os dois brasileiros permanecerão detidos no país. O advogado dos dois irmãos, Adolfo Marin, deixou a cadeia no fim da noite, mas não deu detalhes da situação:
– Ele (Ronaldinho Gaúcho) colaborou desde o primeiro momento – afirmou o advogado paraguaio, que foi breve também ao falar sobre a possibilidade de saída da prisão. – Não temos comentário a fazer sobre isso, amanhã vamos saber.
Ronaldinho Gaúcho e Assis prestaram depoimento ontem. A audiência com o juiz Mirko Valinotti, do Juizado Penal de Garantias de Assunção, durou cerca de seis horas. Depois de ouvi-los, o magistrado disse que não aceitou a tese do Ministério Público do Paraguai, que considerava os dois brasileiros livres de processo por terem colaborado com a investigação. Valinotti decidiu dar dez dias de prazo para o MP investigar o caso e dar seu parecer definitivo.
Apesar da decisão de Valinotti, Ronaldinho e Assis não tinham, naquele momento, impedimento legal para deixar o Paraguai, e planejavam voltar para o Brasil na madrugada deste sábado. No entanto, após o pedido do juiz Valinotti, o MP paraguaio decidiu solicitar a detenção dos dois irmãos, para impedi-los de deixar o país.
Ronaldinho e Assis tiveram os documentos retidos na quinta-feira (05), um dia depois da chegada ao Paraguai para participar de eventos promocionais. De acordo com o Ministério Público paraguaio, o uso de documentos públicos com conteúdo falso pode levar a uma pena de cinco anos ou multa. No entanto, o MP entendeu que Ronaldinho e Assis deram vários dados relevantes à investigação, quando ele e Assis admitiram o erro pelo uso dos documentos.
O MP considerou que ambos “foram enganados em sua boa fé”. A promotoria decidiu usar o “critério de oportunidade”, recurso no Código Penal paraguaio que deixaria livre de processo Ronaldinho e seu irmão. Ele é usado quando os suspeitos admitem o delito e não têm antecedentes criminais no país. A audiência desta sexta poderia ter resultado em uma pena de reparação social. A sugestão, no entanto, não foi aceita pelo juiz Mirko Valinotti.
A promotoria acusou três pessoas: o empresário Wilmondes Sousa Lira, apontado pela defesa de Ronaldinho como responsável pelos documentos falsos, e as paraguaias María Isabel Galloso e Esperanza Apolonia Caballero. O MP pediu a prisão preventiva de Wilmondes, que foi detido na quarta-feira, acusado por produção de documentos não autênticos, uso de documentos públicos de conteúdo falso e falsidade ideológica.
Na sexta, Wilmondes deixou sua cela no Palácio de Justiça e foi chamado várias vezes para a sala de audiência onde o juiz Mirko Valinotti ouvia Ronaldinho e Assis. Após o depoimento, o empresário foi transferido para um presídio próximo ao Palácio de Justiça, na região central de Assunção.
Os passaportes e cédulas de identidade paraguaios do ex-jogador e de Assis foram expedidos ao nome de María e Esperanza e depois adulterados para possuírem os dados de Ronaldinho e o irmão. Ambas foram detidas e compareceram à sede da Promotoria contra o Crime Organizado na noite desta quinta, mas permaneceram em silêncio. Elas foram acusadas de uso de documentos públicos com conteúdo falso, e ficaram detidas no Palácio de Justiça. Nesta sexta, María e Esperanza foram colocadas em prisão domiciliar.
Outras pessoas e funcionários públicos também estão na mira da investigação da promotoria paraguaia. O caso provocou várias trocas de acusações entre autoridades do país e a renúncia do diretor de Migração do Paraguai, Alexis Penayo. Nesta sexta, o Ministério do Interior anunciou María de Los Ángeles Arriola Ramírez, funcionária do ministério, como nova diretora geral de Migração do país.
Entenda o caso
Ronaldinho e Assis chegaram na manhã de quarta-feira (04) a Assunção para participarem de evento da ONG Fundação Fraternidade Angelical. Ambos também foram ao país a convite do empresário Nelson Belotti, dono de um cassino que tem o ex-jogador como embaixador. Os passaportes no desembarque chamaram a atenção das autoridades.
Os dois passaram a ser suspeitos por uso de documentos falsos, mas apenas horas depois, à noite, membros do Ministério do Interior e do MP locais fizeram uma operação de busca. Segundo o MP, passaportes, carteiras de identidade e telefones de R10 e Assis foram apreendidos no Yacht y Golf Club.