A Corregedoria Geral da Polícia Civil, sob o comando da delegada corregedora-geral Rosely Molina, vai tocar as investigações do assassinato do pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber, 48 anos, que foi morto dentro de uma ambulância no dia 23 de fevereiro pelo delegado da Polícia Civil Fernando Araújo da Cruz Júnior, que na época era titular da Deaji (Delegacia de Atendimento a Infância, Juventude e do Idoso) do município.
Segundo fontes ouvidas pelo Blog do Nélio, a DGCP (Diretoria Geral da Polícia Civil) considerou melhor que a própria Corregedoria-Geral da Polícia Civil assumisse as investigações para evitar qualquer tipo de problemas, já que o crime foi cometido por um delegado e teve a participação de um agente da Polícia Civil – o investigador da Polícia Civil Emmanuel Contis.
Além disso, a 1ª Vara Criminal de Corumbá prorrogou por mais 30 dias as prisões preventivas do delegado Fernando Araújo da Cruz Júnior e do investigador da Polícia Civil Emmanuel Contis. Ambos foram presos a pedido da Corregedoria, por meio de ação entre a DEH (Delegacia Especializada de Repressão a Homicídio) e do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Bancos, Assaltos e Sequestros).
Fernando está recolhido no Garras e Contis está nas celas da 3ª Delegacia de Polícia, ambas as unidades em Campo Grande. A dilação do prazo da prisão foi necessária para que a Polícia pudesse juntar mais provas, já que as testemunhas do caso, especialmente na Bolívia, se recusam a contribuir com as investigações porque temem represálias.
Reconstituição
Na noite de 8 de abril, a Corregedoria Geral da Polícia Civil fez, em Corumbá (MS), a reconstituição do assassinato do pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber. “Nós contamos com a participação de várias testemunhas e agora os policiais estão ouvindo e refazendo as oitivas. O delegado e o investigador continuam não colaborando em nada e agora nossa apuração é para esclarecer o que eles faziam antes, durante e depois do crime. A equipe considerou boa a ação, já que acrescentou elementos. Tudo é muito importante para o conjunto probatório”, afirmou a delegada corregedora-geral da Polícia Civil, Rosely Molina.
Além da corregedoria da instituição, policiais da Delegacia Especializada em Repressão à Homicídios (DEH), Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetrat), delegacia regional, além do Instituto de Criminalística participaram da reprodução simulada do crime. “A equipe considerou boa a ação, já que acrescentou elementos e esclareceu circunstâncias do crime. Tudo é muito importante para o conjunto probatório, aliada as diligências”, afirmou a delegada Rosely Molina, explicando que, ao todo, foram três horas de trabalho.
Fernando Júnior, que era titular da Deaji (Delegacia de Atendimento a Infância, Juventude e do Idoso) de Corumbá, já foi afastado do seu cargo em decisão publicada no Diário Oficial do dia 4 de abril. Ele está preso no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) depois da operação deflagrada em Corumbá, em que um policial civil também foi preso.
A decisão foi da Corregedoria Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul e, pela decisão, o delegado teve de entregar sua carteira funcional, suspensão de senhas para acesso a banco de dados da administração pública, além de sua arma também ser recolhida. O delegado foi preso na casa onde vivia com a família, localizada no cruzamento das ruas Dom Aquino e 15 de Novembro, no Centro de Corumbá, onde também foram apreendidos vários objetos.
Além de Fernando, a sua esposa foi detida no local e colocada na viatura durante cumprimento de mandado de busca e apreensão. Ela ainda tentou fugir, mas teria sido contida pelo delegado do Garras, Fábio Peró, que teve a mão mordida por ela. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial.
Em outro imóvel, no cruzamento das ruas Cabral com a Firmo de Matos, a equipe fez busca e apreensão. O morador da residência, também policial civil, foi levado para prestar depoimento, depois que foram realizadas buscas no imóvel e também no comércio dele, que fica em frente à casa.
O nome dele ainda não foi divulgado. A ação foi deflagrada pela Corregedoria da Polícia Civil com apoio da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) e do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros).
Entenda o caso
Segundo as investigações, o delegado não foi apenas o autor dos disparos que mataram Alfredo dentro da ambulância, mas também foi o responsável pelas facadas horas antes. A história começou durante às eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia, onde o sogro de Fernando, Asis Aguilera Petzold (o atual prefeito da cidade de El Carmen), concorria ao cargo.
Alfredo, que apesar do envolvimento com o narcotráfico, é conhecido como pecuarista na região, participou das eleições e foi para a festa de um amigo. No entanto, ao fim do dia, voltou ao local em que as votações aconteciam. Lá, encontrou a esposa de Fernando e a filha de Assis, Sílvia Aguilera, 31 anos. Conforme as investigações, a mulher já foi casada com Odacir Santos Corrêa, ex-sócio de Alfredo, preso pela Policia Federal durante a Operação Nevada, em 2016.
Ao ver a mulher, Assis teria cobrado dívidas do ex-marido e ameaçado os filhos dela de morte. Os dois discutiram e a confusão foi separada por Assis, que ao lado de Fernando, sentou-se em uma mesa para conversar com Alfredo. Se aproveitando do momento, o delegado teria levantado, se armado com uma faca e desferido pelo menos três golpes nas costas de Alfredo. O homem foi levado para um hospital local, mas devido a gravidade transferido para Corumbá.
A ambulância, então, saiu da cidade boliviana em sentido a fronteira brasileira. Já em território sul-mato-grossense foi fechada por uma caminhonete preta, cabine simples. O motorista desceu do veículo, foi até a ambulância, abriu a porta e atirou quatro vezes. Três tiros atingiram a cabeça da vítima, um deles o tórax. Sem ter o que fazer, o motorista voltou com o corpo para o país vizinho. Principal suspeito do crime na Bolívia, Fernando também se tornou alvo da polícia brasileira.
Detalhes como o veículo usado pelo pistoleiro, do mesmo modelo do carro de Fernando, e até a arma, foram ligando as investigações ao delegado. Ele chegou a ser ouvido, mas afirmou ter entregue sua caminhonete numa dívida e que não se lembrava o nome da própria esposa.
Coação
Durante as investigações, o motorista e o médico da ambulância também foram ouvidos. Um deles, no entanto, Sílvio Monteiro, se tornou alvo de falsas denúncias de sequestro. Convidado para prestar depoimento, Sílvio, que no dia dirigia a ambulância, levou a polícia uma carta narrando o que havia acontecido no dia do crime. No entanto, na noite do mesmo dia, voltou à delegacia pedindo para modificar o texto.
Sem ter como fazer isso, pediu para fazer um boletim de ocorrência de preservação. O caso foi registrado e no dia seguinte a defensoria pública de Puerto Suárez denunciou a Polícia Federal de Corumbá pelo sequestro de Sílvio, que nunca aconteceu. A polícia, no entanto, encontrou ligações entre o motorista e a esposa de Fernando, o que leva a acreditar que toda a situação foi montada para despistar e atrapalhar as investigações que incriminavam o delegado. No dia 29 de março, equipes da Polícia Civil deixaram Campo Grande para cumprir mandado de prisão contra o delegado.
Na casa do delegado foram apreendidos vários materiais. Além dele, um policial civil também foi preso pelos colegas durante a operação. Informações de policiais que integram outras forças de segurança e atuam na cidade são de que o nome do delegado foi citado durante as investigações da morte do boliviano. A polícia ainda não detalhou os motivos da prisão.